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A vida dura dos policiais federais que ganham até R$ 52 mil “limpos” no exterior

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo (Foto: )

Um grupo de 30 policiais federais que atuam como adido em embaixadas brasileiras na Europa, Estados Unidos e países da América do Sul, África e Ásia não tem do que reclamar – pelo menos no que se refere à remuneração. A renda mensal bruta de delegados destacados no exterior chega a R$ 56 mil, mas um perito instalado em Singapura recebe R$ 57 mil. Já agentes têm salário de R$ 40 mil. Como não pagam Imposto de Renda nem sofrem o abate-teto (regra que limita a remuneração no serviço público ao teto constitucional) sobre indenizações pagas no exterior, os descontos são mínimos. Líquido, os salários variam de R$ 38 mil a R$ 52 mil.

Os supersalários pagos no exterior não são exclusividade dos policiais federais. Reportagens da Gazeta do Povo publicadas em agosto mostraram a “la dolce vita” de militares lotados em embaixadas do Brasil mundo afora, além dos casos dos próprios diplomatas, que têm altos rendimentos. Nos três casos, grande parte da renda vem da “indenização de representação no exterior” – uma parcela mensal fixa, variável em cada país, mas considerada como “indenização” e não como renda, não sendo contabilizada para o cálculo do teto remuneratório.

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Policiais, militares e diplomatas sediados no exterior também recebem auxílio-moradia, auxílio-familiar, ajuda de custo, auxílio-funeral e diárias para alimentação e hospedagem em viagens a serviço – tudo em moeda estrangeira. A ajuda de custo no exterior cobre despesas da viagem, mudança e da nova instalação. Tem o valor de duas remunerações básicas e uma indenização de representação no exterior. O auxílio-familiar cobre despesas de educação e assistência dos dependentes do servidor no exterior.

Vista para Fontana de Trevi e Champs-Élysées

O perito Silvino Schlickmann recebe R$ 57 mil bruto – sendo R$ 52 mil líquido – no Oficialato da Polícia Federal em Singapura. Ele trabalha diretamente no Complexo Global para a Inovação da Interpol, dedicado a investigações de crimes cibernéticos. A sua remuneração básica é de US$ 12,4 mil, o que corresponde a R$ 40 mil – acima do teto constitucional. Recebe mais US$ 5,3 mil de indenizações.

O delegado Valdson Rabelo trabalha na embaixada brasileira em Roma (foto abaixo), na Piazza Navona, distante mil metros da Fontana di Trevi – a mais tradicional fonte barroca da cidade, cenário natural de muitos filmes. Ele tem renda de R$ 56 mil bruto, ou R$ 51 mil líquidos. Na embaixada, há ainda o agente da PF Frederico Araújo, com salário de R$ 41 mil. Em junho, com o 13º salário, a sua renda chegou a R$ 62 mil.

Fachada da embaixada do Brasil em Roma

Divulgação/Itamaraty

O delegado Roberto Cordeiro trabalha na embaixada brasileira em Paris, na via Cours Albert, distante 100 metros do Rio Sena e a meio quilômetro da Avenida Champs-Élysées. Tem renda bruta de R$ 52 mil. O agente Leonardo Soares Lima recebe R$ 38 mil – o dobro do que ganhava no Brasil. O agente Aldi de Souza, oficial de inteligência criminal, trabalha no Oficialato de Lyon, onde atua em conjunto com a Interpol. Também ganha R$ 38 mil por mês.

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A embaixada do Brasil em Londres está localizada a 600 metros do Rio Tâmisa e a um quilômetro do Big Ben – uma das maiores atrações turísticas da cidade. É o local de trabalho do delegado Roberto Troncon, adido no Reino Unido. Ele tem renda mensal de R$ 51 mil. O agente Philipe Coutinho recebe R$ 40 mil.

Os altos salários não são exclusividade das embaixadas europeias. O delegado Guilherme Mattos de Oliveira trabalha no Oficialato de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com renda de R$ 52 mil. Lotada em Paramaribo, Suriname, a delegada Evangelina Trindade Miranda tem renda bruta de R$ 55 mil.

“Remuneração segue diretriz do governo”

Questionada sobre os elevados salários pagos aos adidos, a Polícia Federal afirmou que a remuneração dos servidores em missão no exterior “segue diretriz do Governo Federal e segue a tabela aplicada aos servidores do corpo diplomático brasileiro. A remuneração em questão é a mesma aplicada aos servidores da Marinha, Exército, Aeronáutica, Receita Federal, Anvisa, Abin, Ministério da Agricultura e do próprio Itamaraty quando em missão no Exterior”.

Sobre os vencimentos do perito Schlickmann, a PF afirmou que o servidor foi designado para representar os interesses brasileiros no Complexo Global de Inovação Tecnológica da Interpol em Cingapura. “O Complexo abriga policiais, acadêmicos e representantes de empresas de tecnologia com a missão de desenvolver ferramentas, técnicas e metodologias de investigação em Crimes Cibernéticos. Através do trabalho do Perito Schlickmann a Polícia Federal tem conseguido adquirir know-how para disseminar nas investigações conduzidas no Brasil”. Pelo trabalho realizado, Schlickmann recebeu recentemente o cargo de diretor Global de Cyber-Crime da Interpol.

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A respeito da atuação de Evangelina Miranda em Paramaribo, a Polícia Federal disse que coopera com a Korp Politie Suriname, agência policial local, para promover o intercâmbio de informações de interesse às investigações criminais brasileiras e daquele país. “Dentre as várias atividades desenvolvidas, destacam-se o combate ao tráfico de pessoas para fins de prostituição, tráfico de drogas, garimpo ilegal, pesca predatória, imigração ilegal”, diz nota da PF.

A busca de narcotraficantes, homicidas e corruptos foragidos

A Polícia Federal justificou a presença de policiais federais brasileiros nas embaixadas: “É evidente o aumento da criminalidade transnacional, com novas modalidades criminosas, em um ambiente cada vez mais globalizado, marcado pelo rompimento das barreiras e pela agilidade da circulação de pessoas, produtos e informações ao redor do mundo. Neste contexto cresce a necessidade da realização de atividades de cooperação policial internacional e o intercâmbio de informações entre países. Investigações criminais não estão mais restritas a provas ou indícios encontrados no Brasil. Dessa forma, é essencial que a Polícia Federal possua mecanismos que possibilitem a troca de informações ágil com instituições estrangeiras. Para tal, um dos principais instrumentos adotados é o estabelecimento de adidâncias e de oficialatos de ligação”.

Como exemplos desse intercâmbio, a PF cita as operações Tríplice Fronteira e Lionfish: “Outra importante função é apoiar na localização e extradição de foragidos da Justiça brasileira no exterior. Somente no ano de 2017, as adidâncias brasileiras e oficiais de ligação atuaram na localização e prisão para fins de extradição de quase 100 foragidos da justiça brasileira no exterior. Um dos casos foi a extradição do narcotraficante Javis Pavão, trazido do Paraguai para o Brasil. Cita-se, ainda, a localização e prisão dos homicidas Lee Ann e Mzee Shabani, além da prisão, localização e extradição de foragidos por crimes de corrupção como Henrique Pizzolatto”.

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