Em 2011, quando o então deputado federal Abelardo Lupion (DEM) disse ao repórter André Gonçalves, nesta Gazeta, que o discurso de direita teria potencial para empolgar 20% dos brasileiros, muitos leitores devem ter achado o parlamentar excessivamente otimista. Uma pesquisa da CNI divulgada poucos dias antes dessa declaração mostrava que o recém-empossado governo Dilma Rousseff (PT) tinha 73% de aprovação.
Essa era a época da Dilma linha-dura, que promovia “faxina-ética” nos ministérios. E era a época também da crise de identidade no DEM que tentava se renovar ao mesmo tempo em que buscava sobreviver na oposição – algo difícil para um partido que havia comandado o Brasil nos últimos 500 anos, como disse Otávio Frias Filho. Naquele momento, nada poderia soar mais esquisito, portanto, que um direitista otimista.
Nos anos em que o PFL foi jogado pelo PT para a oposição e andava como um desses barões falidos de novela das oito, Lupion manteve relevância como um dos cabeças da bancada ruralista, que mesmo nos governos Lula e Dilma se manteve relevante no Congresso Nacional.
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Oito anos depois, os ventos mudaram e os 20% de direita projetados por Lupion foram pouco diante do que se viu nas urnas em 2018. E o paranaense, que nunca deixou de defender ideias como a criminalização do MST e o porte de armas – que hoje se apresentam como novidade –, soube aproveitas a onda bolsonarista. Lupion agora está de volta ao centro do poder, como braço direito de Onyx Lorenzoni (DEM), ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PSL).
É, sem dúvidas, o político paranaense mais próximo do centro do poder. De uma perspectiva bairrista, Lupion está para Bolsonaro quase como Gleisi Hoffmann (PT) esteve para Dilma e Rodrigo Rocha Loures para Temer (MDB).
Há, além da vitória de Bolsonaro, outros fatores que fortalecem o capital político de Lupion.
O primeiro deles foi a eleição de seu filho, Pedro, para exercer seu primeiro mandato como deputado federal. Enquanto boa parte dos novatos ainda se bate para realizar tarefas comezinhas na Câmara, Pedro Lupion circula e articula com a mesma facilidade que o fazia na Assembleia Legislativa do Paraná. O Congresso é, afinal, um lugar conhecido: o trabalho do pai.
O segundo fator é a vitória de dois parlamentares do DEM na disputa pelo comando das duas casas do Congresso.
Se na Câmara a vitória de Rodrigo Maia foi sobretudo por mérito individual, no Senado a derrota que Davi Alcolumbre (DEM-AP) impôs a Renan Calheiros foi trabalho em equipe. E nessa equipe estavam os Lupion, muito próximos do senador amapaense. Próximos ao ponto de Abelardo ficar hospedado na casa de Alcolumbre enquanto procura um imóvel para morar em Brasília, como revelou a repórter Amanda Audi no The Intercept Brasil.
Na tensa sessão de sexta-feira (1) quando o Senado Federal se reuniu para escolher seu presidente, enquanto Alcolumbre resistia às investidas do grupo de Renan e fazia manobras regimentais para que o voto fosse aberto, Abelardo Lupion articulava com os senadores em plenário e Pedro batia no ombro de Alcolumbre, pedindo serenidade ao amigo.
Em um vídeo divulgado após a vitória do DEM no Senado, Alcolumbre e Pedro Lupion aparecem comemorando o resultado. No vídeo, o deputado retrucou, nove anos depois, a frase de Lula que dizia que o DEM deveria ser extirpado da política nacional.
A trajetória política com altos e baixos da família Lupion tem raízes no patriarca, Moysés, ex-governador do Paraná nas décadas de 1950 e 1960. Um dos homens de negócio mais bem-sucedido do país, Lupion perdeu quase todo seu patrimônio após ser alvo de denúncias de corrupção. Com a trajetória oscilante, ele ocupa posição controversa na história política do estado.
Na visão crítica – conforme registrado pelos cronistas Rubem Braga e Arnaldo Pedroso d’Horta em viagem ao Paraná na década de 1950 – a administração Lupion transformou o negócio de terras no Paraná “numa negociata de proporções inacreditáveis” e o Departamento de Geografia, Terras e Colonização “em uma verdadeira orgia”.
Para aliados, como seu biógrafo Raul Vaz e o advogado, jornalista, escritor e historiador Valfrido Pilotto, Moyses foi “impiedosamente massacrado moral e materialmente”, vítima de “esfaimados lobos” que queriam destruir sua “personalidade, honra e méritos”.
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