Era uma vez Luislinda Valois, ministra dos direitos humanos.
Abre parêntese: eu não sabia, juro pela alma do meu vizinho, que havia um ministério dos direitos humanos. Fecha parêntese.
Luislinda queria muito somar a aposentadoria de desembargadora ao salário de ministra e amealhar razoáveis sessenta e um mil e mais algumas pratinhas para defender os direitos humanos de todos aqueles que nunca viram nem sessenta, nem trinta mil reais, nem as pratinhas. Eu olharia o carro da Luislinda pelas pratinhas.
Pois ela apresentou ao governo o pedido.
Filiada ao PSDB, irmãozinho mimado do PT, comparou sua vida à vida dos suecos, minto, dos escravos antes da abolição. Ela garante que sua situação “se assemelha ao trabalho escravo”. Não, não é bem isso, vou ser mais preciso. Ela diz que “sem sombra de dúvidas se assemelha ao trabalho escravo”.
Sem. Sombra. De. Dúvidas.
Legalistas se apressaram com as justificativas: Luislinda só reivindica o que é seu. Ela contribuiu, aposentou-se, recebe por isso. E, se ainda trabalha, deve receber o salário correspondente ao cargo. Como o teto do funcionalismo não permite que receba mais do que determinado valor, ela fica com um pedacinho do salário. Daí o trabalho dito escravo: ela trabalha e não recebe pelo trabalho que faz.
Não sei se Luislinda trabalha bem ou mal, se merece ou não merece. Mas um ministro, supõe-se, é um servidor público. Trabalha, presume-se, para o bem público. Se ela, como aposentada, já recebe quantia vultosa, pretender acumular esta com o salário pode ser juridicamente correto, mas do ponto de vista ético sua comparação ao trabalho escravo é ultrajante.
Que feio, Luislinda.
Compadecido de suas dores, sugiro que Luislinda Valois ingresse com pedido de imediata exoneração, porque se o seu trabalho “sem sombra de dúvidas se assemelha ao trabalho escravo”, não há que se permitir um dia sequer a mais em situação de tal sofrimento. Que desfrute do merecido descanso, da merecida aposentadoria.
Governo, liberte Luislinda. Eu sou Luislinda. Somos todos Luislinda.
A repercussão não foi das melhores, como se imagina, e Luislinda, cuja convicção dura menos do que preço de tomate na era Sarney, desistiu do pedido. Pedido legítimo em si mesmo. Se ela só tivesse pedido o que pediu, sem retórica, ficaria por isso. No entanto, ao invocar o sofrimento escravo, ao comparar sua condição à do escravo, Luislinda traiu sua verdadeira motivação: que não é a legalidade do pedido, mas a imoralidade luxuriosa do acúmulo.
O Brasil é um soneto cuja emenda está condenada a sair pior, sempre muito pior.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
Eduardo Bolsonaro diz que Trump fará STF ficar “menos confortável para perseguições”
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT
Deixe sua opinião