O candidato do PT a presidente da República terá um trunfo nas eleições de outubro – o Bolsa Família. Levantamento feito pelo blog revela, em números, a força eleitoral do programa social que atende a 13,7 milhões de brasileiros – metade no Nordeste.
Um exemplo prático: o PT fez 90% dos votos em Guaribas, no Piauí, na reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Ali, 60% da população é beneficiada pelo Bolsa Família – lançado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva naquele município, em 2003, ainda com o nome de Fome Zero. Naqueles rincões, em 2002, Lula havia conseguido apenas 18,6% dos votos contra 72% de José Serra (PSDB) no primeiro turno da eleição.
Este é só um exemplo de como a votação dos candidatos petistas dobrou de 2002 para 2014 nos 200 municípios nordestinos que mais concentram o Bolsa Família, pulando de apenas 37% para 77% dos votos no primeiro turno, segundo o levantamento do blog (veja quadro no fim desse post). São pequenos municípios dos sertões, com população em torno de 10 mil habitantes e índices de desenvolvimento humano (IDH) nos níveis dos pobres países africanos, em torno de 0,500.
Em Itatira (CE), no inóspito semiárido cearense, região de caatinga, aconteceu o maior aumento na taxa de votação – de 16% em 2002 para 90% em 2014. Uma diferença de 74 pontos percentuais. A renda per capita desse município fica em escassos R$ 5,6 mil.
Votação chega a 92%
Em 117 dos municípios mais contemplados com o Bolsa Família, a votação petista alcançou uma média de 84% já no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014. O maior percentual aconteceu em Belágua (MA) – 92,13%, no Leste Maranhense. Naquele município, com renda per capita de R$ 5 mil, 85% da população é beneficiada pelo programa social.
Em Manari (PE), no sertão do Moxotó, o IDH cai para 0,487 – semelhante ao do Haiti. Na cidade, que já foi considerada a “pior do Brasil”, a votação petista pulou de 16% em 2002 para 79% em 2014.
Mas há municípios ainda mais pobres, como Fernando Falcão (MA), com renda per capita de R$ 4,6 mil e IDH de 0,443 – igual ao da Etiópia. Ali, a mortalidade infantil é elevada, com 66 óbitos por mil nascidos vivos – cinco vezes e média nacional. Naquele município, os votos petistas saltaram de 15% para 78% com a chegada do Bolsa Família.
O Maranhão é o estado que tem o maior percentual da população beneficiada pelo programa – 40%. O percentual de votos em Dilma em 2014 ficou em 69,5% no estado. No Piauí, com 34% das famílias atendidas, a candidata petista foi escolhida por 70,6% do eleitorado no primeiro turno. O Pernambuco foi uma exceção na região. Dilma fez apenas 44% dos votos no estado no primeiro turno. O primeiro lugar ficou com Marina Silva (48%), que substituiu o ex-governador pernambucano Eduardo Campos durante a campanha.
Nordeste decisivo
Em todo o Nordeste, onde 31,5% da população é beneficiada pelo Bolsa Família, Dilma conseguiu 60% dos votos no primeiro turno em 2014. Em todo o país, foram 42%. Na região Sudeste, onde a candidata do PT obteve 32,4% dos votos, apenas 10,6% da população é beneficiada pelo programa. Em 2002, o PT havia alcançado 44% da votação do Nordeste no primeiro turno.
Em junho deste ano (2018), das 13,7 milhões de famílias contempladas com o programa, metade está no Nordeste – 6,9 milhões. Dos R$ 2,44 bilhões distribuídos nesse mês – valor médio de R$ 178 por família –, R$ 1,27 bilhão ficou naquela região. Em um ano, os nordestinos deverão receber um total de R$ 15 bilhões. O programa foi mantido pelo governo Michel Temer, mas tem a marca do PT.
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O Nordeste contou com pouco mais de um quarto dos eleitores do pais em 2014, mais precisamente 26,8%. Mas foi decisivo na eleição de Dilma. Ela venceu a eleição no país com 51,6% do eleitorado – uma diferença de apenas 3,46 milhões de votos. No segundo turno, ela conquistou 71,7% dos eleitores do Nordeste. Foram 20,2 milhões de votos contra apenas 7,9 milhões de Aécio Neves (PSDB). Aqueles 12 milhões de votos de diferença decidiram a eleição.
O Bolsa Família é pago a famílias extremamente pobres, com renda mensal de até R$ 89 por pessoa; e a famílias com renda mensal de até R$ 178 por pessoa com crianças ou adolescentes até 15 anos. É exigida frequência escolar das crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos de idade. Há um acréscimo de R$ 41 para famílias que tenham grávidas em sua composição ou crianças em amamentação.