Quando questionado sobre a compra de produtos de sua loja pela Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury, presidente da entidade, sempre justificou que as negociações eram feitas “a preço de mercado”. Não é o que foi constatado por uma perícia judicial.
No trabalho solicitado pela Justiça, ao qual o blog teve acesso, o perito Sérgio Henrique Miranda de Sousa demonstra que troféus, medalhas e outros itens comprados pela FPF da loja de seu presidente eram, em algumas vezes, adquiridos por valores acima do mercado e, em outras, abaixo.
O fato de comprar produtos da loja de um dirigente já é, por si só, altamente questionável. Uma mistura perigosa, embora não seja algo proibido. Agora, mais curiosa ainda é a revelação de que, diferentemente do que afirmava Cury, não havia nenhum controle sobre essas transações.
Foram feitas no período 54 compras de 138 itens diferentes, pelo valor de R$ 87,2 mil. Para comparar com os preços de mercado, o perito utilizou valores da empresa que vendia anteriormente para a FPF, antes da loja de Cury, e preços atuais, deflacionados para a época das compras.
Ao confrontar com as ofertas da empresa Linha de Fundo, ficou constatado que Cury vendeu até 24,5% acima e até 16,4% abaixo. No contraste com os preços atuais, deflacionados, Cury negociou até 23% a mais e até 23,8% a menos. Como se vê novamente, não havia um critério ou ajuste.
É preciso salientar ainda que, se vendeu acima ou abaixo dos preços praticados pelo mercado, o fato é que a empresa do presidente, Hélio Cury Comércio de Artigos Esportivos, recebeu mais de R$ 82 mil. E se em maior ou menor escala, é natural se presumir que obteve alguma margem de lucro.
O trabalho do perito judicial integra um processo movido na Justiça contra a FPF por Atlético e Coritiba, adversários políticos de Cury. Exame nas contas da federação entre julho de 2010 e junho de 2015. Todos os detalhes da primeira perícia, que foi complementada recentemente, você vê nesta matéria.
No material, são abordadas, além das transações financeiras com a loja do presidente Hélio Cury, a contratação de parentes do dirigente pela FPF, falta de transparência, mesada para o Conselho Fiscal, aumento de doações aos clubes no ano anterior às eleições e gestão financeira questionável.
Levantamento interessantíssimo para abordar na Assembleia Geral Ordinária dos clubes nesta sexta-feira (7), às 18h30, na sede da FPF, no Portão. Encontro para aprovação das contas da entidade em 2016 e aprovação do orçamento para a temporada 2017.
Se os clubes vão abordar? Acho difícil. Entre os 12 times da elite, 10 estão com Cury, apenas a dupla Atletiba está contra, numa disputa por poder. E, normalmente, tais reuniões são feitas no afogadilho, sem a análise adequada que a gestão financeira da FPF merece. Veremos se muda alguma coisa.