Ainda estamos no início de abril, mas a economia anda tão devagar que muitos economistas já rebaixam suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Apenas dois meses atrás, as expectativas para o crescimento econômico giravam em torno de 2,5%. Agora, após semanas de queda livre, a mediana das previsões compiladas pelo Banco Central está ligeiramente abaixo de 2%.
Um ou outro analista já insinua que o crescimento pode ser ainda menor, mais próximo de 1%. O que significaria repetir o padrão dos últimos dois anos. A economia cresceu 1,1% tanto em 2017 quanto em 2018, com desemprego quase sempre acima de 12%. Hoje ele é de 12,4%, com pouco mais de 13 milhões de brasileiros procurando trabalho.
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A maioria dos empresários e consumidores se animou com a eleição de Jair Bolsonaro. Mas, após três meses de governo, a realidade deixa evidente como é difícil tirar a economia da letargia em que se arrasta há anos. Nisso, a confiança vai refluindo.
Os gráficos abaixo, preparados pelo infografista Osvalter Urbinati, da Gazeta do Povo, dão a dimensão do problema. De dez indicadores selecionados, sete – os que estão em vermelho – dão sinais ruins para a economia. Em sentido oposto, três – em azul – sugerem que alguma melhora pode estar por vir.
O primeiro gráfico mostra o desempenho da produção industrial no acumulado de 12 meses, que indica o ritmo de crescimento anual do setor. O dado mais recente, de fevereiro, mostra um avanço de apenas 0,5%. Um ano antes, a velocidade era de quase 3% ao ano.
O comércio está bem melhor. Em fevereiro, após nove meses de desaceleração, o ritmo de vendas do chamado “varejo ampliado” no acumulado de 12 meses voltou a subir, para perto de 5% ao ano, como mostra o gráfico abaixo. Boa parte desse resultado se deve às vendas de automóveis, que vão bem – no primeiro bimestre, os emplacamentos de carros subiram 16%.
Mas, conforme o IBGE, a aceleração do indicador de 12 meses em fevereiro tem de ser vista com cautela, porque também pode ter relação com o aumento no número de dias úteis no mês. No ano passado, o carnaval caiu em fevereiro; neste ano, em março.
Além disso, na estatística “convencional” de varejo do IBGE, que exclui veículos e materiais de construção, o ritmo anual de crescimento do comércio é mais modesto, de 2,3%.
Outra boa notícia é que o setor de serviços parece estar virando o jogo. Após mais de três anos no negativo, o indicador acumulado de 12 meses finalmente passou para o azul no início deste ano. O crescimento, no entanto, ainda é leve: 0,3%.
Ao combinar os resultados de indústria, comércio, serviços e outros setores, o Banco Central calcula seu “Índice de Atividade Econômica”, que ajuda a apontar para onde o PIB vai. O número mais recente, de janeiro, foi pior em dez meses. Isto é, embora alguns segmentos estejam se saindo bem, no conjunto a atividade continua apática.
Os dados do mercado de trabalho são ambíguos. A Pnad, do IBGE, mostra que hoje há mais brasileiros ocupados – com carteira assinada ou não – do que um ano atrás. Mas os números dos últimos meses foram ruins. No trimestre encerrado em fevereiro, havia 92,1 milhões de pessoas trabalhando, o menor contingente desde agosto de 2018.
Mais animadoras são as estatísticas do Caged, que revelam o número de pessoas contratadas e demitidas no mercado formal, com carteira assinada. Em fevereiro, o saldo entre admissões e desligamentos ficou positivo em 173 mil vagas, o maior número para o mês desde 2014.
Alguns economistas, no entanto, atribuem ao menos parte desse resultado ao maior número de dias úteis, devido ao carnaval tardio. E o Indicador Antecedente de Emprego, calculado pela FGV, recuou em março, o que significa que os próximos números oficiais podem não vir tão bons.
Um indicador que vinha bem e piorou foi a inflação. O IPCA superou as expectativas em março, quando a alta acumulada em 12 meses chegou a 4,58%, o pior número em dois anos. E o próprio Banco Central projeta que a alta de preços continuará acima da meta anual, que é de 4,25%, em abril e maio.
O movimento não chega a alarmar porque já era esperado, embora não com essa intensidade, e porque o BC tem credibilidade no mercado. Mas ocorre num momento em que o cenário externo está mais nebuloso e em meio às incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência, que ajudam a pressionar o câmbio. Desse jeito, fica mais difícil reduzir a taxa básica de juros (Selic), que está em 6,5% há pouco mais de um ano – e, se caísse, poderia dar mais impulso à atividade econômica.
Esse conjunto de coisas piorou o humor de empresários e consumidores. As pesquisas mensais da FGV mostram que, em março, os índices de confiança recuaram aos níveis de outubro de 2018.
Eleito naquele mês, Bolsonaro herdou um quadro muito ruim na atividade econômica. Mas havia, no setor produtivo e no mercado financeiro, a expectativa de que ele usasse o capital político de início de mandato para acelerar a reforma da Previdência. O que, por sua vez, ajudaria a destravar investimentos, reduzindo o temor de que o desequilíbrio das contas públicas fosse novamente colocado na conta de quem paga impostos e juros.
Mas a desarticulação política do governo no Congresso, as brigas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a crônica indisposição de Bolsonaro em defender a reforma evidenciaram que as coisas podem não ser tão fáceis assim.
Pelo lado dos consumidores, parecia existir a esperança de que a mera troca no comando do país tivesse o condão de rapidamente gerar mais emprego, renda e crescimento econômico. “O resultado de março sugere haver desapontamento dos consumidores com o ritmo de recuperação da economia, após projetarem melhoras para a economia e para as finanças familiares nos meses anteriores”, comentou, em nota, a economista Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da Sondagem do Consumidor da FGV.
Os números ruins deste início de ano, somados à piora das expectativas, têm levado consultorias, bancos e outras instituições a revisar as previsões para o crescimento do PIB. Na última sexta-feira, a mediana das projeções caiu a 1,97%, segundo o relatório Focus, do Banco Central.
Medidas como o pacote para destravar a economia são bem-vindas e certamente ajudam. Mas insuficientes. Caso haja indicações de que a reforma da Previdência não será aprovada até o início do segundo semestre, ou de que o Congresso aprovará uma versão muito suavizada do texto, a tendência é de as expectativas caiam ainda mais.