Interior do túnel sob o bairro Novo Paraíso virou moradia para mendigos. Logo na entrada, há uma cadeira quebrada. Foto: Lúcio Vaz
Ferrovia da integração
A Ferrovia Norte-Sul foi iniciada em 1987, no governo José Sarney, com um traçado original de 1.550 quilômetros entre Açailândia e Anápolis. Trinta e dois anos e sete presidentes da República depois, a Norte-Sul é apontada pela Valec como “o eixo estruturador” do Sistema Ferroviário Nacional, possibilitando o acesso a vários portos e corredores de exportação.
O trecho central, de Porto Nacional a Anápolis, é estratégico porque vai se conectar, um dia, em Figueirópolis (TO), à Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL), que acessará o Porto Sul, nas proximidades de Ilhéus (BA) – tudo isso ainda em construção. A FIOL terá 1.527 quilômetros. Apenas a parte em construção, de Ilhéus a Barreiras (BA), tem 1.022 quilômetros e investimento previsto de R$ 6,4 bilhões.
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Em Campinorte (GO), o trecho norte se interligará à Ferrovia de Integração do Centro Oeste (FICO), que escoará a produção de soja e milho do Mato Grosso em direção aos principais portos do país. Serão mais 901 quilômetros de ferrovia a um custo de R$ 6,1 bilhões. O projeto ainda está na prancheta.
Expectativa inicial alta
A Valec tinha expectativa alta para os primeiros anos de funcionamento da Ferrovia Norte-Sul. Foram estabelecidos cenários de crescimento para aproximadamente 30 anos, contados do início da operação. Foram traçados ciclos de cinco a sete anos, com previsão de cargas de até 6 milhões de toneladas no primeiro ciclo. Passados de cinco a sete anos, seriam 14 milhões. No próximo ciclo, 20 milhões; depois, 24 milhões; até chegar a 26 milhões de toneladas.
Mas a Valec não fez a sua parte. No trecho que operou, o movimento foi escasso. Em vez do transporte de grãos aos portos, parte significativa das cargas foi de máquinas e equipamentos para a empresa que opera o trecho Norte.
A primeira carga foi de 20 locomotivas para a VLI, de fevereiro de 2015 a junho de 2018. Em dezembro de 2015, foram transportadas 26 mil toneladas de farelo de soja. De dezembro de 2016 a março de 2017, mais 13 mil toneladas de madeira triturada. Em outubro de 2017, 8 mil toneladas de minério de manganês. Em dezembro do mesmo ano, teve início o transporte de 7,3 mil toneladas de barras de trilhos de 240 metros. De março de 2018 a janeiro deste ano, 262 vagões da VLI foram transportados pelo trecho central.
Mato toma conta de trecho da Ferrovia Norte-Sul em Anápolis (GO). Foto: Lúcio Vaz
Não bastam os trilhos
Questionada sobre a subutilização do trecho central, a Valec informou que o transporte nesse trecho dependia da iniciativa privada, das negociações entre os operadores e clientes, e do interesse dos operadores logísticos ferroviários. A estatal lembrou ainda que não possuía “locomotivas e vagões”, mas disponibilizava a utilização de suas vias aos operadores interessados.
A VLI explicou como alcançou um elevado volume de cargas em tão pouco tempo: “Para uma ferrovia transportar um volume desses não é necessário apenas os trilhos. É preciso locomotivas e vagões para transportar a carga, terminais rodoferroviários para transferir as cargas para os trilhos, boas estradas para levar essas cargas das fazendas até os terminais rodoferroviários e, principalmente, capacidade portuária”.