Há duas semanas, este blog publicou dez gráficos para ilustrar a situação da economia brasileira. Sete com sinais negativos e três, positivos. De lá para cá, quatro daqueles indicadores foram atualizados. Dois inverteram o sinal e dois mantiveram a tendência anterior, de forma que o placar segue em 7 a 3*.
Isso significa que, enquanto boa parte do governo se ocupa de provocar ou apartar brigas no parquinho de diversões ideológicas de Jair Bolsonaro e entorno (mexerico da semana: Hamilton Mourão é golpista ou não?), a atividade e o emprego continuam se arrastando, daquele jeito que já vimos em 2017 e 2018. Novas evidências dessa pasmaceira apareceram nesta quarta (24), quando foram divulgados números frustrantes do mercado formal.
“A destruição dos postos de trabalho no mês [de março] está em linha com nosso cenário de retração do PIB no primeiro trimestre e crescimento de apenas 1% para a economia em 2019”, escreveu o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, em mensagem a clientes.
“Avaliamos que o mercado de trabalho perdeu tração nos últimos meses. Essa percepção é reforçada por outros dados conjunturais, como a PNAD Contínua, do IBGE, que também tem apontado redução recente de ímpeto”, afirmou o Departamento Econômico do Bradesco no relatório do dia. “As percepções de consumidores e empresários sugerem haver desafios à frente para uma recuperação mais robusta do mercado de trabalho.”
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Paulo Guedes e sua equipe obviamente sabem que a coisa está feia. E Bolsonaro, já se deu conta? Está preocupado? Não sabemos. O tempo perdido com intrigas pode sugerir que o presidente desconhece o problema. Ou então que ele está, sim, muito ciente – e por isso trabalha, com ajuda da família e de conselheiros, para desviar atenções e manter seu público animado.
Quem não se anima com as disputas intestinas do governo são os mais de 13 milhões de brasileiros que estão sem trabalho, e os que dependem deles. Os levantamentos que medem a aprovação a Bolsonaro indicam que a população está perdendo o entusiasmo dos primeiros meses após a eleição.
Por enquanto, o presidente prefere desacreditar as pesquisas de opinião de institutos independentes e também as estatísticas produzidas por órgãos do próprio governo. Mas, se as coisas não melhorarem para o bolso do povo, cedo ou tarde o capitão reformado só conseguirá convencer as paredes do Planalto.
Bolsonaro herdou de seus antecessores muito do que hoje ocorre (ou não ocorre) na economia. Mas muito do que virá (ou não) de agora em diante será de responsabilidade dele. Não só pelo que faz ou deixa de fazer, mas principalmente pelo que suas atitudes transmitem a consumidores, empresários, investidores, caminhoneiros, parlamentares…
*Inverteram o sinal: 1) O indicador acumulado de 12 meses do IBC-Br, cálculo do Banco Central para estimar a atividade econômica, que estava desacelerando até janeiro, voltou a crescer em fevereiro. Mas o avanço, de apenas 1,2%, é igual ao observado um ano atrás, no apático 2018; e 2) O Caged, que mede a geração de vagas formais, apontou fechamento de vagas em março. O dado contrariou todas as expectativas, que na pior das hipóteses apontavam para pequena expansão.
Mantiveram a tendência anterior: 1) O setor de serviços, que começou a dar sinal positivo em janeiro, acelerou em fevereiro a taxa de expansão no acumulado de 12 meses; e 2) As previsões para o PIB de 2019. Em retração há oito semanas, elas agora apontam para um crescimento econômico de 1,71% no ano.