O cinturão do Invicta FC reluz no rosto da curitibana Jennifer Maia como ouro.
Aos 29 anos, a peso-mosca (até 57 kg) é a atual campeã do principal torneio de MMA exclusivamente feminino do mundo.
Apesar de seu excelente nível técnico, uma sensação de quase anonimato acompanha a atleta revelada pela academia Chute Boxe.
Nesta sexta-feira (8), em Kansas City, nos Estados Unidos, ela defende o título pela primeira vez. A luta mais importante do Invicta 26, contra a invicta polonesa Agnieszka Niedzwiedz, contudo, está fora do radar de quem não acompanha MMA com o mínimo de profundidade.
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Para o grande público, o UFC é o único palco do esporte. O que acontece fora do octógono, portanto, é praticamente desconhecido.
Tanto que a americana Roxanne Moddaferi, adversária que Jennifer derrotou para conquistar o cinturão em setembro de 2016, escreveu em seu blog que “os Estados Unidos precisam conhecer a brasileira“, considerada por ela a melhor peso-mosca do mundo.
O Brasil também precisa.
“Vejo que atletas que começaram depois de mim são mais reconhecidas. Não sei se é por que a maioria gosta de fazer um personagem para divulgar as lutas e eu sou mais fechada, mais quieta. Não sei se é isso ou se tenho que mostrar mais o meu trabalho”, questiona Jennifer.
Mas venho evoluindo cada vez mais. Não preciso me precipitar em nada. Estou fazendo meu trabalho. Vamos ver se o mundo me descobre também, né?
Perspectiva
Na semana passada, o UFC abriu um novo horizonte para a paranaense.
Depois de realizar uma edição do reality show The Ultimate Fighter para inaugurar a divisão peso-mosca feminino, a americana Nicco Montaño foi coroada a primeira campeã. Na final, vitória por decisão sobre Moddaferi.
Pensando de maneira lógica, Jennifer Maia está muito próxima de lutar pelo título do Ultimate. Se permanecer como campeã do Invicta, o caminho natural seria a unificação dos títulos.
A possibilidade cruza a cabeça da lutadora, claro. Principalmente pela perspetiva de mudança de patamar financeiro que o maior campeonato de MMA pode trazer. Enquanto isso, Jennifer trava uma batalha mental para não antecipar as coisas.
“É uma possibilidade a mais na minha categoria. Não quer fazer expectativa na minha cabeça, se for para ser chamada vou entrar. Quero mesmo é fazer meu trabalho bem feito. Ficar com o pé o chão. Quero muito [lutar no UFC], mas vou com calma”, afirma a atleta, que lamenta não ter patrocínio.
Não consigo viver só da luta. Dou aulas todos os dias e também estudo Educação Física. Na verdade o dinheiro da luta é um extra e às vezes é para compensar tudo o que foi gasto na preparação.
O ex-lutador Edicarlos Monstro, técnico e noivo de Jennifer, detalha o assunto.
“Na verdade não temos nem ido à procura de patrocínios. Estamos nos bancando sozinhos. Tem um pessoal que ajuda com permutas, mas ajuda financeira não temos mais desde o ano passado. Espero que o UFC, com mais mídia, com o mundo assistindo, ajude nisso”, fala.
Leoa na jaula
Jennifer e Monstro se conheceram na academia. A relação mestre/pupila já dura 13 anos — um pouco menos do que o relacionamento de casal.
Complicado mesmo é administrar os dois momentos.
“Nós separamos bem. Começou como aluna e técnico, mas com a convivência, estar junto toda hora, gostar das mesmas coisas, acabamos nos relacionando. Só que desde o início falamos que uma coisa é dentro da academia, no tatame. Outra é fora, na vida normal”, conta a especialista em muay thai.
A interseção dos dois mundo, no entanto, é inevitável. Mas a intensidade do convívio também traz alguns benefícios.
“Tenho outros lutadores, mas é diferente com a Jennifer. Quando termino de falar uma coisa na luta, ela já faz. Tenho o maior cuidado na preparação dela. Já estou estudando o jogo da adversária faz tempo. Como fui lutador, quero passar para ela tudo que faltou na minha carreira”, explica Monstro, que sofre com as mudanças de humor da noiva nervosinha — especialmente em época de dieta.
É como conviver com uma leoa dentro da jaula.
A lutadora, que admite os ‘dias de fúria’, enche o mestre de elogios.
“Ele é meu psicólogo, ele me motiva. Se vê algo errado, trabalha na minha cabeça para corrigir. Passo por dieta, cansaço dos treinos. Tem hora que você só quer ficar quieta, qualquer coisa te irrita e você acaba falando o que não deve”, exemplifica.
Retorno 100%
Quando se tornou campeã do Invicta, no ano passado, Jennifer sentiu uma dor diferente no joelho esquerdo. Apesar do desconforto, terminou os cinco rounds e teve a mão levantada pelo árbitro no final.
De volta ao Brasil, ela continuou treinando normalmente. Apenas dois meses depois, descobriu que havia rompido o ligamento cruzado anterior.
Reabilitada, a atleta garante que está ainda mais motivada para enfrentar a promessa Agnieszka Niedzwiedz e entrar no ringue após 13 meses.
“Estou 100%, melhor do que antes. E com muita vontade de lutar”, avisa Jennifer, dona de um cartel com 14 vitórias, quatro derrotas e um empate.
Invicta em dez combates, a adversária é judoca e tem um estilo de luta simples, porém eficaz. Nada que amedronte a campeã, mas o suficiente para estar alerta o tempo todo, principalmente contra as tentativas de queda.
“Ela faz o jogo básico e não erra. Eu quero fazer tudo que estou treinando. Estou na minha melhor fase e preciso mostrar o quanto evolui da última luta para cá”, reforça a curitibana.
Fotos: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
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