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Convenções serviram para mostrar quem manda nos partidos no Paraná

(Ilustração: Robson Vilalba/Thapcom) (Foto: )

Como quem recorre à astrologia para tentar entender situações pessoais, eu recorro ao discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988 para tentar extrair algum sentido da algaravia pré-eleitoral. Há um motivo prático, além da bela retórica do parlamentar que presidiu a constituinte: as palavras de Ulysses eram uma espécie de plano de voo da nossa recém-estabelecida democracia. Entre tantas outras coisas, ficou claro que se esperava era que o período pós 88 seria marcado pela participação popular nas decisões políticas.

“É axiomático que muitos têm maior probabilidade de acertar do que um só”, sintetizou Ulysses em um trecho de seu discurso.

Desde a promulgação da constituinte, o caráter participativo da democracia foi sendo incorporado pelas instituições públicas. Exemplos – dos mais aos menos eficazes – existem aos montes no setor público. Curiosamente, as instituições que menos parecem ter se dedicado a incorporar a participação popular nos processos decisórios foram os partidos políticos. As convenções partidárias realizadas no Paraná são prova disso. As decisões de cúpula foram a regra – das legendas tradicionais àquelas que se apresentam como novas.

No MDB, por exemplo, a convenção até começou com ares mais democráticos. Marcado para um sábado de manhã, o evento permitiu que militantes de todo o estado marcassem presença e, com o microfone aberto para diversos discursos, os convencionais puderam propor e defender diferentes teses sobre as escolhas eleitorais do partido. No fim das contas, entretanto, os convencionais, muitos dos quais viajaram boas centenas de quilômetros para chegarem à Curitiba, abriram mão da decisão para dar esse poder à cúpula do partido liderado pelo senador Roberto Requião.

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No partido Novo, a situação foi diferente na forma, mas com resultados similares. Às 19 horas, em um escritório de advocacia no Centro Cívico, cerca de 30 filiados estavam reunidos em um auditório prontos para o início do que deveria ser a convenção. Quando o evento começou, o presidente estadual do partido, Ubiratan Guimarães, leu a ata da convenção, que na verdade acontecera minutos antes em uma sala fechada, apenas com a presença dos seis delegados do partido. Após e ler o documento e dar uma breve explicação sobre o funcionamento do processo de convenção, o presidente do partido encerrou o evento menos de 20 minutos após o início.

Outro exemplo de convenção esvaziada politicamente foi a do PSDB. O partido que passou os últimos oito anos no comando do governo do estado e com a maior bancada na Assembleia Legislativa fez o evento na sede do partido, de modo bem mais modesto que em eleições anteriores. O principal problema do encontro, entretanto, foi ter servido apenas para animar a campanha de Beto Richa ao Senado. Ora, certamente os tucanos têm suas divergências de planos e teses e a convenção é o lugar ideal para promover esse embate. O partido que ignora isso ou corre os perigosos riscos da unanimidade ou, pior ainda, silencia suas divergências.

Esses processos partidários foram alvo de críticas do cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná, observador atento do cenário político local. Para o professor, “enquanto os partidos forem tratados como propriedade privada, submetida aos interesses dos clãs familiares, e manuseadas para atender as imediatas intenções dos caciques regionais, não teremos uma democracia consolidada e viveremos nessa contínua crise”.

Cervi definiu esse tipo de postura como o “exemplo cabal do pecado original que nos trouxe até a crise política em que nos encontramos atualmente”.

A solução para esse tipo de problema está, como de costume, muito mais na sociedade que na mão dos caciques partidários ou de outras instituições.

“Só os eleitores e filiados ao PSDB, comparecendo em massa, votando na lista de candidatos, olhando para os perfis dos que se apresentam, excluindo nomes suspeitos, não aceitando favorecimento de parentes e amigos e discutindo a política de coligações é que conseguiremos dar um pouco mais de modernidade ao nosso sistema político”, diz o professor.

Retomando o discurso de Ulysses Guimarães, é possível achar ali pontos que reforçam a necessidade de os filiados questionarem o modo de ação dos caciques partidários. Ao citar a “frase da preeminência da sociedade sobre o Estado”, cunhada por João Fernandes Vieira, herói da Restauração Pernambucana, Ulysses não pensava nos partidos, mas hoje bem cabe uma adaptação interpretativa: “Desobedecer a El-Rey, para servir a El-Rey”.

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