Síndrome de Down… Uma lição de amor… Para Ana Bravo Penas
“Eu tenho tanto
pra lhe falar
mas com palavras não sei dizer…
Como é grande o meu amor por você!”
(Do Rei, para algumas princesas)
Conversando com meu filho…
“23.04.2002, são 16h35min
“Estamos curtindo um som da natureza…É barulho de golfinhos e você parece gostar. Pelo menos ficou quietinho prestando atenção…
Às vezes você parece conversar comigo a contar o que acabou de conhecer, ver ou aprender.
Você resiste ao sono feito um guerreiro, como se dormir fosse perder coisas que você insiste em saber.
Sinto que me olha com amor e carinho e num esforço chupa seu polegar para tentar dormir. Ao mesmo tempo segura uma fralda, talvez para sentir o cheiro do leite que vivo limpando da sua boca ou do meu peito. É incrível como você resiste ao sono. Você passa sua mãozinha na cabeça como se dissesse a si mesmo para dormir um pouco, descansar.
A música suave é a mesma que ouvíamos quando eu estava grávida. Era gostoso deitar no sofá e ouvir o barulho da água e dos golfinhos.
Sabe, filho, se morássemos à beira mar, se isto fosse possível, eu gostaria de ter um “amigo” golfinho. São animais lindos, dóceis, fortes e inteligentes, além de muito brincalhões…Um dia você irá conhecê-los.
Filho, sua mãe adora o mar, a praia, ouvir e ver o barulho das ondas quebrando-se em cristas de espuma branca que parecem chantily!
Para mim, tudo é lindo à beira mar: o sol refletido nas águas, o calor da brisa, o vento que desmancha os cabelos, a pele bronzeada, o colorido dos guarda-sóis, até as pessoas ficam mais bonitas não é mesmo? (suspiro)
Por fim você dormiu, acho que embalado pelo meu pensamento praiano. Volto a escrever depois. Beijos meu lindo.”
Lições que aprendi com Ana, um golfinho que veio do céu…
Ana nasceu com alguns problemas respiratórios e com um coraçãozinho um pouco frágil. Do centro cirúrgico foi levada à UTI neonatal para receber os cuidados que a sua situação delicada exigia. Logo que soubemos do seu nascimento ficamos ansiosos para visitar seus pais, que amamos, e conhecê-la.
No dia da visita, saí para comprar um presente para a mamãe da Ana, porque dias antes, eu havia feito uma “sondagem” para saber o que a Ana não tinha ganhado ainda, mas a Ana já tinha tudo, tudo o que precisava e eu fiquei assim, sem saber o que dar de presente a ela.
Então pensei, que ao invés da Ana, naquele dia a mãe dela é quem poderia sim receber um mimo nosso.
E foi o que fiz.
Quando cheguei em casa com o presente todo embalado, lembrei que faltava um cartão. Pensei: “Tenho papel, canetinhas e lápis de cor… Vou fazer um cartão eu mesma.” De novo pensei, pensei, no que escrever, no que desenhar e daí me deu um “click” como esses de fotógrafo, sabe? (risos) Desenhei uma menininha de braços abertos como a receber os pais tão amados e que por tanto tempo esperaram por ela e ela por eles também, só que eles nem sabiam disto ainda.
Mas no desenho que imaginei ela tinha que ser da cor do chocolate, cabelos de “molinha de binga” , com cara de sapeca que eu sei que ela vai ser e muito, muito feliz. “Viajei” naquele tempinho que tive para colocar todas as cores e flores que minha imaginação permitia. E assim fui desenhando a Ana como se eu já a conhecesse. E olha, nem apresentada tínhamos sido ainda!!
Pintei, colori aquele pedaço de papel com uma alegria ímpar, como se eu fosse criança no jardim de infância com meu pote de ouro cheio de lápis de cor e canetinhas pulando na minha frente em cima da mesa da cozinha! Foi uma festa para minha alma naquele momento desenhar e pintar essa garotinha que eu “achava” que nem conhecia ainda!
Mas Deus nos surpreende o tempo todo, não é mesmo? E continuei… “ Mas vou escrever o quê, para minha nova amiguinha, com todo este desenho colorido saltando fora do papel?” Lembrei da mãe da Ana, do pai da Ana e na minha cabeça veio um recado, um pedaço de uma música, que escrevi assim na “capa” do cartão:
“Nem mesmo o céu, nem as estrelas,
Nem mesmo o mar e o infinito,
Não é maior que o meu amor,
Nem mais bonito…”
Ainda feito criança, enchi as palavras com estrelinhas, peixinhos e um céu bem azul…
E depois, com o desenho que eu fiz da minha amiguinha, dentro do cartão, de braços abertos, escrevi:
“Como é grande o meu amor por vocês!”
(Como se ela mesma estivesse dizendo aos seus pais). Ficou muito fofo, e eu tinha certeza que a nova família iria gostar. Meu coração ficou assim, bem feliz, sabe?!
A Ana, eu não sei ainda, mas um dia ela vai me dizer!
Só sei que do lado de cá, te mando um beijo Ana, fique bem logo porque minha criança aqui dentro está com saudade e ansiosa para brincar com você!*
Deus te abençoe, minha pequena guerreira.
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Ana já está com quase 3 meses. É filha de amigos nossos que amamos e queremos estar sempre juntos. É linda, uma pequena guerreira, uma garotinha que trouxe luz, vida e alegria para todos nós.
Para mim, crianças como a Ana são na terra o que os golfinhos são no mar.
Ana, Kraw e Marile
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Conheçam o blog http://www.meufilhotemdown.com/
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