O apelido pode até não ser o mesmo, mas o estreito laço sanguíneo leva a uma inevitável pressão.
Irmão mais velho da curitibana Cris Cyborg, que defende o cinturão peso-pena (até 66 kg) do UFC no próximo dia 30 de dezembro, Rafael Justino vive a mesma cobrança toda vez que sobe ao ringue.
“Estão esperando que seja pancadaria, as pessoas não esperam uma luta ruim [do irmão da Cris Cyborg]. É pressão, querem que entre para sair na porrada. Não me sinto pressionado, mas sei que a cobrança existe”, admite o lutador de 35 anos.
Conhecido como The Jackal, o chacal, em português –, Rafael tem apenas cinco combates de MMA no currículo. O meio-médio (até 77 kg) acumula duas vitórias, duas derrotas e um No Contest (sem resultado) em seis anos como profissional.
Só que a carreira na luta, iniciada em 2011 — seis anos e meio depois da irmã –, nunca foi sua primeira opção. A bola, sim, era o sonho do menino que rodou por categorias de base em todo o Paraná até se profissionalizar no Vitória, em 1999.
Volante e lateral-direito esforçado, Rafael não demorou a se decepcionar com o futebol. Depois de ser dispensado do clube baiano ainda nos juniores, ele conheceu a dura realidade da terceira divisão do Rio de Janeiro.
“Mandaram todo mundo embora no Vitória e consegui uma chance no Casemiro de Abreu. Cheguei lá e vi uma estrutura péssima, um dia tinha café, no outro não tinha almoço. Não pagavam direito e o salário [cerca de R$ 800] chegou a ficar dois meses atrasado. Fui desanimando”, relata o lutador, contemporâneo do volante Pepo na base do Coritiba.
“Também joguei contra o Kléberson e o Alan Bahia, que estavam no PSTC”, acrescenta.
Em 2002, após mais uma tentativa no Avaí, Rafael pendurou as chuteiras aos 22 anos. Foi trabalhar com seu pai, Jurandir, que vendia pneus.
Nessa época, Cris Cyborg ainda jogava futebol e sequer sonhava em lutar. Foi apenas em 2005, quando descobriu a academia Chute Boxe, que ela entendeu seu talento para a porrada.
Incentivado pela irmã, Jackal também foi treinar. Ele já carregava uma pequena experiência com judô e kickboxing na infância.
Após quase dois anos de treino com os mestres Gildo Lima e Nilson de Castro, Rafael estreou em uma evento pequeno em Minas Gerais em 2011. “Marquei uma luta em BH e sai na porrada. Não tinha nem graduação ainda”, relembra ele, que venceu por decisão unânime.
Bloqueado por Dana White
Hoje faixa-preta de muay thai, Rafael lapida talentos na academia The Rock, em Colombo, mas agora pretende focar mais em sua trajetória como atleta. Afinal, aos 35 anos, o tempo passa cade vez mais rápido.
Desde 2013, quando fez sua segunda luta, o irmão de Cris Cyborg entra no ringue apenas uma vez ao ano. A exceção foi 2015, quando não encontrou adversário.
“Entrava em alguns cards e os caras acabavam se machucando em cima da hora e então cancelavam a luta”, fala.
No último mês de outubro, Jackal estreou em um torneio pequeno nos Estados Unidos. A irmã famosa, claro, ajudou a abrir as portas na América.
A derrota por nocaute técnico, porém, não estava nos planos. E até agora não foi bem digerida.
“Eu e o piá nos arrebentemos e acabei cortando a testa. O juiz foi lá e interrompeu. Acho que foi precipitado. Estava sangrando bastante, mas já vi pior no UFC”, garante.
Mesmo assim, Rafael se prepara para uma segunda chance no Extreme Fighters MMA já em fevereiro. Como viaja para a Califórnia para auxiliar a irmã em todos os camps deste 2012, o lutador teve a oportunidade de treinar com nomes de alto nível como Tito Ortiz e Michael Bisping.
Por isso, ele ainda sonha chegar em um evento top como o Bellator. O UFC está, por outro lado, está fora de cogitação.
Bem antes de o presidente Dana White pedir desculpas à curitibana, a notória péssima relação não se restringia à lutadora.
“Ele me bloqueou do Instagram também. Mandava mensagem direta pra ele quando ele falava um monte de m… da Cris. Chegaram a dizer que ela tinha pinto. Pô, tá de sacanagem? Tenho pai e aí é B.O”, conta o maior defensor da campeã.
“O Dana White nunca respondeu, mas tenho certeza que leu tudo”, completa Jackal.
Foco
Invicta no MMA desde sua estreia, em 2005, Cris Cyborg tem experiência de sobra quando o assunto é arte marcial. Mesmo assim, o irmão mais velho revela seu ponto fraco: assisti-lo competir.
“A Cris de córner não dá. Fui lutar nessa última vez e ela correu do córner. Eu estava descendo o corredor para entrar no cage e ela saiu correndo de nervosa”, recorda.
Aos 32 anos, Cyborg chegará à 19.ª vitória seguida na carreira caso vença a americana Holly Holm. E o segredo do sucesso, segundo Rafael, é bem fácil de explicar.
“O que aprendi com a Cris é focar. Treinar. Ela treina muito. Ela é um dos atletas que mais treina, não tem comparação. Se alguém treinar a metade do que ela faz já vai ter um bom nível. Ela está onde está hoje não é por causa de talento. É por que treina muito”, elogia.
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