Reza uma das boas lendas do futebol que na Copa de 1958 o técnico Feola bolou um esquema tático minucioso para que a seleção brasileira derrotasse a União Soviética. Pelo planejamento do treinador, Garrincha driblaria três adversários e cruzaria a bola na área. Garrincha, que ouvia a preleção, retrucou: “mas o senhor já combinou com russos?”.
A situação parece se repetir no acordo que a prefeitura de Curitiba firmou com os empresários que operam o transporte coletivo na cidade. Anunciaram ônibus novos, o congelamento da tarifa social e a retirada das ações que tramitavam na Justiça, mas parece que esqueceram de combinar com os russos; neste caso os motoristas e cobradores.
É certo que esse poder de negociar os termos da concessão fica mesmo nas mãos dos empresários do transporte e do executivo municipal, mas como muitos dos pontos acordados entre empresas e prefeitura envolviam os motoristas e cobradores, as partes poderiam ter imaginado que nem tudo sairia como combinado.
A data-base de motoristas e cobradores foi no dia 1º de fevereiro, mas como não houve definição até agora, o sindicato que representa a categoria (Sindmoc) entrou com ação de dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho na última sexta-feira (16).
Mesmo com a ação judicial, o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, afirma que as negociações com os empresários continuam. Os patrões ofereceram reajuste pelo INPC, que fechou o ano em 1,87%, os trabalhadores começaram pedindo 10% e agora já negociam aumento de 5%.
Além disso, os trabalhadores se queixam do congelamento dos anuênios e da possibilidade de extinção de postos de trabalho. Isso porque a proposta dos empresários envolve, segundo Anderson Teixeira, o aumento da carga horária dos trabalhadores e a previsão de curso para requalificação de cobradores.
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O fim da função do cobrador é um fantasma que assusta a categoria, especialmente depois de o acordo entre prefeitura e empresários prever a modernização da bilhetagem.
Se patrões e empregados não chegarem a uma definição e a decisão judicial for generosa com cobradores e motoristas, a prefeitura corre o risco de não conseguir manter a promessa de congelar a tarifa em R$ 4,25, já que o gasto com pessoal equivale a cerca de 50% da tarifa técnica, que hoje está em R$ 4,06. Portanto, se o impacto do reajuste for maior que essa gordura conseguida com o aumento de 15% que aconteceu em 2017, Greca fica na incômoda posição de rever o congelamento ou buscar outra forma de manter sua promessa.
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