Não é a primeira vez que parece que colocaram alguma coisa na água do Palácio do Jaburu. A declaração do presidente Michel Temer de que este poder ter sido o melhor governo que o país conheceu nos últimos anos atropelou a modéstia e se uniu a outros delírios recentes que rondam Brasília.
Podemos entrar em um debate infindável sobre melhores ou piores governos, mas o autoelogio de Temer ignora o fato de ele ser o presidente mais impopular da história recente. Ignora as duas denúncias enterradas no balcão de negócios da Câmara dos Deputados e a terceira ação na qual é investigado e que o colocou na situação vexatória de ter seu sigilo bancário quebrado.
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Os delírios presidenciais estão, provavelmente, por trás da decisão improvisada de se fazer uma intervenção no Rio de Janeiro na véspera da votação da reforma da Previdência – projeto que seu governo não teve força para votar, apesar da necessidade urgente de sua aprovação, e que Temer cogita trazer de volta à pauta em setembro. Outro delírio, claro, porque não haveria no Congresso ninguém para votar o texto.
Temer confunde o fato de seu governo ter encampado algumas pautas bem-vindas para o país, mesmo que impopulares, com o que pode se definir como um bom governo. Em um exercício rápido de definição, espera-se de um bom governo que tenha ministros com currículo de primeira linha e sem enroscos judiciais, um comportamento exemplar de suas lideranças, capacidade de convencimento nas ações essenciais ao desenvolvimento e por aí vai. Bons governos podem comprometer seu futuro político em nome do bem do país. Pode ser que, falando assim, a conclusão seja a de que nunca houve um bom governo no Brasil, mas essa é outra discussão.
O presidente Temer é um político em busca de sobrevida. Para isso, topou entrar na aventura da intervenção que completa um mês nesta sexta-feira (16). Até agora, não ficou claro qual o plano para o Rio de Janeiro – e que em algum momento o presidente cogitou levar para outros estados. As Forças Armadas estão ali contra a vontade do encarregado da operação, general Braga Netto, como mostrou uma reportagem recente da revista Piauí. De prático para ajudar os estados só foi oferecido um empréstimo do BNDES que a maioria dos governos estaduais não quer.
Para completar o delírio, o governo apresentou uma pauta com 15 itens que quer aprovar no Congresso ainda neste ano. Se levar cinco, será uma grande vitória. Entre os mais importantes está a privatização da Eletrobras, que parou na resistência dos estados do Norte e Nordeste e na falta da construção de um modelo que viabilize sua venda. Fica o recado para quem promete privatizar tudo em quatro anos.
Este deve ter sido, porém, o melhor governo de sobrevivência dos últimos anos. Temer sobreviveu à conversa constrangedora com Joesley Batista, o falastrão, e até agora vinha cozinhando em fogo brando a investigação sobre sua atuação no Porto de Santos (e sua relação com o coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho). O presidente deixou seu nome como pré-candidato à reeleição no ar para ganhar algum fôlego político e ainda conta com o apagar das luzes de seu governo para não terminar os dias sozinho. Há fila de gente interessada na reforma ministerial de abril.