Em uma democracia, o discurso de posse de um presidente é uma espécie de formalização final dos compromissos assumidos na campanha. Não é mera formalidade. No mínimo, ele serve como um indício para historiadores analisarem o que fez um governo.
O presidente eleito Jair Bolsonaro vai escrever sua carta para os historiadores neste dia primeiro de janeiro e ela precisa responder a uma pergunta: seu governo será populista de direita ou liberal-democrata? Não espero uma resposta clara. Ela estará nas entrelinhas do discurso e, com sorte, poderemos entender seu significado dentro de quatro anos.
Coloco essa questão como a mais importante porque me parece a definidora do que será o governo Bolsonaro. Poderia ter listado questões práticas muito mais fáceis de responder. Ele vai falar em quais reformas? Vai continuar na linha do antipetismo ou virou a página? Qual será seu compromisso com a educação, para além do papo furado de chutar os marxistas para fora das escolas?
LEIA TAMBÉM: 2019 vem aí, as desculpas acabaram
Mas existe uma dúvida mais fundamental que vem de todo o período de campanha. Bolsonaro prometeu entregar um país realmente liberal no fim de seu governo. Esse discurso foi corroborado pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que fez questão de separar em entrevistas os conceitos de liberal-democracia da social-democracia. Ao mesmo tempo, a persistência de uma retórica antiliberal é outra marca de sua campanha. Se na educação o problema é o marxismo, nas relações internacionais é o globalismo. Na segurança, são os direitos humanos. Na comunicação, é a imprensa. Esses são exemplos de simplificações que combinam mais com governos populistas do que liberal-democratas.
Combinando esses elementos presentes na campanha e em seu plano de governo, Bolsonaro não entregará na sua posse uma resposta final sobre aonde pretende chegar. É possível que a balança vire para o lado liberal-democrata, com uma agenda forte de desburocratização, desestatização e redução do braço estatal que beneficia poucos grupos organizados. Ou que o governo se concentre em uma espécie de reforma cultural que parece pouco promissora para o desenvolvimento do Brasil e que em diversos países caminhou para uma combinação de concentração de poder e aversão a críticas.
Em seu discurso de posse em 2015, a reeleita Dilma Rousseff deixou uma mensagem que hoje está mais clara. Para ela, a eleição era a validação de um projeto de país, o projeto do PT, embora ela assumisse um compromisso contraditório com reformas. Acredito que a grande questão na época era se ela poderia fazer um governo que não fosse a repetição dos erros seus e do partido. Lendo hoje esse discurso, fica evidente que ela dobrou a aposta e a contragosto disse que arrumaria alguma coisa na economia. Ela sabia que não havia volta no modelo de intervenção econômica e corrupção política.
Daqui quatro anos, vai valer a pena reler o que Bolsonaro disser em sua posse. Populista ou liberal-democrata?
PT se une a socialistas americanos para criticar eleições nos EUA: “É um teatro”
Os efeitos de uma possível vitória de Trump sobre o Judiciário brasileiro
Ódio do bem: como o novo livro de Felipe Neto combate, mas prega o ódio. Acompanhe o Sem Rodeios
Brasil na contramão: juros sobem aqui e caem no resto da América Latina
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião