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Por medo dos caminhoneiros, ‘dilmonomics’ volta ao preço do diesel

Preço do petróleo em alta levou a Petrobras a subir o valor do diesel. Bolsonaro mandou baixar. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (Foto: )

Faz algumas semanas que o governo federal vem monitorando as movimentações dos caminhoneiros e transportadores. A insatisfação com a falta de fiscalização sobre a aplicação da tabela do frete, somada ao aumento recente do preço do diesel, fez os grupos de Whatsapp voltarem a ferver nas estradas. A preocupação é tamanha que o presidente Jair Bolsonaro apelou ao “dilmonomics”, a política de intervenção em preços de energia que marcou o governo Dilma Rousseff.

A Petrobras havia anunciado na quinta-feira (11) que faria um reajuste de 5,74% no preço do diesel nas refinarias. Estava seguindo sua nova política de revisar os preços com um intervalo mínimo de 15 dias. O presidente não gostou e mandou a estatal voltar atrás. A ordem foi obedecida e os preços, que iriam a R$ 2,2662, ficaram nos R$ 2,1432.

Entre o fim de abril e início de maio de 2018, o valor nas refinarias chegou a pouco mais de R$ 2,30 (próximo, portanto, do preço atual). Com o início da greve, a Petrobras anunciou uma redução de 10% no valor enquanto o governo negociava com o movimento de caminhoneiros e empresas de transporte. No fim, foi criado um subsídio que garantia um desconto de 30 centavos por litro – expediente que venceu na virada do ano.

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O governo Michel Temer preferiu o subsídio para não mexer diretamente nas margens da Petrobras. É uma opção menos pior do que o tabelamento de preços, que joga para os acionistas da empresa a conta da pressão política feita pelo setor de transportes, e que foi praticado durante o governo Dilma.

O grande problema de tabelamentos é que eles têm o potencial de consumir o caixa da Petrobras quando o valor praticado fica muito abaixo do preço internacional, que acompanha a cotação do petróleo. O controle de preços da era Dilma, somado ao desvio de bilhões pela corrupção dos partidos que lotearam a estatal, fez com que a Petrobras chegasse a uma situação delicada, com alto endividamento em relação ao seu fluxo de caixa. O ajuste na empresa está sendo feito, incluindo a venda de várias subsidiárias, e já está dando resultado.

Uma nova intervenção nos preços dos combustíveis é um sinal preocupante – tanto que o mercado respondeu e as ações da empresa caíam mais de 5% na abertura do mercado nesta sexta (12). Em seu comunicado, a empresa alega que pode esperar mais alguns para fazer a mudança nos preços. Isso pode indicar que a estatal espera um novo posicionamento do governo, ou alguma inversão no mercado – o preço do petróleo chegou a passar US$ 70 o barril, pressionado por cortes na produção.

O que o governo faria se o petróleo chegar a, digamos, US$ 80 o barril, um cenário que não é impossível no curto prazo? Continuaria com o Dilmonomics, daria um subsídio ou encararia um atrito com os caminhoneiros? Esse tipo de dúvida precisa ser superada com uma política de longo prazo para o preço dos combustíveis.

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