Desde que a revista IstoÉ divulgou um áudio em que Deonilson Roldo, poderoso e discreto braço direito do ex-governador Beto Richa (PSDB), foi gravado em uma aparente tentativa de dissuadir a construtora Contern de participar da licitação da PR-323, os dias no Centro Cívico têm sido intranquilos.
Dois dias depois de o áudio vir a público, soube-se que o juiz Sergio Moro expediu um despacho determinando a abertura de inquérito para apurar a suposta ação do governo em benefício da Odebrecht na rodovia no Noroeste do estado. Nesse momento, os corredores do poder já estavam alvoroçados, mas havia mais por vir.
Na segunda-feira (14), dois dias depois do despacho e quatro após a gravação de Deonilson, a RPC apresentou os vídeos da delação de Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor, empresa por onde escoava o dinheiro que deveria ir para a construção de escolas, conforme esquema revelado pela operação Quadro Negro, deflagrada pela Polícia Civil.
A delação de Souza atinge em cheio o ex-governador Beto Richa e sua tropa de choque e acerta de raspão a família Barros. Contra o tucano e aliados como Ademar Traiano e Valdir Rossoni há graves acusações de que suas campanhas teriam sido abastecidas com dinheiro desviado pelo esquema.
Contra os Barros/Borghetti, o que há é uma história de desvio que correu paralela ao esquema. Para resolver a situação financeira do irmão da governadora Cida Borghetti (PP), Ricardo Barros (PP) teria feito um acordo nada republicano com o dono da Valor. Como Juliano Borghetti – que já foi vereador em Curitiba – não pode assumir um cargo no estado por ter se envolvido em uma briga de torcida durante um jogo do Atlético Paranaense, em 2013, Barros teria organizado uma triangulação para que o cunhado recebesse R$ 15 mil mensais da construtora Valor; que em contrapartida poderia nomear alguém na vice-governadoria, cargo então ocupado por Cida. Segundo Souza, o esquema durou três meses e R$ 45 mil foram pagos a Juliano Borghetti. Os pagamentos eram feitos em dinheiro na sede da empreiteira.
Passadas as três ondas do terremoto, palacianos agora avaliam os ferimentos e reavaliam relações.
Por enquanto, o que há de mais evidente é a imposição de dificuldades às candidaturas de Richa ao Senado e de Cida ao governo, além de um estremecimento das relações do grupo político do ex-governador com a turma dos Barros.
A aliança eleitoral que vinha se desenhando como certa começa a ser cercada de dúvidas. O grupo ligado ao ex-governador não gostou da demissão sumária de Deonilson Roldo e da história alimentada pelo grupo de Cida que alardeava também a demissão de Ezequias Moreira. Os dois são tidos como cargos da cota pessoal de Beto Richa – uma relação que vai além das frágeis composições partidárias.
Independentemente da aliança que faça, Richa agora tem novos problemas a enfrentar em sua campanha. Além dos fantasmas políticos – especialmente o 29 de abril e o congelamento do salário de servidores –, ele agora enfrenta denúncias de corrupção bem delineadas, com vídeos e áudios a serem explorados pelos adversários, além, é claro, das consequências de se estar sob investigação na alçada do juiz Sergio Moro.
Para Cida, as denúncias são mais uma pedra a ser carregada na jornada de se fazer conhecida pelo eleitorado.
Há, porém, implicações para as eleições que são mais graves para o estado que os arranjos eleitorais. Enquanto parte significativa do alto comando político do Paraná se concentra em resolver problemas pessoais nas esferas partidária e judicial, os rumos do estado parecem sujeitos ao sabor de ventos que ninguém sabe ao certo a que direção levam.
Entramos em uma eleição sem discutir um plano de estado, mas circunstâncias; muitas delas policias. Nesse terreno, o que prospera são medidas açodadas e descoladas de um projeto sólido. Não parece haver no Palácio Iguaçu visão de longo prazo que enxergue além de outubro. As eleições são o horizonte.
De certa forma, após essa semana de sucessivos escândalos no terreno político-policial, o Paraná entra no mesmo compasso de espera que assola o Brasil desde 2014.
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