Zumbis não são monstros de filmes de horror, mas críticas sobre como a sociedade ocidental está em decomposição desde a década de 1960. Cada país adapta essa alegoria a sua realidade. O diretor capixaba Rodrigo Aragão decidiu mostrar que nossos mortos-vivos são sujos e deprimentes em seu Mar Negro, exibido pela primeira vez nessa sexta-feira (3) no Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre.
Como em Mangue Negro, a trama acompanha uma comunidade de pescadores que enfrenta uma epidemia zumbi provocada por uma contaminação marinha. Dessa vez,no entanto, Aragão vai mais longe, pois coloca sereias, demônios e monstros gigantes para devorar humanos.
Mar Negro se aproveita de um núcleo de personagens coadjuvantes de A Noite dos Chupacabras (2011), o que torna o filme uma espécie de sequência – há uma auto-referência, inclusive. O protagonista, se é que dá para defini-lo dessa maneira, é Albino (Walderrama dos Santos), garçom de um bar de quinta categoria obcecado pela mulher de um pescador. Quando os mortos começam a invadir a praia, o personagem decide fazer de tudo para proteger sua amada.
Além da trama principal, O longa-metragem tem várias tramas paralelas como fio condutor. É o caso dos pescadores que encontram uma sereia, dos frequentadores de um bordel em noite de inauguração e de um homem que procura um livro perdido de Cipriano. Com o excesso de elementos, Aragão acabou criando uma narrativa difícil de explicar, mas divertidíssima de assistir.
A impressão que fica é que o diretor fez o que teve vontade em Mar Negro, com direito a travesti de metralhadora giratória atirando em zumbis. O filme todo ficou bem ousado e repleto de referências a clássicos do horror como Suspiria (1977) e Invasores de Corpos (1978).
Além da habitual crítica social, Aragão também flerta com uma referência ecológica sobre poluição. É claro que isso é menos importante que o demônio assustador que sai da escuridão para consumir o corpo de uma adolescente.
Logo depois da exibição, rolou um bate-papo com a equipe de filmagem comandado pelo próprio diretor. Aragão falou um pouco sobre como o projeto era ambicioso, pois foi feito de maneira independente e só saiu do papel com a ajuda de amigos. Além disso, deixou claro que tem várias ideias para sequências e novos filmes. O público agradece.