Conversando com a Celi…
Socorro pai, socorro mãe.
Perdoem-me por ser repetitiva em mais um tema.
Mas a situação é muito séria, pelo menos para mim e para uma porção de educadores que estão angustiados nas escolas.
Pai e mãe, por favor, não terceirizem a educação dos seus filhos.
Não deleguem para os avós, tios, professores ou amigos a parte que lhes cabe na educação dos seus rebentos.
Nenhum amor ou cuidados no mundo serão mais importantes para um filho do que os recebidos do seu pai e da sua mãe.
Salvo as exceções de filhos que perderam seus pais ainda em tenra idade.
Do contrário, nada suprirá essa carência de nutrientes afetivos.
Os filhos poderão até buscar isto fora do seu meio familiar, em outra família ou outros tutores, mas seu inconsciente traçará um universo paralelo, cheio de comparações, questionamentos e desejos infindáveis por este amor.
Pela música que não se cantou ao dormir, pela história que não se leu ao deitar, pela comida que só ele, ou ela gosta e sabe apreciar e que não foi preparada.
Pelo passeio que esteve ausente, pelas comemorações na escola que não pode participar.
Escrevo porque recentemente participei de uma reunião de pais na escola do meu filho, e desde que me conheço por mãe nem eu ou, quando não me era possível, nem o meu marido deixamos de participar de um destes eventos.
Na reunião, como em quase todas as outras que participei, bate-se sempre na mesma tecla.
Escuto o apelo angustiado dos professores aos pais que cuidem da educação dos seus filhos em casa!
Para os pais que ainda não sabem, a escola é uma apoiadora da educação que passamos aos nossos filhos.
A escola lhes dará o conhecimento dos livros, os fatos históricos que marcaram o mundo, a vida, os nomes de alguns expoentes aos quais muitos seguiram.
Vai cuidar de nos avisar sobre um mal comportamento, vai cuidar de nos informar se perceberem algum desvio de conduta, vai sim, preocupar-se com o bem estar dos nossos filhos e não perderá o foco para aquilo que veio: Educação Histórica, Artística, Cultural dos Povos, das Civilizações, do Meio Ambiente, da Informática…
Enfim, perco a conta da quantidade de assuntos que permeiam este universo.
E nós, pais, alguns já viciados em tecnologia, temos a obrigação de desgrudar nossos filhos dos celulares enquanto eles estiverem no período da manhã, tarde ou noite recebendo este cabedal de conhecimento na escola!
Não iremos ligar, pelo amor de Deus, para os nossos filhos quando eles estiverem em sala de aula!!!
Para que ele ou ela interrompa a aula, na sua florescente arrogância a dizer sem a mínima educação ou respeito com o professor:
“-É meu pai.” ou “É minha mãe!”
E atende, com o queixo erguido, num ar de solene soberba.
Perdoem-me…Mas que urgência foi esta mesmo que provocou esta ligação?
Ouvi isto na reunião e fiquei INDIGNADA!
Sim, com todas as letras maiúsculas.
Perdoem-me os que (custo a acreditar) fazem isto, mas passa do bom senso e torna-se ridículo!
Para quê levar um celular na sala de aula, pai e mãe?
Digam-me 3 motivos convincentes para isto.
A escola não disponibiliza telefone?
A escola não poderá incumbir-se de avisá-lo se houver algum problema?
Ou você só está ligando para dizer onde irá pegá-lo quando a aula terminar.
Ali, naquele mesmo lugar onde o deixou antes da aula começar?
Se no ambiente escolar há uma repetição do comportamento que estes alunos fazem em casa, fico com pena deste pai e desta mãe, juro que fico, porque estão sem nenhuma autoridade, ou com autoridade irrelevante sobre seus filhos. E usando a linguagem deles: “estão sem moral”.
Em casa, nossos filhos precisam aprender valores sobre respeito, precisam aprender a dizer por favor, com licença, obrigado e sinto muito, para a mãe, para o pai, para o irmão!
Precisam aprender a esperar a sua vez de falar ou de interromper uma conversa e entender que ainda não são adultos e nem tem maturidade suficiente para ouvir dos pais as suas mazelas, seus problemas ou crises existenciais…
E o mais importante disto: que em todos os lugares deste mundo existem normas, regras, regulamentos que deverão ser seguidos um dia ou respeitados.
Nunca vi um soldado marchando de chuteiras em pleno Sete de Setembro.
Nunca vi um jogador de futebol, numa final de campeonato, marcando um gol de cabeça com um capacete do exército.
É disto que estou falando e não das divergências de ideias ou ideais.
Concordar ou não concordar rende um outro capítulo.
A transgressão existe desde que o mundo é mundo, mas as regras também.
Nossos filhos precisam aprender sobre hierarquia. Ahhh! O que é isto?
Aprender que nós somos os pais e eles são os filhos.
Viemos primeiro, ou estou enganada tendo a crise do ovo e da galinha?
E que isto futuramente não vire a Síndrome da Família.
Pais, ocupem seus lugares, filhos aprendam a ficar nos seus.
Até que isto mude já seremos avós.
Respeitem-se. Nossos filhos não são nossos terapeutas, são nossos filhos.
Nossos filhos não são amigos da balada, continuam sendo nossos filhos.
Poderemos acompanhá-los eventualmente em alguma ocasião, porque não, mas não podemos perder a noção do ridículo.
Já fizemos isto antes, ou não? Já tivemos nossa turma, nosso grupo, nossa tribo.
Nosso papel é orientar, cuidar, proteger sem exageros ou afetações.
Porque do contrário criaremos filhos sem autonomia e dependentes de nós para o resto da vida.
O que eu, como mãe, procuro ensinar ao Antonio é que ele tenha autonomia, responsabilidade e respeito.
Peço a ele que, por favor, não abra a geladeira da casa de nenhum amigo sem pedir para a mãe dele.
Que não faça nada até que esta dona ou dono da casa permita, porque aquela não é a sua casa, é a casa do seu amigo e ali existem as regras daquela família e de como aquela família funciona.
Uma outra família mora ali com costumes e hábitos diferentes dos nossos.
Brinquedos, presentes, poderemos comprá-los onde quisermos e quando a situação financeira permitir.
Mas não poderemos comprar o tempo que não passamos com nossos filhos.
Não poderemos comprar as caminhadas ou passeios de bicicleta que não fizemos com eles. Nem aquele lindo dia de sol que deixamos de compartilhar.
Não há dinheiro que chegue para o analista mais capaz se não fizermos a nossa parte dentro da nossa casa.
Não é fácil ser mãe, não é fácil ser pai e atualmente, também, não deve ser fácil ser filho com tantos pais terceirizadores assim.
Não sou perfeita, não tenho uma vida perfeita.
Caminho dentro das minhas limitações.
Eu tento, eu busco ajuda, eu divido minhas angústias com outros pais ou outras mães.
Eu vou atrás do terapeuta, do médico, do psicólogo, do professor, de amigos, quando eu não estou dando conta.
Eu aprendi a pedir ajuda.
Não deleguem seus filhos a terceiros, não os tratem como os funcionários do seu departamento, nem como o seu colega de trabalho.
Que correria do seu dia pode ser mais importante do que a vida do seu filho?
Abrace, beije, caminhe com ele, converse, escute-o, vou repetir esta palavra, que de todas eu acho a mais importante: ESCUTE-O, aprenda a ouvir, a ler seus gestos e entender os seus sentimentos.
Quantos anos ele tem? Qual sua cor preferida? Qual a música que mais gosta? Que livros interessa-se para ler?
Pare, olhe, escute, aprenda!
Não o interrompa com suas histórias do tipo:
“- Ah! mas na minha época era assim…!”
Porque a época que você vive é hoje é agora.
Aquela fez parte das suas experiências e não das dele, que eu tenho fé e esperança que daquelas, vocês pai e mãe tirarão uma lição, um aprendizado maior, mais maduro, com mais sabedoria para passar ao seu filho.
Este é um desabafo de mãe!
E se eu estiver exagerando ou delirando, chacoalhem-me, acordem-me, por favor!
Perdoem-me se são devaneios.
Mas junto-me aos educadores e faço este apelo novamente, um pedido de socorro, um alerta, um sinal, qualquer coisa pelas famílias do mundo, pela minha, pela sua família, porque são nelas que onde tudo o que há por aí começa.
Oro por isto.
Aos ateus, desejo paz e sabedoria.
Aos que creem em Deus, que Ele nos abençoe.
Que assim seja.
Obrigada por sua companhia.
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Seja bem-vindo, seja bem-vinda.