Entre os “novos” políticos que se colocam como pré-candidatos a presidente da República em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC, futuro Patriota) e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), são apontados pelos eleitores como os mais capacitados a bater Lula nas urnas. Mas o comportamento e a imagem que eles passam dividem opiniões na população.
Na quarta e última reportagem da série “O que os brasileiros esperam do futuro presidente a um ano das eleições”, que percorreu 3,5 mil quilômetros de carro por diversas cidades de Minas Gerais, considerada um espelho do Brasil, os eleitores relatam as suas impressões sobre os principais adversários do ex-presidente petista.
O ex-militar Bolsonaro é visto como alguém firme, linha dura e capaz de dar jeito no país para alguns, mas também é considerado fascista e homofóbico por outros. Para eles, Doria só mostrou até agora que é um bom marqueteiro. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) não empolgam, enquanto o tucano Aécio Neves (PSDB) se mostrou uma grande decepção.
Dono de uma loja de bebidas no Mercado Central de Belo Horizonte, o comerciante Marco de Patrocínio afirma que está difícil escolher um candidato a presidente, mas acha que, no momento, Bolsonaro “talvez atraísse bem o mercado e as pessoas”. Ele diz que conhece e aprova as propostas do deputado: “É bem contraditório ao que vivemos hoje. O que agrada é a linha dura, é mostrar coisas que não acontecem no país hoje. O Brasil hoje está jogado”.
Bem longe dali, no Vale do Jequitinhonha, município de Jacinto, o fazendeiro Hugo Ribeiro segue o mesmo raciocínio. Questionado se já tem candidato, responde: “Rapaz, eu tô pensando no Bolsonaro. Pela firmeza das palavras, entendeu? Porque o que nós temos aí é só vergonha”.
Na rica cidade de Betim, o delegado aposentado da Polícia Federal Walter Cândido, 82 anos, decepcionado com Lula, em quem já votou, analisa o candidato Bolsonaro: “Ele tem algumas ideias boas, mas não sei se é representativo, se tem condições”. E fala do ponto negativo do deputado: “Ele é um pouco radical…, é bem radical. Mas pode ser uma solução, não sei. Mas não vejo ele em condições de ganhar uma eleição”.
Em Contagem, o analista de sistemas César Augusto de Oliveira, 30 anos, demonstra estar com um pé atrás em relação a Bolsonaro. “É um que está vindo com umas ideias ditas diferentes, mas eu não boto muita fé nele não. As pessoas acabam por acreditar por conta da descrença total da política. Começam a procurar algo diferente, mas não necessariamente o diferente vai ser o melhor”.
Má fama
Carlos Henrique, 42 anos, professor estadual em Contagem, tem posição bem definida sobre Bolsonaro: “É uma pena a gente ter pessoas como aquele indivíduo homofóbico, xenófobo, racista, no nosso meio político, e ainda tem pessoas que aceitam. Felizmente são poucos. Mas ele também tem o direito (de se candidatar)”.
Leia a 1ª reportagem da série: Corrupção, saúde e desemprego: os desafios do futuro presidente a um ano das eleições
A reação é semelhante quando a arquiteta Giovana Merli, 29 anos, professora universitária em Uberlândia, é questionada sobre Bolsonaro: “Nossa, não devia nem existir. Primeiro que ele tem um discurso fascista, de exclusão, violência, ódio, que não deveria ser nem permitido num representante público”.
Indagada sobre a candidatura do deputado, Camila Silva, 21 anos, estudante de arquitetura na capital mineira, não titubeia: “Acho as ideias dele um pouco radicais demais, eu não votaria”.
Pode ser bom, pode ser ruim
Já o tucano Doria ainda não ganhou a confiança do eleitorado, embora chame atenção por suas propostas inovadoras. “Ele é o novo, o inesperado. Pode ser que aconteça alguma coisa boa ou alguma coisa ruim. Pode ser que seja uma proposta que venha a amadurecer”, afirma o comerciante Marco de Patrocínio, de Belo Horizonte.
O analista de sistemas César Augusto de Oliveira relata as suas dúvidas em relação ao atual prefeito do PSDB. “Foi um que veio com ideias interessantes, com uma participação interessante, fez algumas parcerias. Só que, assim como os outros políticos, ainda fico com o pé atrás em relação a algumas de suas decisões. Algumas coisas que ele tem feito em São Paulo, apesar de interessantes, não sei se é para trazer um bem mesmo para a população ou se está apenas focado na próxima eleição”.
Para Carlos Henrique, professor estadual, conhece e rejeita totalmente o prefeito de São Paulo: “João Doria faz parte daquele grupo que nunca fez nada para os pobres. Sempre mandou no Brasil durante anos e continua agora depois da saída da Dilma”.
Giovana Merli também rejeita o tucano: “Acho que é um marqueteiro”. Diz não acreditar que ele possa fazer um bom governo como presidente: “Ele vai continuar mais do mesmo, classe dominante”.
O segundo Collor
Eleitor de Lula, o pescador Gilvan Ferreira Mendes (foto acima) conhece Ciro Gomes, mas descarta essa opção: “Desculpa eu falar, mas, pra mim, não tem valor não. É muito fraco”. O empresário Marco de Patrocínio também rejeita o pré-candidato pedetista: “É aquele que fez barulho e, na verdade, está muito igual a todos os outros”. O aposentado Walter Cândido resume: “Não confio, não acredito. Acho que vai ser um segundo Collor”.
Giovana Merli vê Ciro como uma alternativa: “Pode ser que sim, mas não tenho muita certeza. Acho que, sem o Lula, eu votaria nele. Já vi algumas palestras dele e concordo com o que ele fala, as propostas, a leitura da conjuntura que ele faz”.
Leia a 2ª reportagem da série: Pré-candidatos são ilustres desconhecidos nos rincões do país
Marcos Ferreira, comerciante em Uberlândia, aprova o ex-ministro: “O Ciro eu gosto. Ele é uma pessoa mais responsável naquilo que fala, com mais firmeza. Eu ainda não vi coisas erradas igual a esses outros bandidos, roubando. Ainda não vi o nome dele envolvido nessas coisas”.
Marina, a sumida
Candidata a presidente duas vezes, Marina também não tem a confiança do eleitorado. César Augusto de Oliveira pergunta, com ironia, quando questionado sobre a pré-candidata da Rede Sustentabilidade: “A sumida, a que chegou, depois não aparece mais, não dá as caras. Não tenho nada a declarar sobre ela”. A estudante Camila Silva comenta: “Apesar de ter umas ideias boas, acho que ela é muito fraca politicamente”.
No Vale do Jequitinhonha (foto abaixo), o pescador Gilvan Mendes tem Marina como segunda opção: “Eu sou mais a Marina, viu? Se o Lula não puder candidatar. O pessoal tirou Dilma à força, e desculpa eu te falar, um ladrão tirou a Dilma de lá, entendeu. E, se Marina ganhar, é perigoso tirar ela de lá, falar que ela é analfabeta, é isso e aquilo”.
O professor Carlos Henrique gosta de Marina, mas faz ressalvas: “Eu gosto da Rede e da Marina, mas acho que aí é uma questão do Brasil, da política como um todo. Um partido pequeno para crescer tem que se aliar a outros, e aí acaba arruinando as coisas. A gente vê a Rede com uns nomes bacanas, mas, nos municípios, a gente vê a Rede toda vendida como um partido de aluguel como outro qualquer”.
Aécio, a grande decepção
Envolvido no escândalo das gravações da JBS e afastado do Senado por decisão da Justiça, Aécio Neves (PSDB) ainda aparece nas pesquisas eleitorais. Entre todos os possíveis candidatos, ele é a única unanimidade: todos o rejeitam.
Decepcionado com Lula, o aposentado Walter Cândido também se surpreendeu com o ex-governador mineiro: “Conheci muito o avô dele (Tancredo Neves), tive a oportunidade de trabalhar com o avô e com o pai dele. Não esperava que fosse nos decepcionar da forma como decepcionou”.
O empresário Carlos Patrocínio, também fala da sua decepção: “É igual ao Alckmin. Todos esperavam algo grande dele. Nós, mineiros, esperávamos isso, e ele não foi assim”. César Augusto é mais direto: “É mais um dos malandros do PSDB. Mais um dos que, infelizmente, não vão para a cadeia pelos crimes que cometem”.
Leia a 3ª reportagem da série: Deus nos sertões e o diabo nas grandes cidades. Quem é esse candidato?
O fazendeiro Hugo Ribeiro segue no mesmo tom: “O Aécio é muito cara de pau. O que ele fez com as professoras. O que aconteceu com o helicóptero dele. Aquilo tudo é fachada, deve mais do que os outros. Nós não temos candidato forte agora pra Minas Gerais. Tá difícil!”.
A estudante Camila Silva gosta das ideias de Aécio, mas não dos seus atos: “As ideias dele são mais próximas das minhas, mas depois desses escândalos não é o candidato em quem eu votaria”.
O comerciante Marcos Ferreira é outro que se decepcionou com Aécio. Diz que agora não votaria nele “de jeito nenhum”. “Já votei muitas vezes, mas não voto mais. Decepcionei com ele agora, nessas eleições. Essa sujeira dele aí, esse roubo, essas falcatrua.”
Ao fim da expedição por Minas Gerais, ficou uma certeza. “Novo” ou não, o sucessor de Michel Temer deverá ser alguém que unifique novamente o país, ouça os anseios da população e resolva de vez a crise política que tanto mal faz ao nosso Brasil nos últimos anos.
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