O anúncio de que o presidente Jair Bolsonaro liberou uma proposta de reforma da Previdência com idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres dissipou as dúvidas sobre a vontade do presidente de fazer mudanças que levem a uma economia significativa nos gastos públicos. Saiu da mesa a ideia de idades mínimas de 62 e 57 anos, como ele havia falado em entrevistas.
Além disso, a transição proposta é rápida, de até 12 anos. Esse, no fundo, é o ponto mais significativo da decisão divulgada na quinta-feira (14). No texto de reforma aprovado na comissão especial da Câmara durante o governo Michel Temer, já havia a previsão de idade mínima de 65 e 62 anos, mas o tempo de transição era mais longo, de 20 anos.
LEIA TAMBÉM: Previdência: déficit com militares foi o que mais cresceu em 2018
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem falado em gerar uma economia de R$ 1 trilhão em uma década. Esse número ainda precisa ser comprovado pelo restante do projeto de reforma. O próprio Guedes deixou escapar que esse montante de economia pode ser em 15 anos, o que deixaria o projeto em uma posição intermediária entre o que foi proposto por Temer e o que foi aprovado na comissão da Câmara. O ideal, no entanto, é que o texto saia do Palácio do Planalto com uma economia maior na primeira década, contribuindo de forma mais acentuada para a redução do endividamento público.
O governo deixou escapar vários balões de ensaio sobre o que seria o projeto da reforma e ainda existem pontos importantes para se saber se a economia será grande o suficiente para pelo menos estabilizar o crescimento do déficit. É bom lembrar que ninguém espera uma proposta que elimine o déficit, pelo menos por mais uma geração. Os números explicam: no ano passado, o déficit total da Previdência foi de R$ 285,5 bilhões, sem contar estados e municípios. Uma economia de R$ 1 trilhão em uma década, ou R$ 100 bilhões por ano em média, elimina apenas um terço do déficit atual (essa é uma conta simplificada só para dar uma dimensão do que está se propondo na reforma, já que a economia é em relação ao cenário sem reforma ao longo dos próximos anos).
Aparentemente, algumas coisas vão cair antes de o texto ser apresentado na próxima semana. O ministro Paulo Guedes gostaria de aproveitar o momento para lançar o sistema de capitalização, que usa contas individuais para fazer uma poupança para a aposentadoria, e a carteira de trabalho verde e amarela, que retiraria trabalhadores jovens da regulação da CLT. São dois pontos com grande chance de elevar o ruído na tramitação no Congresso. O primeiro, porque muda o teto do INSS para os jovens. O segundo, porque cria uma duplicidade de direitos difícil de vingar na Justiça. Nenhum dos dois é essencial para lidar imediatamente com a bomba-relógio dos gastos previdenciários.
Há pelo menos outros nove pontos para confirmarmos a intenção de encarar de frente a realidade da Previdência:
Regra de transição
O último balão de ensaio do governo é a possibilidade de haver três regras para calcular a aposentadoria durante a transição. Além de confusa, essa solução pode até elevar o gasto em um primeiro momento, principalmente se houver a manutenção de aposentadorias integrais por pontos (que na prática é uma variação do sistema 85/95 já em vigor). O ideal é que haja um pedágio sobre o tempo de contribuição de quem já está perto de se aposentar, com o cálculo feito pelo fator previdenciário. Com isso, trabalhadores mais jovens, mas perto da aposentadoria por contribuição ficariam mais tempo no mercado de trabalho e teriam o benefício ajustado por sua longevidade. Além disso, é preciso impor uma idade mínima que aumenta ao longo do tempo. Esse era o modelo na reforma original do governo Temer.
Regra de cálculo
O valor pago na aposentadoria depende da regra de cálculo que o governo vai propor. Atualmente, levam-se em conta as 80% maiores contribuições. Incide o fator previdenciário para quem não se encaixa na regra 85/95 (que garante aposentadorias integrais). O texto que passou na comissão permitia aposentadoria integral com 40 anos de contribuição, menos do que os 49 exigidos na proposta original da equipe de Temer – e que tinha ainda a conta sobre 100% das contribuições. A economia será maior se for mantida a conta sobre a média de todas as contribuições. Resta saber qual vai ser a exigência para que o benefício seja integral.
Tempo de contribuição
Hoje, é possível pedir aposentadoria por idade com 15 anos de contribuição. A proposta original de Temer previa 25 anos, mas a comissão voltou o tempo para 15 anos. A minuta de reforma que vazou em janeiro falava em 20 anos. Aqui, o melhor modelo é o que exige mais contribuições, com uma transição que até pode ser mais longa do que a da idade mínima. É uma forma de incentivar o recolhimento ao INSS.
Categorias especiais
O que vai acontecer com policiais, professores e outras categorias que se aposentam antes? Essa questão levantou uma oposição ferrenha no Congresso e é provável que o texto da reforma já venha com uma proposta que dá tratamento especial, como aprovado em comissão: 55 anos para policiais civis e federais, e 60 anos para professores. Não haveria economia extra aqui.
Idade mínima do funcionalismo
Outra questão que minou a tramitação do texto no governo Temer foi a idade mínima do funcionalismo. A proposta era para uma elevação imediata dos atuais 55 anos para mulheres e 60 anos para homens, para a regra 62/65 anos. A razão para não haver transição é o fato de a grande maioria dos servidores que seriam beneficiados pelo mecanismo se aposentarem com um benefício equivalente ao último da ativa, integral e com paridade. O argumento da equipe de Temer é justo: para um benefício sem equivalente na iniciativa privada, é preciso exigir mais imediatamente.
Contribuições
O governo Temer tentou elevar a alíquota de contribuição do funcionalismo de 11% para 14%. Seria uma forma de acelerar o equilíbrio financeiro do sistema, que no fim paga benefícios melhores que na iniciativa privada. É possível que a equipe de Guedes tente um sistema único, para servidores e trabalhadores da iniciativa privada, no qual a alíquota máxima passe a ser de 14%. Seria um caminho para fazer o ajuste também pelo lado da receita.
Militares
Os militares ficaram de fora da primeira proposta e agora o governo promete mandar um projeto separado. A meta é impor uma idade de 55 anos para os militares entrarem para a reserva, com um aumento na contribuição de 7,5% para 11% sobre o soldo – pouco, ainda, diante dos 14% pretendidos para o resto do funcionalismo. Seria um avanço importante se fosse apresentado em conjunto com o resto da reforma.
Aposentadorias rurais
Na tramitação do projeto de Temer, as mudanças na aposentadoria rural foram retiradas do texto. Uma economia na casa do trilhão em uma década só é possível se houver uma revisão profunda nesse item, que é o maior responsável pelo déficit atualmente. Um projeto bem feito precisa prever contribuições individuais e o recolhimento por empresas exportadoras do agronegócio.
BPC
Houve uma tentativa, também derrubada no Congresso, de se elevar a idade mínima para o cidadão requerer o benefício de prestação continuada (BPC). Esse é um benefício para pessoas pobres que não conseguiram recolher para o INSS e paga um salário mínimo. A minuta que vazou em janeiro falava na criação de um sistema com pagamento a partir dos 55 anos, mas abaixo do salário mínimo. O mais provável é que, se quiser gerar economia neste ponto, o governo imponha um redutor em relação ao salário mínimo. O tema também pode ser debatido fora da reforma da Previdência, já que é um gasto assistencial e não previdenciário.
Pensões
A equipe de Paulo Guedes quer manter as restrições para o acúmulo de pensões e aposentadorias, além de impor limites mais rígidos na concessão de pensões. É provável que a proposta fique próximo do que já está no Congresso, com redução de 50% na pensão (mais adicionais por dependente) e limite de acúmulo até dois salários mínimos.
O que explica o rombo histórico das estatais no governo Lula
Governo Lula corre para tentar aprovar mercado de carbono antes da COP-29
Sleeping Giants e Felipe Neto beneficiados por dinheiro americano; assista ao Sem Rodeios
Flávio Dino manda retirar livros jurídicos de circulação por conteúdo homofóbico
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião