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Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado| Foto:

Quinta-feira à tarde, dia 3 de maio. A sessão plenária da Câmara tem discursos duros, emocionados, com defesa de Lula, homenagem aos trabalhadores, críticas a governos locais. Os deputados encaram o plenário, gesticulam, para chamar a atenção de seus pares. A TV Câmara transmite ao vivo, com as câmeras fechadas nos oradores ou no presidente da sessão. Mas não há deputados no plenário. Tudo não passa de uma farsa. Eles deveriam estar em Brasília, mas já estão nas suas bases eleitorais, buscando votos para a reeleição. Na realidade, as cadeiras do plenário estão vazias durante os discursos, como mostram imagens feitas pelo blog. Isso não aparece na TV Câmara.

Para a sessão “não deliberativa” começar são necessários 51 deputados (10% do total). O livro de presença registra o comparecimento de 56 deputados na casa, mas a maioria assinou e foi embora. Apenas 16 deputados participam da sessão. Nos momentos de maior quórum, apenas três ou quatro deles estão no plenário. Alguns falam para as paredes. Eles se revezam entre a tribuna e a presidência. Há um constante revezamento na presidência da sessão.

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Seria uma sessão de debates, mas não há debates. A maior preocupação dos deputados, como deixam registrado, é que o discurso seja veiculado na “Voz do Brasil”. Mas, para isso, não seria necessária a sessão fake. Bastaria enviar o discurso diretamente para o programa.

Veja no vídeo abaixo as diferenças entre a transmissão oficial e a realidade do plenário vazio:

Enquanto alguns deputados usam a tribuna, visitantes fazem selfies no meio do plenário. Outros circulam pelo corredor entre as cadeiras, num tour improvisado. Durante um discurso, um homem vai até a mesa da presidência e faz a sua selfie ao lado do presidente de plantão.

Quem mais falou

A deputada Érika Kokay (PT-DF) foi quem mais vezes ocupou a tribuna. Foram cinco discursos, num total de 40 minutos. No mais longo deles, em tom emocionado, falou das “malas de dinheiro” e da estagnação do governo Temer. “Por isso encarceraram Lula, transformando-o em um mártir, em um preso político. Mas não vamos nos calar”, disse a deputada, encarando o plenário de frente, com gestos largos. Mas falou para as cadeiras vazias.

Procurada pela reportagem, a deputada tentou explicar por que o plenário estava vazio: “Nessas sessões, os deputados assinam e vão embora. As sessões de quinta à tarde são não deliberativas, são sessões de debates. E são, via de regra, muito esvaziadas. A sessão tem quórum na casa, mas não têm parlamentares”.

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Érika apresentou ainda outra justificativa: “Eu também entendo que o parlamentar não trabalha apenas nas sessões da Câmara. Trabalha no seu estado, ele tem que participar da vida parlamentar, mas também tem que estar junto à população. Uma representação parlamentar pressupõe que ele esteja coadunado com os anseios do povo”.

A reportagem argumentou que, quem está em casa, assiste pela TV uma sessão que não existe. Foi questionada se isso não seria uma farsa. “É, em verdade, você tem uma sessão de debates que não envolve um conjunto de parlamentares”, respondeu. Os demais deputados procurados pelo blog não se manifestaram.

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Discurso de 45 minutos

O mais longo discurso foi de Izalci Lucas (PSDB-DF), com 45 minutos – algo que não aconteceria numa sessão deliberativa, que exige um quórum mais elevado. O tema foi o de sempre: críticas ao governo local, de Rodrigo Rollemberg. Num determinado momento do seu pronunciamento, não havia um único deputado no plenário. Falou para as moscas. Ele ocupou a presidência duas vezes.

Seis deputados se revezaram na presidência, alguns deles por duas ou três vezes – como foi o caso de Osmar Terra (PMDB-RS). Em cinco oportunidades, o deputado deixou a presidência e foi diretamente para a tribuna, fazendo o troca-troca de cadeiras ao vivo, na mesa diretora.

Houve dois momentos constrangedores, em que os presidentes improvisados chamaram, em sequência, até seis deputados ausentes (veja vídeo abaixo), até chegar ao colega que já estava na tribuna pronto para falar. O curioso é que o presidente olhava para todos os lados do plenário vazio, como se procurasse o deputado chamado.

Nas galerias, Deolinda Santos Gomes, 67 anos, de São Paulo, assistia à sessão fantasma na sua primeira visita ao Congresso. Questionada sobre o que estava achando da sessão, respondeu: “Tem gente fazendo exposição de ideias, a deputada Érika Kokay, e não existe plateia para assistir. E ela está falando coisas muito importantes e interessantes”.

Enquanto estava na presidência, o deputado Vicentinho (PT-SP) cumprimentou alunos da 5ª série de uma escola de Goiânia que estavam nas galerias, numa lição prática sobre democracia e funcionamento do Congresso Nacional. “Atenção, povo de Goiânia, anuncio que se encontra presente em nossas galerias uma juventude belíssima, os estudantes da Escola Pequeno Príncipe. Sejam bem-vindos!” O mais indicado naquele momento, porém, seria retirar as crianças da sala.

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