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Bolsonaro viaja em campanha presidencial com dinheiro da Câmara. Pode isso, Arnaldo?

Heuler Andrey/AFP (Foto: )

Com passagens pagas pela Câmara dos Deputados, o pré-candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL-RJ) multiplicou por oito os gastos com viagens a estados fora da sua base eleitoral, em comparação com a legislatura anterior. Em muitas das viagens, é acompanhado pelo filho deputado, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que costuma levar assessores da Câmara nos eventos. O contribuinte também paga diárias em hotéis para Eduardo e sua equipe. Juntos, pai e filho gastaram R$ 520 mil em passagens e hospedagens.

Os números extraídos dos arquivos da Câmara revelam que a pré-campanha de Bolsonaro começou em 2015. Naquele ano, foram 24 deslocamentos, ao custo total de R$ 45 mil em passagens aéreas. Em 2016, ano do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), houve uma redução, com 15 viagens e gastos de R$ 37 mil. Mas, no ano passado, o número de viagens voltou a subir: 19 cidades em 26 deslocamentos, com despesas de R$ 46 mil.

Somando com os eventos deste ano, foram 71 viagens, ao custo total de R$ 139 mil. Ele visitou pelo menos 28 cidades em 18 estados. Na legislatura de 2011 a janeiro de 2015, foram apenas 16 viagens, com despesas de R$ 16,3 mil.

No dia 29 junho de 2017, por exemplo, Jair Bolsonaro foi atração na 19ª Transposul (Congresso de Transporte e Logística), em Porto Alegre. Foi elogiado pelas lideranças empresariais gaúchas e recebeu promessas de voto. “O Transporte de Rodoviário de Cargas estará apoiando você se for candidato à Presidência da República. Por favor, ganhe a presidência”, afirmou o presidente do Sindicato do Transporte do Mato Grosso do Sul, Cláudio Cavol.

“Minha especialidade é matar”

Durante coletiva de imprensa, mais uma frase polêmica. Questionado sobre o uso medicinal da fosfoetanolamina, a “pílula do câncer”, que contou com o seu apoio, Bolsonaro respondeu: “Se cura ou não cura, eu não sei. Sou capitão do Exército, minha especialidade é matar”.

O pré-candidato estava acompanhado por Eduardo Bolsonaro e pelo assessor Gildevânio Diniz, do gabinete do filho. As passagens dos três custaram R$ 9 mil aos cofres públicos. Eduardo ainda esteve em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Gastou mais R$ 359 no hotel Deville, em Porto Alegre, e R$ 199 no hotel San Silvestre, em Passo Fundo.

A mesma equipe viajou para Ribeirão Preto (SP), em 17 de agosto, onde Bolsonaro levou uma ovada no peito de uma militante de esquerda numa cafeteria. Pai e filho gravaram um vídeo para relatar o fato, veiculado no Facebook de Eduardo. As passagens dos três custaram R$ 4,2 mil.

Na viagem a Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB), em fevereiro, Bolsonaro foi acompanhado do assessor Wolmar Júnior, enquanto o filho levou o assessor Erico Costa. Todas as passagens saíram por R$ 6 mil.

Despesas e polêmicas país afora

Reprodução/Facebook

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Na visita a Vitória, em 1º de abril de 2016, Jair e Eduardo foram novamente acompanhados por Gildevânio. Mais R$ 7 mil de despesas com passagens. A sua palestra foi marcada por polêmicas. Uma jovem questionou a ausência de negros no evento. O pré-candidato respondeu que não havia nenhuma placa do lado de fora proibindo a entrada de negros.

Bolsonaro já estivera em Porto Alegre em 26 de janeiro de 2016, em evento ainda mais polêmico. Em audiência tumultuada na Assembleia Legislativa, militantes contra e a favor do deputado trocaram chutes e socos. Movimentos sociais realizaram um “Beijaço LGBT”, criticaram o machismo e a homofobia e chamaram Bolsonaro de fascista. “Bolsonaro, guerreiro; orgulho brasileiro”, responderam seus seguidores.

O filho Eduardo contava com a assessoria de Gildevânio no evento, enquanto Bolsonaro tinha o apoio do assessor Ney de Oliveira Muller. Mais R$ 8 mil em despesas com passagens, sem contar os R$ 480 da diária no Hotel Accor, apresentada por Gildevânio.

Despesas com passagens aumentam

As viagens pelo país fizeram crescer proporcionalmente as despesas de Bolsonaro com passagens. Na legislatura de 2007 a 2011, incluindo as viagens para sua base eleitoral, o Rio de Janeiro, foram apenas R$ 49 mil com passagens – cerca de 10% do que gastou com a cota para exercício da atividade parlamentar. De 2011 a 2015, esse gasto subiu para R$ 248 mil – 19% do total da cota. Na atual legislatura, já são R$ 365 mil – 38% da cota. Só no ano passado, consumiu R$ 120 mil com passagens – 54% dos gastos do gabinete.

Eduardo Bolsonaro tem atividade ainda mais intensa. Ele percorre o país divulgando o projeto político do pai. Na atual legislatura, ele gastou R$ 381 mil em passagens com viagens para estados fora da sua base eleitoral.

O estado mais visitado foi o Rio de Janeiro, com gastos de R$ 180 mil. Em seguida, Porto Alegre, com R$ 62 mil. Nesses valores, estão incluídos os deslocamentos dos seus assessores. Somadas as viagens feitas ao estado de São Paulo, o gasto chega a R$ 580 mil na atual legislatura.

Na sua prestação de contas, há 19 diárias de hotéis, com um gasto de R$ 5,8 mil. A diária mais cara foi de R$ 510, no total Plaza de Blumenau, paga pelo assessor Eduardo Guimarães. Ele também pagou diária de R$ 178 no Hotel Gale, na Praia do Futuro, em Fortaleza. Na viagem a Manaus, em dezembro de 2015, foram apresentadas duas notas de diárias no mesmo valor – R$ 448 – uma de Guimarães e outra de Floriano Amorim.

Reprodução/Facebook

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“Nós subiremos a rampa”

Nos eventos pelo país, Bolsonaro toma cuidado para não dizer que está em campanha ou que é candidato. Mas, às vezes, ele deixa escapar o seu projeto. Em fevereiro deste ano, em Dourados (MS), avisou: “Não queremos apoio de políticos que derrubam o país. Podem me chamar de tudo, só não me chame de corrupto”. Em seguida, fez quase uma promessa: “Temos uma chance viva de mudar o comandante desta nação. No dia 1º de janeiro, nós subiremos a rampa de Brasília”.

Em visita a Londrina (PR), em maio, avançou um pouco no seu discurso de pré-candidato: “Gente com o meu perfil pode estar à frente do Brasil em 2018″. Mas logo fez um recuo tático: “Só serei candidato se vocês desejarem”.

Em junho de 2015, ele já falava em ser presidente. Numa audiência pública em Blumenau (SC), afirmou: “O Brasil terá um presidente de direita em 2019”. Após o compromisso oficial, foi tomar café na Pastelaria Chinesa, local visitado por candidatos em campanha. “Dizem que quem toma café aqui vira presidente. Tomei dois para ser reeleito”, brincou o deputado.

A caravana da família também divulga o programa do pré-candidato. Em dezembro do ano passado, em Manaus, falando sobre segurança pública, disparou: “Se alguém diz que quero dar carta branca para policial militar matar, eu respondo: quero sim. O policial que não atira em ninguém e atiram nele, não é policial”.

Em Belém, no mês de outubro, ele já havia tocado no tema: “No que depender de mim, com a ajuda de vocês, todos terão porte de arma de fogo”. Ele também criticou a performance do Museu de Arte Moderna de São Paulo em que um homem aparece nu. “Essa história de criança passar a mão em homem nu não vai ter não”.

O blog fez contato com o gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara para ouvir a versão dele sobre esses gastos e recebeu a seguinte resposta: “o deputado não irá se pronunciar”. O mesmo foi feito com Eduardo Bolsonaro, posteriormente. A resposta foi a mesma.

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