A facada desferida contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) nesta quinta-feira (6) é o tipo de episódio que pode mudar o rumo das eleições. Em um cenário polarizado e com o centro fragmentado, o ataque contra o candidato deve reforçar seu discurso e pode ser decisivo em sua busca pelo Palácio do Planalto.
É claro que o cenário depende da dimensão do ferimento sofrido por Bolsonaro e seus efeitos. No momento, o deputado federal passa por cirurgia e as primeiras informações divulgadas por seus filhos diziam que ele estava bem. Na sequência, vieram informações de que a perfuração foi grave e causou uma hemorragia.
Desde que se colocou como presidenciável, Bolsonaro investiu nos elementos que fizeram sua carreira política – um discurso pela ordem e contra a esquerda – e encontrou ouvidos abertos em um país que saiu politicamente rachado do impeachment de Dilma Rousseff. Como candidato, ele já se posicionou como o principal nome da disputa na ausência do ex-presidente Lula.
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Bolsonaro não criou a polarização atual da política, mas foi quem se aproveitou melhor de sua existência. Ele também vinha pagando o preço dessa escolha política, tornando-se o alvo preferido dos adversários. Mesmo sob ataque, o candidato não mudou seu discurso e agora terá uma razão a mais para manter a linha.
Os adversários de Bolsonaro vinham tentando criar uma imagem de risco associado ao candidato. Seu perfil belicoso, favorável à liberação das armas e simpático à ditadura, seria um sinal de uma tendência ao autoritarismo, segundo essa linha de argumentação. Esse tipo de colocação perde força contra alguém que foi atacado em um ato de campanha. Ao mesmo tempo, ganha força a posição bolsonarista de que são seus adversários o verdadeiro risco para o país – ainda mais com a confirmação de que o agressor foi filiado ao PSOL, um partido de esquerda.
Para o eleitor, a imagem de Bolsonaro vestido de verde e amarelo, sendo carregado por apoiadores e levando uma facada será um novo fator para a tomada de decisão. A cena contradiz muito do que se diz sobre o candidato e reforça a ideia de que grande parte da esquerda estaria disposta a ir além das urnas em busca de poder.
Na eleição de 2014, foi a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo que mudou os rumos do pleito. Dali em diante, Marina Silva entrou na disputa e passou a ser alvo de ataques rasteiros do PT. Desfeito seu crescimento, Aécio Neves ganhou a chance de ir ao segundo turno.
A facada contra Bolsonaro terá efeito semelhante, ainda difícil de antecipar. Poderá ser a consolidação de sua candidatura, que parecia ter encontrado o caminho para chegar ao segundo turno, mas ainda tinha dificuldade de ir além de um público já conquistado.
Ao mesmo tempo, o episódio poderá reduzir o poder de atração de votos da esquerda, em especial do PT, partido antagonista de Bolsonaro nos últimos dois anos. E deixará perdidas as campanhas que escolheram bater no capitão da reserva como estratégia de ir ao segundo turno.
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