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Reencontros… (XXXVII)


“E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não
vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
que vós não podeis visitar nem mesmo em
sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não
procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se
demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais
setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos
estica com Sua força para que suas flechas se
projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro
seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama
também o arco, que permanece estável.”
(Gibran Khalil Gibran)

Conversando com meu filho…

“23 de fevereiro de 2002…

Filho, é muito engraçado vê-lo deitado ao lado do seu pai em nossa cama.
Seu pai é um homem bem alto, tem 1,95 de altura e você com seus 52 cm parece um “montinho” mexendo-se para lá e para cá e se contorcendo por causa das suas cólicas.

Mesmo assim, você consegue dormir, mas de tempos em tempos contrai-se todo de dor.
Dá uma pena danada, mas nós não temos muito o que fazer a não ser ajudá-lo com massagens e medicação.

Você é muito esperto.
Parece reconhecer a voz do seu pai e presta muita atenção quando ele começa a conversar com você para contar histórias engraçadas.
Você arregala seus olhinhos e fica “hipnotizado” ouvindo atentamente o seu pai e nos sorri como se percebesse tudo à sua volta.

Quando te coloco no berço eu o acomodo bem no meio dele porque você vai se empurrando com os pezinhos até chegar na cabeceira…
Acho graça nisto é como se estivesse aprendendo a engatinhar.

Desde que chegou em casa, seus banhos foram dados pelo seu pai.
Fico insegura de pegar você para dar banho e colocá-lo na banheira, mas ontem, tive coragem e dei o primeiro banho em você.

Quando lavamos suas costas, você enrijece suas pernas e fica todo durinho.
Nos seus primeiros banhos, quando a vó Aninha estava aqui, ela observou em você duas manchinhas de nascença: uma na sua mão e outra no seu bumbum e eu brinco que foi porque eu tive vontade de comer chocotone e não achava de jeito nenhum!

Tudo é novidade para nós dois.
Conversamos, nos olhamos enquanto te amamento, você ri, eu também.

Peço a Deus que nos proteja e que neste encontro possamos ser amigos, companheiros de viagem de uma vida inteira.”

Lições que aprendi…

Às vezes não consigo colocar no papel tudo o que sinto, tampouco memorizar tantos detalhes das situações que eu vivi.

Mesmo tendo anotado estas linhas fico sem registrar outras tantas vivdas com meu filho.
Antonio crescia lindo, forte e saudável e eu ficava sofrendo com ele quando tinha cólicas sem saber o que fazer para ajudá-lo.

Acordava de madrugada para amamentá-lo e sentava numa poltrona colocada no seu quarto para deixar-me confortável enquanto o alimentava.

Meus pensamentos de mãe eram compartilhados com ele.
Desde cedo o fazia meu amigo sem saber direito como de verdade ele seria.

Antonio quando menor surpreendeu-me dizendo que já me conhecia, mas que eu tinha meus cabelos compridos, que eram vermelhos (penso que ruivos) e que eu usava uma roupa branca.

Disse-me que seu pai quase sempre estava ausente porque ia para a guerra e que na cozinha da nossa casa o fogão era diferente daquele que tínhamos pois era de pedra e fazia fogo em cima…
Imaginação de criança, lembranças desconhecidas por mim.

Da mesma forma surpreende-me pela sua maturidade.

Outro dia levando-o para a escola, ao entrar no carro bateu a porta com toda força e já me olhando para levar uma bronca desculpou-se:

“ – Mãe, foi sem querer.”
Pedi que tivesse mais cuidado e brinquei dizendo que quando eu fosse velhinha iria descuidar-me da porta e aconteceria o mesmo.

Mais do que depressa ele respondeu:
“- Mãe, eu sou um cavalheiro, quando você for velhinha, todas as vezes eu abrirei a porta do meu carro para você entrar!”

Coisas de mãe e filho, de amigos, de parceiros preocupados um com o outro nesta caminhada.
Que o bom Deus nos abençoe.

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