O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) gastou R$ 133 mil neste ano com combustível para abastecer o seu avião bimotor Mitsubishi turbo-hélice. Mas quem pagou a conta foi o contribuinte. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) gastou mais – R$ 168 mil com combustível e R$ 65 mil com aluguel de aviões. O senador Edison Lobão (MDB-MA) torrou em R$ 142 mil em correios. Esses são apenas alguns exemplos das maiores despesas feitas pelos senadores com a verba para o exercício do mandato – o “cotão”.
Gurgacz utilizava o seu bimotor para deslocamentos até os seus redutos eleitorais ou no trajeto de Cuiabá para Ji-Paraná (RO), onde mora. Mas o senador está agora com a sua mobilidade limitada. Ele chega ao Senado às 8h e passa o dia em comissões, no plenário ou no gabinete. Não deixa a Casa nem para almoçar. Participa de debates e de votações. Às 19h, se dirige ao presídio da Papuda, onde cumpre pena de quatro anos e meio, em regime semiaberto, por crime contra o sistema financeiro.
Ciro Nogueira também fez despesas de R$ 58 mil com passagens e R$ 16,5 mil com diárias em três viagens internacionais neste ano. Em março, integrou comitiva do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para tratar de assuntos de interesse do estado em Lisboa, Portugal. O Senado pagou a passagem de R$ 12,8 mil e cinco diárias no valor total de R$ 7 mil. Ele também esteve na Bélgica, Suíça e Estados Unidos. Foi até pouco em relação ao ano passado, quando torrou R$ 98 mil em viagens internacionais. Talvez o ano eleitoral explique a redução de gastos.
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Companheiro de Ciro em muitas viagens, o senador Gladson Cameli (PP-AC), agora eleito governador do estado, investiu R$ 64 mil em fretamento de aeronaves e mais R$ 65 mil em viagens internacionais, para Nova York, Bruxelas e Genebra. Também foi pouco em relação a 2017, quando gastou R$ 94 mil em viagens internacionais. Em 2015, só as passagens para o Japão, onde participou da Conferência Mundial de Jovens Parlamentares, custaram R$ 48 mil, em valores atualizados.
Dimensão amazônica: R$ 457 mil é a despesa do campeão de gastos
O senador Omar Aziz (PSD-AM) gastou três quartos da sua verba para exercício do mandato na contratação de uma única empresa, do jornalista Jefferson Coronel. Foram R$ 265 mil investidos em serviços de consultoria em comunicação e marketing, que inclui redação, postagens e designer para o meio digital, edição de vídeos, redes sociais e assessoria de imprensa.
Jefferson afirma que também faz “gerenciamento de crise”. A sua equipe conta com um jornalista fixo, dois freelas, um designer, dois cinegrafistas e editor de vídeos. A equipe trabalha num escritório de dois andares e área de 89 m², na Rua Amapá, em Manaus (AM).
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Mas quem mais usou recursos do “cotão” foi o senador Eduardo Braga (MDB-AM) – R$ 457 mil. Desse total, R$ 309 mil foram aplicados em “serviços de apoio”, executados por quatro empresas. A Tinga Produções registra o conteúdo de mídia produzido a partir da atuação parlamentar do senador. A empresa Marcello Santos da Silva produz, monitora e gerencia as redes sociais do senador. A VM Produção Multimídia mantém o seu site. A N.R.F de Souza, de Parintins (AM), presta assessoria de imprensa, além de produzir e editar vídeos do senador realizados na calha do Baixo Amazonas.
A sua assessoria salienta que o Amazonas tem aproximadamente um milhão e meio de quilômetros quadrados. “Produzir e divulgar a atividade de um parlamentar em um território de dimensão amazônica exige a superação de uma série de dificuldades. Entre elas, os serviços intermitentes de internet.”
A história do Vade Mecum: senador gasta R$ 116 mil com correios
Quem mais gastou com aluguel de escritório foi o senador Roberto Rocha (PSDB-MA) – um total de R$ 177 mil. Ele conta com dois escritórios no Maranhão, em São Luís e em Imperatriz. A maior despesa é com o aluguel no escritório da capital: R$ 6 mil. Mas também paga cerca de R$ 4,5 mil por serviços de segurança e vigilância em cada um dos escritórios. O Senado também paga as faturas de água, energia elétrica, internet e até o IPTU dos imóveis.
O senador Fernando Collor (PTC-AL) durante muito tempo investiu toda a sua verba na segurança da sua residência. Agora está diversificando os gastos – R$ 138 mil em serviços de apoio, R$ 100 mil em divulgação da atividade parlamentar e R$ 96 mil em serviços de “segurança privada”. Investiu R$ 40 mil numa empresa de coaching, a HSS Assessoria e Consultoria.
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O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) fez despesas de R$ 116 mil com correios. Segundo a sua assessoria, o dinheiro foi gasto com postagem de livros, documentos e outros materiais de consulta (com conteúdo jurídico-constitucional, por exemplo). “Tais publicações são fornecidas a estudantes e outras pessoas que as solicitam para o gabinete”, diz nota do gabinete.
Cerca de 90% desses custos referem-se ao envio de Vade Mecum – compêndio das principais leis do país. Cada unidade deste livro pesa 1,3 quilos. “O Vade Mecum auxilia muitos estudantes e outras pessoas que buscam aprender os conteúdos reunidos no livro. É uma publicação editada pela Gráfica do Senado e oferecida também por outros parlamentes”, acrescenta a nota.
Já a assessoria do senador Edison Lobão (MDB-MA), que gastou R$ 142 mil em correios, citou que o artigo 64 do ato das disposições transitórias da Constituição Federal determina que “cada cidadão brasileiro deve receber gratuitamente, do Estado, um exemplar da Constituição”. “Seguindo esta determinação, o senador Edison Lobão enviou as seguintes publicações: Constituição Federal, Lei Maria da Penha, Estatuto do Idoso, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto do Desarmamento, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Estatuto da Criança e do Adolescente, Balanço de Atividades na Comissão de Constituição e Justiça e Vade Mecum”, informou a assessoria.
Sem respostas
Todos os senadores citados no texto foram procurados pela reportagem e questionados sobre as elevadas despesas feitas. A maioria não respondeu. As respostas enviadas foram publicadas.
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