Sem motivo aparente, a reportagem que fiz em 2013 sobre a passagem do mito do boxe Muhammad Ali por Curitiba voltou à tona nas redes sociais na semana passada. Até então, a foto que originou a matéria, clicada por João Bruschz, tinha duas personagens misteriosas. Pelo menos para mim.
Mas o ressurgimento da história no Facebook colocou a curitibana Regina Côrtes em contato com blog. Ela tinha 34 anos na época do encontro. Sua filha, Alessandra, apenas dois.
Quase três décadas depois, a dona de casa recorda com detalhes a passagem do maior boxeador da história pelo Paraná. “Te confesso que foi muita emoção. Marcou demais. Não foi qualquer um, era uma figura internacional de peso. É inesquecível”, fala Regina, que tem formação em filosofia e história pela UFPR.
“Eu o acompanhava porque não era só lutador. Era muito politizado, contra a guerra. Além de ganhar tudo, era um ativista”, diz a paranaense que passeava na Boca Maldita naquela manhã fria de 28 de abril de 1987.
Ao ver mãe e filha, Muhammad Ali – que adorava crianças e gostava de fazer palhaçada – caminhou em direção a elas. “Eu estava andando com a Alessandra no colo e parei ao vê-lo. Não acreditei. Outras pessoas pararam, mas o curitibano é tímido e poucos se aproximavam”, conta Regina, que atualmente mora em Belo Horizonte.
Alessandra, que hoje é médica e trabalha como pediatra no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, se encantou com a gravata vermelha do lutador. “Ele chegou com aquela mão enorme, me cumprimentou e pegou ela no colo. Fiquei olhando o rosto dele, procurando alguma cicatriz. Só achei uma, pequena, em cima da sobrancelha. Mas fiquei muda. Nossa comunicação foi mais pelo olhar”, relembra.
O contato não durou mais do que cinco minutos. O suficiente para ser inesquecível.