A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o gasto com passagens e hospedagem de assessores da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para Curitiba. De janeiro a março, essas despesas estavam em apenas R$ 1,3 mil. A partir de abril, já somam R$ 11 mil. Tudo pago com dinheiro público, pelo Senado Federal. As viagens dos assessores coincidem com visitas da presidente do Partido dos Trabalhadores e de lideranças políticas nacionais e internacionais a Lula na capital da Lava Jato. Todas elas foram registradas pela assessoria da senadora nas redes sociais.
A sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o ex-presidente está preso desde 7 de abril, transformou-se em espaço para comícios, vigílias e até mesmo de reuniões de trabalho na cela do candidato do PT a presidente da República. Ao deixar o prédio, no dia 21 de julho, questionada sobre a visita, na companhia do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi deixou claro qual foi o motivo do encontro.
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“Eu, na realidade, vim fazer uma reunião de trabalho com o presidente, despachar para a campanha. Ele deu orientação sobre várias coisas da campanha”, disse a senadora, como quem sai de uma reunião do partido. No mesmo dia, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica visitou Lula. Na saída, num comício improvisado, usou um megafone para falar aos militantes petistas na porta da PF.
No dia 29 de abril, a assessora Dayane Hirt deslocou-se de Brasília para Curitiba. Retornou no dia 2 de maio. Nos arquivos do Senado está registrado o custo das passagens – R$ 1,2 mil – mais a despesa com hotel – R$ 540. Foram duas diárias no Flat Petras Residence, no bairro Mercês. O motivo da viagem: hospedagem da servidora em atividade política no estado.
No mesmo dia em que Dayane deixou Curitiba, chegou a assessora Thea Tavares. No dia seguinte, 3 de maio, aconteceu a primeira visita de políticos a Lula, feita por Gleisi e pelo ex-governador Jaques Wagner. Ao deixar a sede da PF, deram entrevistas sobre o encontro. A postagem no Facebook rendeu 413 mil visualizações. Em 4 de maio, a senadora visitou o acampamento montado pelos militantes nas proximidades da PF. As passagens de Thea custaram R$ 485.
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Uma semana mais tarde, Gleisi fez visita à vigília “Lula livre” em Curitiba. Foi acompanhada pela mesma assessora. Mas dessa vez as passagens custaram R$ 1,9 mil.
Reunião com o vice
A presidente do PT deu continuidade às reuniões de trabalho com Lula. Em 28 de junho, aconteceu o encontro do candidato a presidente – Lula – com o seu companheiro de chapa, Fernando Haddad, na presença de Gleisi. Está decidido que o ex-prefeito de São Paulo vai percorrer o país divulgando a palavra de Lula enquanto ele estiver preso.
No dia seguinte, Lula recebeu a visita do deputado italiano Roberto Gualtieri (PDC), que criticou a “prisão arbitrária” do ex-presidente. Em 26 de junho, Gleisi despachou mais uma vez com Lula e voltou a visitar a vigília, tudo devidamente registrado nas redes sociais.
A assessora Dayane esteve em Curitiba de 25 a 27 de julho. As passagens custaram mais R$ 1 mil. O Senado registra mais uma diária no hotel Flat Residente com a mesma justificativa: hospedagem da servidora em atividade política no estado.
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Questionado pelo blog, o gabinete da senadora afirmou que “as despesas realizadas obedecem estritamente às exigências contidas nas normas do Senado Federal e foram devidamente auditadas por órgão responsável. Também atendem absolutamente às necessidades do mandato parlamentar”.
Comitê de campanha
Em 15 de agosto, o Ministério Público pediu que Gleisi Hoffmann seja retirada da lista de advogados que representam Lula. Segundo os procuradores da Lava Jato, o ex-presidente transformou a Superintendência da PF em seu “comitê de campanha”.
“Parece haver, em realidade, uma aparente tentativa de ludibriar as regras fixadas para visitação do encarcerado, possibilitando assim a visita em qualquer dia, desde que o visitante seja advogado”, diz o documento do MPF.
Os procuradores a acrescentaram que todas as procurações são de políticos. “As visitas não têm por objetivo a defesa judicial do apenado, senão a de possibilitar por parte de Luiz Inácio Lula da Silva a condução e a intervenção no processo eleitoral de quem materialmente está inelegível, transformando o local onde cumpre pena em seu comitê de campanha”, diz a Lava Jato.
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