O Metropolitan Opera de Nova York é o principal teatro de ópera do mundo. Durante sua temporada, que vai de setembro até maio, ele apresenta sete espetáculos diferentes em cada semana. São sete óperas apresentadas de segunda a sábado. Nos sábados eles apresentam duas óperas, uma às 13:00 horas e outra mais à noite. Nesta temporada serão apresentados 26 títulos diferentes !!! Os elencos estão recheados sempre pelas maiores estrelas do momento e sua orquestra é uma das melhores do mundo. O Met foi o pioneiro em relação às legendas e sobretudo na transmissão, ao vivo, de seus espetáculos em salas de cinema de todo o mundo (mais de 1500 salas de cinema). Na Europa a disputa por ingressos destas sessões de cinema leva as pessoas a fazerem assinatura de toda a série. Mesmo aqui no Brasil estas óperas do Met nos cinemas conta com um bom público. Lembro que uma vez estava no Rio de Janeiro e ia ser exibida “Boris Godunov” de Mussorgsky, e, para assistir tive que disputar um último ingresso. Cidades carentes de ópera como Curitiba, Porto Alegre e mesmo o Rio de Janeiro, encontram nestas óperas transmitidas ao vivo, com legendas e com uma excelente produção cênico/musical, um enorme consolo. O cuidado do Met é escolher óperas dos mais diversos estilos para estas transmissões: uma francesa, uma italiana, uma russa, uma alemã , uma contemporânea, etc. A lista neste ano incluía uma ópera moderna de um autor americano, John Adams. Incluía, no passado, por que ela foi tirada da lista de produções transmitidas para os cinemas. A transmissão da ópera “A morte de Klinghoffer” foi cancelada nos cinemas em todo o mundo. Ela só será apresentada no Teatro do Metropolitan Opera em 8 récitas de 20 de outubro até 15 de novembro. Esta última récita é que estava originalmente na lista das óperas transmitidas mundialmente. Convém saber o porquê desta censura.
As óperas “históricas” de John Adams
John Adams, compositor americano nascido em 1947, é um renomado músico conhecido por sua obra de estilo minimalista. Algumas de suas óperas tratam de fatos históricos relativamente recentes. Por exemplo “Nixon in China”, de 1987, fala da visita do presidente americano ao gigantesco país asiático, numa época em que a China ainda era um país tremendamente isolado. Já “Doctor atomic” de 2005 fala dos conflitos de consciência de J. Robert Oppenheimer, o pai da bomba atômica. Em 1991 John Adams compôs “A morte de Klinghoffer”, que trata do sequestro, efetuado por terroristas palestinos, do navio Achille Lauro, em 1985. O título tem a ver com o fato de que neste sequestro foi morto um judeu americano, paraplégico, Leon Klinghoffer. O texto da ópera foi escrito por Alice Goodman, e nele são analisadas as razões de cada lado do conflito palestino/israelense. Num prólogo há um coro dos exilados palestinos e um coro dos exilados judeus e conforme a narrativa do sequestro é narrada, existem belos momentos de reflexão, como a narrativa da história de Hagar e Ismael, que explica em termos bíblicos, a origem da disputa dos dois povos. O libreto trata o conflito lidando com os dois lados, tentando entender as duas partes. É absolutamente isento. Isto foi o suficiente para acusarem a ópera de antissemita. A lógica é mais ou menos a seguinte: se você não está do meu lado você é contra mim. A ópera foi estreada no ano de 1991 no Théatre Royal de la Monnaie em Bruxelas, e teve uma bela sequência de apresentações no velho continente. Já nos Estados Unidos a polêmica parece ser interminável para as apresentações da mesma.
A força do lobby sionista
Depois do enorme sucesso de “Nixon in China” na temporada 2012 do Metroplolitan Opera (foi incluída na lista das óperas transmitidas nos cinemas) a direção do teatro resolveu montar outra obra de Adams, desta vez “A morte de Klinghoffer”, com um elenco excepcional com direção musical do excelente maestro David Robertson, tendo num dos principais papéis o barítono brasileiro Paulo Szot. Daí começou a celeuma. O lobby sionista, muito forte em Nova York, quis que a produção fosse cancelada. Depois de muita conversa a produção foi mantida, mas a transmissão nos cinemas foi cancelada. O Met vive de patrocínios e de doações pois os ingressos (pra lá de caros) custeiam menos de um quarto dos custos do teatro. Por isso manter a produção foi uma vitória do Metropolitan Opera. Mas que é algo triste o mundo não poder assistir este espetáculo, que artisticamente deverá ser tão interessante, isto não posso negar. O que nos resta como consolo é uma excelente gravação regida por Kent Nagano e um DVD gravado em Londres regido pelo compositor de uma versão filmada (proibido de ser vendido em Israel). Se quiserem se inteirar sobre o assunto, e ver os inúmeros grupos que se opuseram ao Met leiam esta coluna de Alex Ross na revista New Yorker.
Trechos da versão filmada da ópera. Cenas fortes!!!