Nascido em 26 de março de 1925 na pequena cidade histórica francesa de Montbrison, o compositor e maestro Pierre Boulez é o símbolo maior da consciência da renovação da linguagem musical, numa época onde o hedonismo leva as pessoas cada vez mais à permanência e ao conforto do já consagrado. Dono de uma capacidade musical extraordinária estudou principalmente com Olivier Messiaen (1908-1992) e René Leibowitz (1913-1972), este último aluno de Arnold Schoenberg (1874-1951). Fanático pela música de Anton Webern (1883-1945) desde sua obra mais antiga conhecida, Notations para piano solo, de 1945, vemos uma recusa pelo tonalismo, e uma decidida adesão pelo serialismo. Impossível falarmos da música da segunda metade do século XX sem citarmos obras primas de sua autoria como a Sonata Nº 2 para piano, composta em 1948 e “Le marteau sans maître” (O martelo sem mestre), baseada em poemas de René Char, composta entre 1953 e 1955. O grande compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) falou em alto e bom som que “Le marteau sans maître” era a obra mais importante composta naquela época. No final da década de 1950 Boulez começa a se dedicar também à regência de orquestra. Sua ideia era em seus concertos executar obras pouco conhecidas escritas no século XX e que seriam essenciais para a compreensão de suas próprias obras. Isso ele fez frente a um conjunto que fundou, o Domaine Musical. Com um senso rítmico excepcional e com uma audição legendária Boulez fará uma fulgurante carreira nos pódios internacionais. De 1971 até 1975 foi diretor musical da Orquestra Sinfônica da BBC em Londres, e de 1971 até 1977 foi diretor musical da Orquestra Filarmônica de Nova York. Vale a pena lembrar também de suas históricas passagens no Festival Wagneriano em Bayreuth, quando marcou época nas versões de “Parsifal” (1966-70) e “O anel do nibelungo” (1976-80). A partir de 1976 sua principal atividade foi a direção do IRCAM (Instituto de pesquisa e de coordenação acústico-musical) de Paris. Lá organizou o Ensemble InterContemporain, um grupo excepcional de instrumentistas especializados na execução de música contemporânea. Isto não impediu que se tornasse presença constante frente às mais importantes orquestras do mundo como a Filarmônica de Berlim, a Filarmônica de Viena, a Sinfônica de Chicago e a Orquestra de Cleveland. Como compositor suas obras, pensadas sempre para agrupamentos alternativos, tornaram-se mais “plásticas”, diria mesmo mais acessíveis, apesar de que sempre concebeu obras visando o futuro, e nunca dando um passo para trás. Quem teve a felicidade de assisti-lo em palestras e em concertos sabe que Pierre Boulez é uma personalidade da qual emana um enorme magnetismo associada a uma irresistível simpatia. O melhor advogado da nova música.
Ouvir Boulez
Para quem nunca ouviu as obras de Pierre Boulez faço um pequeno roteiro, que imagino, facilitará o contato com uma obra tão densa. Começaria com suas obras mais sedutoras. “Sur Incises” (para 3 pianos, 3 harpas e 3 percussionistas, 1996–98) é um exemplo da criatividade e da imaginação tímbrica do autor, uma excelente porta de entrada nesta importante produção. Seguiria por “Messagesquisse” (para 7 violoncelos, composta entre 1976–77) e “Rituel”, uma homenagem ao músico italiano Bruno Maderna (para orquestra, composta em 1977). Daí viriam os grandes “clássicos” do autor: “Le marteau sans maître” (para mezzo-soprano, flauta em sol, violão, vibrafone, xylorimba, percussão e viola) e a “Sonata Nº 2” para piano solo. O roteiro terminaria com algumas de suas últimas obras primas: “Répons” (para 2 pianos, harpa, vibrafone, glockenspiel, cimbalum, orquestra e sons eletrônicos, composta entre 1980 e 1984) e “Dérive 2” (para 11 instrumentos. Versão final de 2006). Não é música simples de se ouvir. Mas é absolutamente fascinante.
As gravações de Boulez
Sem me estender demais no imenso catálogo discográfico do músico francês inicialmente chamo a atenção das gravações que fez de sua própria obra. Sempre registros impecáveis. A obra de Debussy, especialmente as gravações mais recentes, são memoráveis. O mesmo para a obra de Ravel e de Stravinsky. Um CD gravado com a Sinfônica de Chicago, e que ganhou o prêmio Grammy, com a “Cantata Profana” e “O príncipe de madeira”, ambas de Bela Bartók, é o melhor testemunho de sua excepcional arte de maestro. A integral da obra de Anton Webern pelo selo Deutsche Grammophon é uma referência inegável, e sua gravação da ópera “Lulu” de Alban Berg (mesmo selo), mesmo com quase 40 anos, se mantem na dianteira de todas as gravações da obra.
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“Sur Incises” . Execução de um discípulo de Boulez frente ao grupo que ele fundou
“Messagesquisses” para 7 violoncelos. Execução fulgurante de Alexis Descharmes que executou em colagem as 7 partes de violoncelo
“Dérive 2” em sua versão definitiva de 2006. Direção de um grande amigo de Boulez: Daniel Barenboim
Boulez regendo “La mer” de Debussy. Vídeo histórico de 1992, no concerto comemorativo dos 150 anos da orquestra Filarmônica de Nova York (na mesma noite regeram Zubin Mehta e Kurt Masur). Ùnica apresentação em que ele regeu de memória.
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