Uma frustrante derrota por decisão dividida para o francês Cheick Kongo, em fevereiro de 2016, na luta principal do Bellator 150, foi o ponto final na carreira do peso-pesado Vinicius ‘Spartan’ de Queiroz.
Depois dessa luta, sentindo-se injustiçado com o resultado, o curitibano desistiu da vida de lutador profissional de MMA. Aos 33 anos de idade, a gota d’água foi receber um pagamento “de perdedor” por um combate que ele tem certeza que venceu.
“Recebi só metade da bolsa porque perdi a luta. Fiquei sem dinheiro para pagar o aluguel e tive de me mudar de favor para a casa de um amigo. Imagina, eu era o main event do Bellator e não tinha como pagar o aluguel”, conta.
“Se não tivesse sido roubado naquela luta, provavelmente continuaria tentando. Graças a Deus parei”, completa Spartan, que fechou seu cartel com oito vitórias e quatro derrotas.
Hoje, o paranaense trocou as luvas pelo terno e gravata. Mas continua lutando.
Ao lado de nomes como Randy Couture, Jon Fitch e Carlos Newton, ele é um dos diretores da Associação dos Lutadores de Artes Marciais Mistas (MMAFA), cujo objetivo é mudar o modus operandi do esporte.
Muhammad Ali Act
Basicamente, o que a MMAFA prega é expansão do Ato Muhammad Ali para o MMA. Em vigor nos Estados Unidos desde 2000, a lei federal mudou as regras do boxe em favor dos atletas, que passaram a ser protegidos dentro e fora dos ringues.
“Queremos mudar a legislação para que os lutadores de MMA — e de qualquer esporte de combate –tenham as mesmas proteções dos boxeadores”, fala Spartan.
Caso aprovado, o projeto de lei protegeria os lutadores de contratos coercitivos, estabeleceria rankings independentes e também obrigaria promotores e corpos de sanções a discriminar suas informações financeiras aos lutadores.
Por enquanto, 58 congressistas, entre republicanos e democratas, copatrocinam a expansão do Ato Muhammad Ali. Para virar lei, no entanto, o projeto precisa ser aprovado pela Câmara e depois no Senado, antes de chegar às mãos do presidente.
“O MMA teria a mesma transparência do boxe. Dois meses depois da luta entre o Mayweather e o McGregor, abriram todos os valores, todos os números. O cara que fez uma luta no card preliminar sabe todos os números que gerou, a audiência que deu… Hoje no MMA você tem uma bolsa pré-acertada e, sem saber o que consegue gerar para o evento, não recebe o que realmente vale”, explica o ex-lutador.
Mudança radical
O cenário do MMA mundial mudaria radicalmente com a aprovação do projeto de lei. O UFC, que detém cerca de 90% do mercado, segundo a MMAFA, não poderia mais exercer as funções de manager de atletas, promotor e corpo de sanção dos combates ao mesmo.
Com contratos padronizados e uma agência independente para organizar rankings e títulos, os lutadores teriam liberdade para acertar contratos com patrocinadores.
Também haveria uma divisão mais igualitária dos lucros, assim como no boxe, que distribui até 80% das receitas para os atletas e, desta forma, chega a pagar bolsas milionárias — raras no MMA.
Por isso, o Ultimate vem fazendo forte lobby contra a expansão do Ato Muhammad Ali. De acordo com o balanço divulgado pela organização, já foram gastos cerca de US$ 630 mil com firmas de lobby para travar o projeto de lei.
A Viacom, empresa dona do Bellator, também investiu dinheiro com o mesmo objetivo.
Futuro diferente
Com a lei em vigor, os eventos teriam dois anos para se adequarem. Depois disso, disputas hoje inimagináveis, como o campeão de determinada categoria do UFC contra o respectivo dono do cinturão do Bellator, KSW ou qualquer outro evento do mundo, não teriam impeditivos para sair do papel.
“Poderia haver a unificação de cinturões, os atletas poderiam lutar em diferentes organizações e continuar com o cinturão. Se, por exemplo, o UFC e o Bellator não entrarem em acordo para copromover uma luta, o mercado estaria aberto e qualquer um poderia fazer o combate acontecer”, imagina Spartan.
Também existiria a obrigatoriedade de o campeão defender seu cinturão contra o melhor colocado do ranking no período de um ano, o que traria um ar de meritocracia ao MMA.
“Ninguém lembra para que organização o Muhammad Ali lutava. O importante é o lutador, é isso que interessa e por eles que estamos brigando”, termina Spartan.