Em muitos aspectos, é fundamental que haja um movimento ateu atuante e forte. Porque eu não tenho nem um tipo de saudade do mundo controlado pela religião. O mundo laico tem suas inúmeras vantagens.
Agora, existem muitos tipos de ateísmo. E certamente é mais do que necessário que os ateus se articulem, porque é inadmissível continuar imaginando um mundo onde pessoas possam ser perseguidas por crença ou descrença religiosa.
Mas acontece que existem algumas vertentes do ateísmo, que ganharam muita expressão polemizando recentemente com o cristianismo fundamentalista. O grande erro é tomar o fundamentalismo como a expressão legítima de fé. Não é não. Passa longe de ser a única, é talvez a que melhor se articula na política institucional, especialmente nos EUA e no Brasil. Mas é o lado do cristianismo mais frágil em questão de argumentação teológica.
Pode-se dizer, na verdade, que o fundamentalismo vive à sombra de um banimento e um interdição da teologia no meio eclesiástico – fenômeno que seria muito estranho na Europa, mas que é bem comum nestes lados mais para o ocidente.
Esse cara da foto é o historiador Terry Eagleton. Marxista britânico, pode ser considerado membro da chamada Nova Esquerda Inglesa, que tem dado os melhores frutos do marxismo recente. Também pode ser inserido entre os pioneiros dos chamados Estudos Culturais, principalmente por seus trabalhos sobre literatura.
E o que tem ele a ver com o assunto aqui? Porque essa foto?
A foto serviu para ilustrar um texto do Paulo Camargo aqui no Caderno G alguns dias atrás. Uma dupla resenha de um livro do Eagleton e outro do historiador Paul Johnson.
Ambos os historiadores entram no debate com os ateus mais famosos – Richard Dawkins e Cristopher Hitchens. De Eagleton, a editora Nova Fronteira publicou uma série de conferências reunidas no livro O debate sobre Deus. De Johnson, a mesma editora trouxe uma biografia de Jesus. Johnson também é o autor da mais interessante História do Cristianismo disponível em português.
Certamente não são autores que pretendam qualquer apologia da religião. Eles são é muito críticos dela.
Difícil um historiador não ser.
Mas o problema é que simplesmente construir um discurso positivista e “científico” de que Deus não existe é um caminho fácil demais – e muito pobre.
Se os historiadores conhecem muito bem o problema da religião, pois se deparam com ela em muito de suas investigações, é certo que a ciência não oferece certezas melhores, nem uma coisa pode substituir a outra.
Entender como os cientistas fazem ciência e como os religiosos fazem teologia são assuntos muito interessantes para a História Cultural.
E combater o obscurantismo religioso não é só tarefa para ateus. É também para cristãos liberais como este blogueiro. O que não dá é para imaginar que a “verdade” religiosa possa ser substituída pela “verdade” científica. Ambos são discursos ideológicos com suas limitações inerentes.
Aliás, não custa lembrar, Eagleton tem um livro clássico sobre ideologia, publicado pela Boitempo.