Pouco mais de três meses após os protestos que pararam o país, algumas entidades voltam a falar em greve de caminhoneiros. O que seu candidato a presidente dirá se os motoristas cruzarem os braços novamente? O que você espera que ele diga? E quanto você está disposto a pagar para atender aos pedidos da categoria?
Antes de falar sobre os presidenciáveis, vamos deixar claro que a maioria das lideranças que se pronunciaram até agora descarta a possibilidade de paralisação. Mas, como se sabe, são inúmeras as entidades que representam os caminhoneiros, e vários deles dizem não ser representados por nenhuma. Assim, um movimento que comece pequeno pode ganhar adesões rapidamente, a depender do tamanho da insatisfação.
E o que incomoda os motoristas? Basicamente as mesmas questões que levaram à greve de maio: o preço do diesel e a remuneração do frete. São dois problemas que o governo pensou ter resolvido à base de intervenções: criou um subsídio para controlar o preço do combustível e uma tabela para garantir valores mínimos para o frete. Em ambos os casos, distorceu o processo de formação de preços, passando sinais enganosos ao mercado, e repassou os custos a contribuintes, empresários, consumidores.
Como costuma ocorrer em intervenções, a solução durou pouco.
A disparada do dólar obrigou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a elevar em 13% o preço de referência do diesel, que é usado para calcular o subsídio. Assim, mesmo com o contribuinte pagando parte da conta, o combustível ficará tão caro quanto na época da greve. E tende a subir mais ainda, se o avanço da taxa de câmbio não der trégua.
A tabela de fretes, por sua vez, nunca funcionou. Caminhoneiros culpam a falta de fiscalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas é de se imaginar como o poder público conseguiria – substituindo a livre negociação entre contratantes e contratados – definir uma remuneração capaz de conciliar oferta, demanda, tipo de carga, condições das rodovias e gastos com combustível e manutenção, entre tantos outros fatores. Empresários alegam que a tabela fere a livre iniciativa e moveram ações que questionam sua constitucionalidade, pendentes de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para os caminhoneiros, pouco importa o que o STF decidir. E tampouco a viabilidade, no longo prazo, de um combustível cada vez mais subsidiado. Eles querem uma solução para seu problema, seja qual for. E têm força para exigi-la: 87% da população apoiou a greve de maio, enquanto apenas 3% aprovam o governo.
Nesse embalo, boa parte dos presidenciáveis apoiou os caminhoneiros meses atrás, pondo a culpa em Michel Temer, no então presidente da Petrobras, nos impostos, no neoliberalismo. Mas era fácil. Aquela paralisação ocorreu ainda na chamada pré-campanha. Quem tinha de segurar o rojão era Temer, o impopular. Quantos pretendentes de fato se imaginaram na posição de administradores do país a partir de janeiro de 2019?
Agora é diferente. Temos candidatos devidamente registrados – à exceção do PT – e estamos a apenas um mês das eleições e a quatro da posse do novo governo. Quem se vê com chances reais de assumir a Presidência terá de pensar duas vezes.
Se os caminhoneiros tiverem novamente o apoio maciço da população e, portanto, do eleitorado, colocar-se claramente ao lado deles pode garantir votos a mais. E, ao mesmo tempo, contratar uma dor de cabeça para janeiro, porque quaisquer soluções mágicas encontradas a partir de agora vão necessariamente atrapalhar a vida do próximo governante.
Por outro lado, posições mais neutras ou mesmo contrárias aos grevistas, que defendam soluções de longo prazo, “de mercado”, economicamente liberais, poderão significar votos a menos. E uma eleição perdida. Um teste e tanto para os candidatos.