O Coritiba publicou em seu site oficial a entrevista do presidente Rogério Bacellar com perguntas de torcedores. Entrevista do presidente Rogério Bacellar até a página 2. Os vices André Macias e Ernesto Pedroso, além do gerente Maurício Andrade, também participaram. Naturalmente, uma tentativa de passar ideia de unidade em momento de crise com a saída de Ricardo Guerra e João Paulo Medina. Embora alguém possa ver nisso sinal de insegurança do presidente Bacellar em responder algumas questões por não dominá-las.
Seja como for, o resultado foi uma entrevista extensa. O vídeo tem 27 minutos, o que quase fez sangrar os ouvidos e dedos da colega Jennifer Koppe, que transcreveu o material. E também exigirá um esquartejamento dos temas aqui no Intervalo. Começo com a turbulência política causa pela saída de Guerra e Medina. Farei também um post sobre Pro Tork e Alex. Se ainda ficar algo pelo caminho, faço outro. Combinado? Vamos lá…
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Antes de mais nada, bom situar a entrevista na semana alviverde. O Coritiba convidou os torcedores a mandar perguntas com Guerra e Medina já fora do clube, mas gravou ao mesmo tempo que os dois divulgavam cartas mais contundentes (principalmente de Medina) sobre a saída. Ou seja, nem as perguntas nem as respostas foram afetadas por essas duas manifestações. Destaco os seguintes trechos. Comento ao fim de cada tópico, em itálico.
Aplicação do projeto
“Existe o projeto do Coritiba que estavam tocando. O Ricardo Guerra na parte de reestruturação administrativa e financeira e o professor Medina no futebol. Esse projeto está sendo cumprido religiosamente. Nós estamos com foco neste projeto desde o início da nossa gestão, e não vamos sair da nossa vontade de realizar o que nós estamos fazendo. Por que isso? Porque o Coritiba precisa de uma reestruturação total e nós estamos fazendo.”
COMENTÁRIO DO INTERVALO: Bacellar acaba reforçando o ponto central de divergência no clube. Para quem saiu, havia um projeto que tinha ficado lá atrás na eleição. Para quem ficou, esse projeto vem sendo cumprido. A carta de Medina é direta sobre o assunto: a perda do título estadual abalou a convicção no projeto.
G-5 rachado
“Não existe, não existiu e não vai existir qualquer desavença entre o nosso G5 e o Ricardo Guerra e o professor Medina, a quem nós só temos que agradecer ao trabalho que desempenharam. Sempre nós trabalhamos para o Coritiba e a nossa vontade, a nossa firmeza, é que o Coritiba fique e nós passamos. O projeto é do Coritiba e não de pessoas.”
COMENTÁRIO DO INTERVALO: O G-5 já nasceu, digamos, mal colado. Juntou três correntes políticas do clube cujas únicas afinidades eram torcer pelo Coritiba e querer tirar Vilson Ribeiro de Andrade da presidência. O acerto de contas de campanha amoleceu ainda mais essa liga, que virou farinha no dia a dia do clube. Isso é fato, embora seja compreensível a negativa de Bacellar. Chamo atenção para “o projeto é do Coritiba e não de pessoas”. Guerra, Medina, Alex e Marcelo Almeida trabalharam quase um ano inteiro no projeto. Um projeto que nasceu para ter Guerra como presidente. As coisas mudaram. Guerra e Medina entraram no clube e parece compreensível um certo sentimento de paternalismo de um lado (deles) e algum ceticismo do outro (Bacellar, Macias, Pedroso). Os primeiros achando que o projeto era aquele e bastava implementá-lo. Os outros vendo excessos ou pontos que poderiam ser diferentes. Em um meio movido a vaidade e resultados como futebol, isso vira nitroglicerina.
Transparência
“Nós não temos dificuldade nenhuma para implementar transparência. O Coritiba é um clube transparente. Nós vamos passar todas as informações possíveis e impossíveis, nós não vamos ter dentro do Coritiba esqueletos e outras coisas mais. Nós temos uma radiografia total do Coritiba , aonde nós vamos demonstrar para o Conselho Deliberativo como é que pegamos o Coritiba e como é que vamos deixar daqui a três anos.”
COMENTÁRIO DO INTERVALO: Esse ponto foi batido incisivamente por Ricardo Guerra na sua segunda manifestação. Um ponto é claro: a chapa prometeu um Portal da Transparência. Não entregou. E não entregou em partes porque o Conselho achou melhor segurar algumas informações, além de haver vários aspectos protegidos por cláusulas confidenciais. Tudo perfeito, mas com um senão: ninguém obrigou a chapa a prometer. E se alguém apoiou o grupo por causa da promessa de transparência, tem o direito de cobrar.
Auditoria
“Nós contratamos uma auditoria internacional, uma empresa que tem uma aceitação em todas as multinacionais, em todos os grandes clubes de futebol, já fez auditorias neles e estamos fazendo de forma simplesmente independente. Inclusive por sugestão do Ricardo Guerra, tinha dois conselheiros e um associado que faziam parte de uma comissão para acompanhar o trabalho da auditoria. Nós vamos continuar com essa auditoria, vamos mostrar ao conselho o resultado da auditoria. Ninguém vai colocar embaixo do tapete nada. Nós queremos ter o retrato real do Coritiba, não um retrato que não existe.”
COMENTÁRIO DO INTERVALO: A diretoria atual demonstrou desde sempre enorme disposição em cavocar e expor informações da gestão Vilson Ribeiro de Andrade. Perfeito: faz parte do jogo. Mas precisa ter o mesmo rigor com suas próprias contas. Seria saudável o clube abrir despesas de operações que tenham despertado dúvida. Como a doação de R$ 200 mil para a campanha de Ricardo Gomyde na FPF, no fim bancada por membros do G-5. A cúpula alviverde botou a mão no bolso só no início ou depois que a história vazou? Ou a viagem para a Turquia, em missão oficial ao lado de Alex. Na entrevista Macias fala em aporte da Turkish Airlines. Pagou tudo (passagem, hospedagem, traslado, alimentação etc.) de toda a comitiva? O clube gastou algo (o que seria justificável, por se tratar de missão oficial) e com quem? Alguém precisou pagar do bolso por uma viagem com compromissos a serviço do Coritiba? Lembrando que hoje em dia não se pode aceitar que dirigentes fiquem tirando do bolso para cobrir compromissos do clube, por não ser saudável que se tornem credores do time que dirigem. E restringir essa informações ao Conselho Deliberativo é prática de um futebol que não existe mais. O Coritiba tem 23 mil sócios em dia que têm o direito de receber toda a informação de como o clube está gastando o dinheiro da sua mensalidade.