A crise cambial pela qual passa a Argentina, que agora busca ajuda do Fundo Monetário Internacional, é um belo lembrete de como o Brasil flertou com a bancarrota nos anos Dilma Rousseff. A história do país vizinho é muito parecida com o que o governo brasileiro vinha fazendo até 2015 e serve como parâmetro para calcularmos os benefícios dos ajustes que já foram feitos na economia.
A Argentina está em crise cambial, com o dólar em disparada. Isso coloca pressão sobre a inflação, que já não estava sob controle (o governo local recentemente aumentou a meta inflacionária deste ano de 10% para 15%), e sobre os juros (que foram para incríveis 40% ao ano para tentar segurar a cotação da moeda americana). Sem reservas suficientes para amenizar a crise cambial, o governo argentino cogita buscar ajuda do FMI.
Geralmente, esse tipo de crise é deflagrada por uma combinação de déficit externo elevado com descontrole fiscal. Em tese, sistemas de câmbio flexível corrigem automaticamente o déficit externo através da desvalorização da moeda, mas isso sempre tem efeitos colaterais sobre inflação e crescimento, o que pode acelerar a deterioração fiscal. Ou seja, não existe saída indolor.
A situação argentina é justamente essa, agravada por um sistema de preços subsidiados que ainda não foi desmantelado pelo atual governo. Isso quer dizer que a inflação será pior do que o imaginado caso a situação fiscal piore e o governo tenha de fazer ajustes bruscos nos preços.
Esse cenário é exatamente o vivido pelo Brasil no período de 2013 e a 2015. O governo Dilma vinha deliberadamente piorando a situação fiscal, maquiando o orçamento com as chamadas “pedaladas”. Ao mesmo tempo, o país via seu déficit externo crescer – no fim de 2014, o déficit foi de 4,2% do PIB, muito próximo do que é considerada a zona de risco de crises cambiais, de 4,5% do PIB.
Tínhamos também o problema da distorção em preços, especialmente de derivados de petróleo e de energia elétrica, o que maquiou a inflação, assim como na Argentina. Não sentimos a pressão no câmbio inicialmente porque o Brasil tem reservas internacionais robustas, de pouco mais de US$ 300 bilhões. Mas o Banco Central teve de emitir mais de US$ 100 bilhões em “swaps cambiais”, o que na prática é uma obrigação atrelada à flutuação do câmbio, para segurar o dólar.
Essa bomba-relógio começou a ser desmontada em 2o15, quando o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, decidiu acabar com os controles de preços. O custo foi uma elevação rápida da inflação e, em seguida, dos juros. Naquele ano, o BC também parou de acrescentar swaps ao seu estoque. Mas Levy não conseguiu aprovar reformas (aliás, terminou com uma mudança da Previdência que elevou o gasto) para controlar o crescimento do déficit público o que colocou mais pressão pela elevação dos juros.
O ajuste foi completado pela equipe econômica que assumiu depois do impeachment: o estoque de swaps foi reduzido em 80%, a criação do teto de gastos deu esperança de um controle nos gastos públicos (a ver) e o novo comando do Banco Central recuperou a confiança do mercado. E também houve o trabalho natural da economia. Com a enorme recessão e o bom comportamento da economia internacional, o déficit externo se reduziu a 0,5% do PIB no ano passado e a inflação ficou abaixo da meta.
Não temos hoje problemas como os da Argentina, o que torna mais fácil assimilar choques externos como a valorização global do dólar e a alta no preço do petróleo. O trabalho, no entanto, ainda não está completo. O Brasil continua com um déficit que está fazendo a dívida pública crescer e precisa fazer um ajuste fiscal crível. Nosso risco, hoje, é ter de encarar mais um ciclo de alta de juros, impostos e recessão.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião