Síndrome do Pânico, quero contar um pouco sobre isto…
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. (Chico Xavier)
Conversando com meu filho…
“02 de fevereiro de 2002…
Oi meu filho,
ontem foi aniversário do seu pai.
Ele fez 31 anos e nossa diferença de idade é de 10 anos…Quer dizer quase, porque, eu ainda farei 41 em outubro.
Não sei o que ele tem nestes últimos dias.
Anda quieto e depressivo o que torna difícil até para conversarmos.
Mas paciência, o amor também tem destas coisas.
Fico muito triste quando ele fica assim.
A sensação que tenho é que ele vive insatisfeito com tudo, nada parece estar bom ou parece que ele não consegue ver o lado bom daquilo que tem: saúde, emprego, uma casa legal, esposa, filhos perfeitos.
Quando isto acontece, fico preocupada por achar que sempre lhe falta algo e que nunca poderá ser preenchido. Mas vai passar…
Mas vamos falar de você, que está cada dia mais lindo, grande e gordinho.
Uma pena que suas cólicas não te deixam em paz.
Ouvi dizer que são 3 meses assim porque são meses de adaptação, tanto para você quanto para mim.
Haja coração, filho.
Na verdade, você estava todo acomodado e quentinho num lugar que cabia só você e seus pensamentos.
De repente, você é colocado no mundo, com barulho e um espaço enorme que até você se dar conta leva um tempo.
Observo você e parece que seus olhos serão claros, aliás, todo bebê nasce com os olhos azuis, mas ainda é muito cedo para saber.
Enquanto te observo, peço a Deus para que seja uma pessoa de paz, que tenha equilíbrio e um bom caráter.
Agora já posso vê-lo, tocá-lo e aos poucos vou me adaptando à sua linguagem.
Suas caretinhas engraçadas, seu riso de satisfação quando acaba de mamar, suas e minhas descobertas.
Nossa casa fica bem próxima a um cruzamento de linha férrea e lá fora passa o trem apitando.
Tem horas que o maquinista parece um doido fazendo o trem apitar tanto que dá para acordar os fantasmas.
Mas você nem se abala, continua a dormir tranquilo e calmo.
Se eu pudesse, meu filho, ficaria todo este ano sem trabalhar só para cuidar de você.
Mas faço parte de uma geração diferente da sua avó e penso que será outra adaptação a nossa com meu retorno ao trabalho e você ao berçário.
O amor que sinto por você é diferente de qualquer outro sentimento. Quero estar ao seu lado, te proteger, te ajudar, te dar apoio e segurança.
Amanhã, se não chover, quero te levar à capela do Bosque do Papa e rezar aos pés da Nossa Senhora.
Quero ir com você para agradecer e pedir a ela proteção para todos nós.
Ela é a nossa bela e boa companheira nesta jornada que faremos juntos.
Gostaria que não sofresse muito com essas cólicas e peço a Nossa Senhora para que possa tirar com as mãos essa dorzinha que te incomoda.
Hoje, filho, estou triste com seu pai, às vezes não sei o que fazer e espero também poder conversar com ele sobre o que sinto.
Te amo, meu filho, você é meu tesouro, um anjo que Deus colocou no meu caminho.
Que Ele nos proteja sempre.
Agora, durma bem.”
Lições que aprendi…
Emociono-me ao editar o Diário para publicar este tema.
Lembro-me que durante minha gravidez precisei lidar com os altos e baixos do Alexandre em consequência de um transtorno chamado Síndrome do Pânico.
Embora controlado com medicação, havia momentos em que os sintomas eram mais fortes do que ele poderia suportar.
Muitas vezes me “despencava” do trabalho por conta dos seus chamados e quando eu chegava já estava sentindo-se bem, o mal estar já havia passado.
Soube disto desde o início do nosso namoro e tentava ajudá-lo da forma que eu sabia, ou melhor, que eu achava que sabia.
Durante a nossa fase de namoro aproximei-me da Rô e nos tornamos amigas.
Ela também passava pelo mesmo problema, também era portadora da Síndrome.
Foi ela quem ajudou-me a entender o que fazer e o que não fazer com um panicoso…
Lembro-me das inúmeras conversas que tivemos a respeito deste assunto, dos muitos conselhos que me deu, do quanto sua ajuda foi importante para mim e nem tenho palavras para descrever ou explicar na amiga que se tornou… Até hoje e até sempre.
Alexandre não dirigia para lado nenhum a não ser em minha companhia.
Dependia de mim para levá-lo e buscá-lo fosse onde fosse.
Em alguns momentos suava frio e dizia que seu coração disparava…
Eu começava a conhecer alguns dos sintomas da síndrome de perto, convivendo com ele.
Lembro-me que quando eu estava de quase nove meses, estudava à noite e pedia que me levasse e buscasse à faculdade porque achava que não era seguro naquele estado…
Ele só me olhava com uma cara de “não consigo”, de “sinto muito” e eu não tinha o que fazer.
Seus períodos de depressão, sua apatia em alguns momentos faziam-me sentir sozinha.
Tive dias de ameaçar ir embora, de querer desistir de tudo e em algumas situações “escapava” para a casa dos meus pais com o Antonio.
Cansei de reclamar do Alexandre para minha família e de expor minhas angústias e meu sofrimento por não saber lidar com os efeitos provocados por aquela circunstância.
No fundo eu também me vitimizava e encontrava acolhida onde eu ia buscar.
Não adiantava brigar, espernear, ameaçar, insistir ou impor qualquer coisa…
Aprendi que não podia fazer por ele o que ele não conseguia fazer ou resolver por si só, isto não contribuiria em nada para melhorar seus sintomas.
Aprendi a buscar ajuda, a me informar e conhecer um pouco mais sobre o problema.
E hoje, olhando para o que ficou para trás acredito que vencemos.
Três anos depois do nascimento do Antonio, Alexandre conseguiu dirigir sozinho dentro da cidade e sem a minha companhia.
Hoje consegue levar sua vida normalmente sem medicação e não apresenta os sintomas há tempos.
A única sequela, se é que podemos considerá-la, é a de não conseguir dirigir ou viajar para outra cidade sozinho.
Quantas vezes, ao conversar com minha irmã, eu a colocava em desespero a respeito do que eu vivia.
Quantas vezes desenhei minha situação da pior forma possível para minha família e distorcia a imagem do meu marido a ponto de tirarem suas conclusões e me aconselharem a sair dela para não adoecer.
Aprendi que eu também precisaria mudar isto.
Ninguém entendia que se eu reclamava tanto porque é que ainda permanecia onde estava.
De verdade, na época nem eu sabia o que me mantinha ali…
E depois, em análise enxerguei que eu também tinha um ganho com isto: eu era a vítima, merecedora de todas as atenções e olhares da minha família e consciente ou não, era tudo o que eu queria.
Ao refletir sobre o que aconteceu entendi que ou você aceita o que escolheu e procura aprender a conviver com sua escolha de uma forma emocionalmente saudável, ou sai dela.
Demorei para aprender tudo isto, demorei para mudar minha forma de conduzir meus problemas e de como filtrá-los antes de “esparramar” para a família.
Aprendi que Alexandre é o homem que escolhi para viver e caminhar ao meu lado, que o amo a cada dia mais e mais.
Tenho aprendido a respeitar os seus silêncios, a mudar meu tom de voz para falar com ele e esperar o momento certo para conversar assuntos mais “doídos”.
Tenho mil defeitos, não sou perfeita e quando penso em reclamar dele para alguém lembro-me de uma historinha onde uma mulher sempre culpava Deus por não lhe dar um parceiro melhor… E Deus lhe respondeu:
“- Pode não ser o melhor marido que você gostaria de ter, mas foi o melhor marido que encontrei para você.”
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Sei que o texto está longo hoje e falaria muito mais sobre isto, mas pego carona num pequeno trecho de um texto de Joanna de Angelis para nossas reflexões.:
“No imenso painel dos distúrbios psicológicos o medo avulta, predominando em muitos indivíduos e apresentando-se, quando na sua expressão patológica, em forma de distúrbio de pânico. (…)
Bem canalizado, o medo se transforma em prudência, em equilíbrio, auxiliando a discernir qual o comportamento ético adequado, até o momento em que o amadurecimento emocional o substitui pela consciência responsável.(…)
O desconhecido, pelas características de que se reveste, pode desencadear momentos de medo, o que também ocorre em relação ao futuro e sob determinadas circunstâncias, tornando-se, de certo modo, fator de preservação da vida, ampliação do instinto de autodefesa.
Mal trabalhado na infância, por educação deficiente, o que poderia tornar-se útil, diminuindo os arroubos excessivos e a precipitação irrefletida, converte-se em perigoso adversário do equilíbrio do educando.
São comuns, nesse período, as ameaças e as chantagens afetivas: Se você não se alimentar, ou não dormir, ou não proceder bem, papai e mamãe não gostarão mais de você… ou O bicho papão lhe pega, etc.
A criança, incapaz de digerir a informação, passa a ter medo de perder o amor, de ser devorada, perturbando a afetividade, que entorpece a naturalidade no seu processo de amadurecimento, tornando o adolescente inseguro, e um adulto que não se sente credor de carinho, de respeito, de consideração.
A deformação leva-o às barganhas sentimentais – conquistar mediante presentes materiais, bajulação, anulando a sua personalidade, procurando agradar o outro, diminuindo-se e supervalorizando o afeto que anela.”
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