Nenhum governo recente do Brasil escapou de colher um ano de pibinho. Com o primeiro trimestre de 2019 encerrado, os economistas estão refazendo para baixo as suas projeções para 2019. Mantida a tendência, o presidente Jair Bolsonaro corre o sério risco de terminar 2019 com o mandato carimbado por mais um ano de economia andando de lado.
Em janeiro, o mercado previa que a economia teria um crescimento de 2,5%, segundo o levantamento Focus do Banco Central. Nesta semana, a pesquisa do BC indica uma expectativa de expansão do PIB substancialmente menor, de 1,97%. Reportagem do Valor desta terça ouviu vários analistas e já tem gente no mercado falando em PIB de 1%.
Três fatores estão levando à revisão da projeção de crescimento: as indefinições do novo governo, as dificuldades da indústria e a desaceleração da economia global. O primeiro fator é o que Bolsonaro poderia controlar desde o início, com uma agenda com foco na reforma da Previdência e um mapa bem claro sobre produtividade. A indústria continua com problemas complexos de competitividade, que o governo indiretamente poderia ajudar a resolver. E o cenário externo está totalmente fora de controle do país. A desaceleração é coordenada, como aponta relatório do FMI, e tem por trás vários fatores em vários lugares, como o Brexit na Europa e a guerra comercial entre EUA e China.
O fator político é central para entender a dificuldade que o Brasil está tendo para crescer depois da maior recessão da história. Mesmo com muita capacidade ociosa e juros baixos, o que permite um crescimento mais forte sem inflação, não há um indutor claro da demanda. Os governos federal e estaduais estão em situação fiscal frágil e a iniciativa privada quer um cenário mais nítido para ter confiança e investir – algo que foi inviabilizado no governo Michel Temer depois da divulgação da conversa do ex-presidente com Joesley Batista. Ao mesmo tempo, o consumo das famílias é limitado pelo desemprego ainda alto.
LEIA TAMBÉM: Maia deixa articulação da reforma e Paulo Guedes admite não ter vocação política
A saída da recessão teria sido mais rápida se houvesse uma recuperação da confiança. Um estudo do Itaú divulgado há poucos dias mostra que há uma correlação forte entre confiança e crescimento. No modelo matemático do banco, um nível de confiança empresaria como o registrado em janeiro, de 98 pontos (no índice da FGV), está correlacionado a um crescimento do PIB de 1,7% ao ano. O índice caiu para 94 pontos em fevereiro, nível correlacionado a um crescimento de 0,8%.
A confiança empresarial é influenciada por fatores que vão da capacidade de gestão do governo, passam pela percepção de demanda do mercado e chegam a questões internacionais, como a indefinição do Brexit. Agora, até uma nova greve dos caminhoneiros entrou na agenda de riscos. É complexo, portanto, mas depende bastante de Bolsonaro neste momento, já que a tendência das contas públicas é a grande interrogação sobre o futuro próximo do país. Muitos empresários têm declarado que estão segurando seus planos enquanto não entendem como será a votação da reforma da Previdência, em especial.
A indústria teve um primeiro bimestre ruim. Além da demanda ainda fraca em vários segmentos, como construção civil, a tragédia de Brumadinho afetou uma das maiores empresas do país. A perspectiva para a produção industrial ainda é nebulosa porque o Brasil parece ter uma baixa competitividade crônica, que nem mesmo o câmbio mais competitivo tem ajudado a resolver. As reformas também são importantes para o setor, principalmente se reduzirem rapidamente custos com burocracia.
A equipe econômica promete lançar em breve um pacote de desburocratização e de estímulo à produtividade, incluindo a capacitação através do Sistema S. São medidas esperadas pelo setor produtivo e podem ter efeito no médio prazo, mas não substituem a melhora nas contas públicas. O mercado precisa ter certeza de que não haverá aumento de impostos nos próximos anos e isso só é possível com a reforma da Previdência. Sem ela, as empresa vão trabalhar com um cenário no qual saberão que em algum momento a conta do déficit virá na forma de mais tributos ou mais juros (por causa da inflação).
Ao assumir, o governo Bolsonaro tinha a chance de acelerar reformas e fazer, inclusive, com que o crescimento neste ano fosse maior do que o esperado pelo mercado. Os tropeços dos primeiros cem dias foram suficientes para essa possibilidade ter sido descartada pelos economistas. O trabalho agora é para evitar que o crescimento esperado vire um pibinho de fato.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião