O comportamento da economia foi um dos fatores mais importantes nas últimas seis eleições presidenciais. Neste ano, é provável que a história seja diferente. Apesar do crescimento mais robusto previsto para 2018, com inflação sob controle, juros no nível mais baixo da história e desemprego em queda, a economia não deve ser cabo eleitoral de nenhum candidato.
Em 1994, em pleno sucesso do Plano Real, assistimos o poder que a economia tem para fazer presidentes. Fernando Henrique Cardoso ganhou duas eleições no primeiro turno. Ele deu sorte em 1998, quando ganhou em meio a uma crise internacional que estava prestes a levar o Brasil a um choque cambial que mais tarde custaria a eleição de 2002.
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Lula foi bastante beneficiado pela situação da economia em 2002. O país estava saindo da crise cambial de 1999 e do racionamento de energia de 2001, que fizeram a economia crescer pouco, o desemprego subir e os salários caírem. Nas semanas que antecederam o pleito, o nervosismo do mercado jogou o dólar perto dos R$ 4 e a inflação subiu rapidamente.
No primeiro ano de governo, Lula conseguiu controlar a situação com a ajuda do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que assumiu o Banco Central em 2003. Também contou com Antonio Palocci (hoje preso no escândalo do Petrolão) para acalmar o mercado, recuperar o fôlego fiscal e reduzir os juros. O cenário foi complementado pelo boom nos preços das commodities, que acelerou o crescimento, e pela combinação de Bolsa Família e aumento do salário mínimo, que estimularam o consumo.
A fórmula lulista lhe garantiu a reeleição em 2006 e a eleição de Dilma Rousseff em 2010. Em 2014, foi o crédito desse ciclo econômico, a maquiagem de dados econômicos (fiscais e, indiretamente, de preços) e a força do mercado de trabalho que permitiram a Dilma ganhar mesmo no meio de uma recessão. É muito possível que ela não resistisse se a eleição fosse algumas semanas mais tarde – o desemprego ficou baixo até o fim de 2014, quando a curva se inverteu.
Em uma eleição normal, os seguintes números contariam muito para um governante fazer seu sucessor: inflação abaixo de 4%, queda de um ponto percentual no desemprego, crescimento do PIB de 3% a 3,5%, taxa básica de juros de 6,75% ao ano e câmbio estável. Não há, no entanto, nenhum nome viável hoje no espectro governista para concorrer ao Palácio do Planalto.
Com sua baixa taxa de aprovação, o presidente Michel Temer não será um bom cabo eleitoral. Nem mesmo seu ministro da Fazenda e pré-candidato à Presidência, Henrique Meirelles, caiu nas graças do povo. O cenário eleitoral está confuso porque não se sabe se Lula concorrerá e não pela expectativa de o governo conseguir emplacar um nome de sua base de apoio.
Que argumentos serão mais importantes nesta eleição do que a economia? A segurança parece estar entrando com mais força na pauta, em grande medida porque o deputado federal Jair Bolsonaro colocou na mesa a carta da liberação do porte de armas. O discurso da moralidade é uma possibilidade, embora corra o risco de virar um lugar-comum até outubro. Há ainda o puro e simples “novo”, grande esperança de quem está fora da política, como o apresentador Luciano Huck. E, claro, a ideia de perseguição ao homem do povo que Lula tenta vender em seus discursos.
Isso não quer dizer que a economia é um tema desimportante. Precisaremos discutir até outubro o que fazer com o rombo da Previdência e os caminhos para conquistar o equilíbrio fiscal. O Brasil terá de criar uma nova pauta para aumentar sua produtividade e gerar empregos. São desafios que estão no futuro, algo diferente do que decidiu as últimas seis eleições quando o que contou foi o dinheiro (ou a falta dele) no bolso. Essa diferença é mais uma razão, além da condenação de Lula e a desorganização do centro, para a campanha deste ano ser tão imprevisível.