Missa em homenagem aos mortos na PR-323 (Foto: divulgação/Diocese de Umuarama)
As características econômicas da região intensificam o fluxo de veículos e, consequentemente, o risco de acidentes. Segundo prefeito de Umuarama, Celso Pozzobom (PSC), a cidade é referência regional em serviços de saúde e educação. Por isso, é grande o movimento de pessoas de outras cidades que usam a 323 para chegar às aulas e buscar tratamento médico na cidade.
Além dos dramas pessoais, os acidentes na rodovia também causam prejuízo financeiro. Uma conta feita pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) mostra que em 2017 esses custos chegaram a R$ 48,6 milhões, considerando os gastos com hospital, ambulância, seguros, remoção e conserto de veículos, além da perda de produção dos acidentados.
O estrangulamento econômico
A PR-323 é a principal ligação dos municípios do Noroeste ao Anel de Integração do Paraná – a malha de rodovias de 2,5 mil km que interliga todo o estado. Os principais polos econômicos da região são Umuarama, com destaque para a produção moveleira e pecuária; e Cianorte, um dos principais polos têxteis do país. A Fiep e os representes do setor produtivo apontam a situação da rodovia como maior entrave ao desenvolvimento da economia local.
Pelos cálculos da Fiep, o frete na PR-323 tende a ser 41% mais caro que em rodovias em estado considerado ótimo. Uma redução de 1% nesse custo, que poderia ser obtida com a melhoria da via, poderia gerar uma redução de R$ 125 milhões nos gastos do empresariado da região.
“O produto industrializado de Umuarama não tem mais preço competitivo no mercado. Se você comparar um produto daqui com Maringá, o custo de Maringá é muito menor. A rodovia, no estado em que ela está, exige que o caminhão passe por manutenção praticamente a cada viagem feita”, relata Orlando Luiz Santos, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Umuarama.
Integrantes do movimento Vítimas do Descaso (Foto: João Frey/Gazeta do Povo)
Segundo Santos, essa situação está causando um êxodo de indústrias locais. Ele dá exemplos. A Umaflex, indústria de colchões e estofados fundada em Umuarama na década de 1990 expandiu recentemente sua produção com a construção de uma nova planta, mas em vez de manter a operação na região, instalou o novo parque em Conchal (SP). Outra empresa da cidade que optou por crescer longe de Umuarama foi a Hellen Estofados, que está instalando uma fábrica em Aguaí (SP), onde deve investir cerca de R$ 21 milhões.
A infraestrutura precária não afeta apenas os grandes empresários. O engenheiro civil Sergio Frederico, coordenador do grupo Vítimas do Descaso, conta a história de uma pizzaria da cidade que encomenda as caixas para delivery no Rio Grande do Sul. O fabricante, entretanto, não faz as entregas em Umuarama, o que obriga o empresário a fazer viagens regulares a Maringá para buscar as caixas.
As perspectivas
No dia 31 de maio de 2017, como a Odebrecht não conseguiu financiamento para a obra, o Diário Oficial do Estado trouxe a publicação do termo de rescisão da PPP firmada em 2014. Com isso, a duplicação voltou à estaca zero. Segundo o DER, após o distrato foi elaborado um plano de ação com intervenções ao longo dos 216 quilômetros de extensão do corredor rodoviário formado pelas rodovias PR-323, PR-487 e PR-272, entre os municípios de Paiçandu e Francisco Alves.
No último dia 3 de outubro, o DER emitiu a ordem de serviço autorizando o início dos trabalhos em um trecho de 20,7 quilômetros entre Paiçandu e Doutor Camargo. As obras custarão R$ 73,2 milhões e serão pagas pelo governo estadual. Para João Arthur Mohr, consultor de Infraestrutura da Fiep, apesar desse movimento do governo em usar recursos próprios na duplicação, é improvável que o estado tenha dinheiro para bancar toda a obra. Nesse caso, a melhor alternativa seria uma concessão para a iniciativa privada.
Ao contrário do que foi feito na formulação inicial da PPP, Mohr defende que o governo contrate os projetos iniciais de engenharia, e não deixe isso para um Procedimento de Manifestação de Interesse, quando empresas interessadas na obra é que apresentam os projetos.
Em Umuarama, os envolvidos no movimento pela duplicação não se opõem à concessão. Segundo o presidente da OAB de Umuarama, Aldo Henrique Alves, o grupo não tem nenhuma orientação ou exigência em relação a modelagem de financiamento da duplicação. “Nós queremos é que saia”, diz.
O governador eleito, Ratinho Junior (PSD), assinou uma carta de compromisso com as obras. No termo ele se comprometeu a “promover as condições necessárias para a duplicação da PR 323”. Ao longo de sua campanha ele tratou como prioritárias as obras em três rodovias estaduais; a 323; a PR-092, no Norte Pioneiro; e a PR-280, que passa pelas regiões Sudeste e Sul do Paraná.
Projetos foram doados ao governo
Interessada em fazer a duplicação da PR-323, a Odebrecht assumiu o ônus de fazer o projeto da obra. Os levantamentos e projeções de engenharia custaram cerca de R$ 9 milhões – caso a empresa não vencesse a licitação, seria reembolsada pela empreiteira ganhadora. Segundo o DER, a concessionária Rota das Fronteiras tinha a obrigação contratual de elaborar os projetos executivos. Em janeiro de 2017, a Odebrecht deixou a sociedade, cedendo todos os direitos econômicos à TGA Participações. Em junho de 2018, a TGA formalizou a doação dos projetos e estudos para o DER-PR.
Colaborou: Kátia Brembatti
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