O aumento de carga horária traz a possibilidade de desenvolver aspectos humanos que dificilmente são abordados pelos sistemas de ensino tradicionais, que priorizam os aspectos intelectuais, em detrimento do desenvolvimento de outras inteligências. Uma escola de tempo integral pode usar essa oportunidade para desenvolver um “Ser Integral” ou pode ser apenas uma continuidade de um sistema concebido há mais de um século e que mostra sinais claros que não está adaptado às necessidades contemporâneas. É necessário ter clareza de que educação integral é diferente de educação em tempo integral.
Nossa sociedade vive uma época de profundas transformações impulsionadas pela globalização, crises econômicas, revolução tecnológica, mudanças nas competências profissionais e pela crise socioambiental. Diante desse contexto torna-se necessário que os sistemas de ensino se sintonizem com a realidade em que estamos vivendo e tenham como missão preparar essa geração para enfrentar esses novos desafios. Os paradigmas que orientaram as gerações anteriores, baseados no pensamento cartesiano, linear e determinista, não conseguem mais explicar o mundo atual.
Diante dessa crise estrutural da educação surge a necessidade de desenvolver mais do que apenas o aspecto intelectual, priorizado pela maioria das instituições educacionais. Torna-se necessário educar para a sustentabilidade, para as novas competências exigidas pelo mundo do trabalho, para o exercício pleno da cidadania e para lidar com problemas que nunca foram resolvidos. É necessário educar para a vida. A ampliação da carga horária traz a possibilidade do desenvolvimento de outras habilidades, que fogem de uma abordagem intelectual, como a capacidade de trabalhar em equipe, a autonomia, o autocontrole, a criatividade e a autoestima.
Diversas instituições e educadores, que estão atuando com a educação integral, mostram resultados sólidos e a diminuição dos efeitos colaterais do sistema de ensino predominante, como a indisciplina e a desmotivação dos alunos. Sugiro que os leitores vejam o filme A Educação Proibida, que mostra profundas falhas de concepção no sistema de ensino atual e traz diversos exemplos bem-sucedidos de escolas que educam para o desenvolvimento integral do indivíduo.
A implementação da educação integral traz desafios que vão além das necessidades de infraestrutura, alimentação e adequação do projeto político pedagógico. Para que essa transformação se amplie e gere um novo paradigma educacional, é necessário que os educadores sejam capacitados de forma diferenciada para atuarem na concepção e execução dessa abordagem. Como disse Paulo Freire, “Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha”.
>> Este artigo foi escrito por Luciano Diniz, coordenador geral da Associação Gente de Bem.
>> Quer saber mais sobre educação, mídia, cidadania e leitura? Acesse nosso site! Siga o Instituto GRPCOM também no twitter: @institutogrpcom.