O primeiro esboço concreto da reforma da Previdência que será apresentada ao Congresso mostra que o governo Bolsonaro vai aceitar derrotas da proposta feita pela equipe de Michel Temer e, ao mesmo tempo, comprará brigas que foram dadas como perdidas na tramitação do último projeto. Trazida a público pelo Estado de S. Paulo, uma minuta da reforma traz quase todos os pontos debatidos a partir de 2016, com algumas alterações importantes na regra de transição.
A minuta apresentada nesta segunda (4) pode, claro, ser mais um “balão de ensaio” para testar a opinião do Congresso que assumiu na sexta-feira. Sua riqueza de detalhes, no entanto, indica que é um teste final, para acomodar as expectativas antes de o texto ser levado oficialmente para avaliação de deputados e senadores. O fato de haver pontos já negociados anteriormente com o Congresso confirma essa impressão.
LEIA TAMBÉM: Minuta da reforma da Previdência traz idade mínima de 65 anos para homens e mulheres
Segundo o texto trazido a público, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu comprar algumas brigas que foram perdidas por Temer na comissão especial que debateu sua proposta, apresentada no fim de 2016. A mais simbólica é a idade mínima de 65 anos igual para homens e mulheres. No Congresso, o relatório do projeto baixou a idade mínima de mulheres para 62 anos. Esse é um ponto polêmico. A igualdade na idade é defendida por quem acredita que não cabe à Previdência corrigir distorções do mercado de trabalho, como a dificuldade da mulher em conciliar a maternidade e o trabalho. Será uma tese bastante combatida na tramitação.
Outra briga perdida por Temer é a contribuição individual de trabalhadores rurais, com idade mínima igual para homens e mulheres. A comissão especial decidiu não mudar as regras para esse público. A diferença entre o projeto de Bolsonaro e o de Temer é que, no segundo caso, a idade mínima sugerida era de 65 anos, igual à do trabalhador urbano. A equipe atual parece ter entendido que não conseguiria avançar nesse ponto e se contentou em aumentar a idade mínima para mulheres (atualmente, a aposentadoria por idade no campo é com 55 anos para mulheres e 60 para homens).
A redução nos gastos com o benefício por prestação continuada (BPC) também voltou à pauta, após ser rejeitada pela comissão. A ideia agora é fazer com que o benefício seja progressivo e vire apenas um complemento de renda, em vez de ser na prática uma aposentadoria para pessoas de baixa renda que não contribuíram por tempo suficiente para a Previdência.
Há vários pontos que mostram que a equipe atual aprendeu com a tramitação do projeto de Temer, aceitando derrotas. O projeto original do governo anterior era bastante rigoroso na concessão de benefícios integrais, possíveis apenas com 49 anos de contribuição. O objetivo era reduzir a taxa de reposição das aposentadorias, bastante elevada no Brasil na comparação com outros países. O texto que saiu da comissão já trazia a integralidade com 40 anos, algo mantido na minuta que veio a público agora.
Outra derrota aceita é sobre o tempo mínimo de contribuição. A proposta de 2016 tentou emplacar 25 anos, após uma longa transição. Não conseguiu e ficaram os atuais 15 anos na comissão. Agora, estuda-se um período mínimo de 20 anos, um meio-termo que pode tornar a ideia mais palatável. Esse tempo permitiria uma aposentadoria com 60% de reposição, percentual também previsto no texto que saiu da comissão.
Uma vitória da equipe anterior foi mantida: aposentadoria de servidores com integralidade apenas com 65 anos de idade. Isso significa, na prática, antecipar a idade mínima para os funcionários públicos contratados antes de 2003. E a proposta agora é fazer com que o tempo mínimo de contribuição seja de 25 anos no setor público, mais rigoroso do que para quem se aposenta pelo INSS.
Para completar, há outro ponto que torna a proposta mais “popular”, a idade mínima de 65 anos para políticos. Claro que eles terão uma regra de transição e poderão optar pelo atual sistema, no caso de parlamentares. Mas é importante que o tema fique mais claro do que na proposta anterior.
Além disso, continuam na pauta da reforma a limitação para o acúmulo de pensões e aposentadorias (algo que a proposta original de Temer tentou proibir) e para a pensão por morte. Não parece haver novidade aqui.
O que não fecha, em uma primeira olhada, é a conta. A minuta fica no meio do caminho entre o projeto original da equipe de Temer e o que passou na comissão na Câmara. Ainda precisa se comprovar que será suficiente para apresentar uma economia acima de R$ 1 trilhão em uma década, como Paulo Guedes disse pretender. Pode ficar um tanto abaixo disso.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião