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MP-PR cria o “torcedor infiltrado” e especula com risco de confusão na Arena

Albari Rosa/Gazeta do Povo (Foto: )

Com o esquema de “torcida única” para Atlético e Cruzeiro, o Ministério Público do Paraná será o responsável por criar uma nova modalidade de apoio no futebol: o torcedor “infiltrado”, “oculto”, “camuflado” etc. Não é pouca coisa.

Afinal, não há registro na história do futebol sobre essa categoria. Não há papiros que tratem do tema. Nem pinturas rupestres. Hieróglifos, nada. É, sem dúvida alguma, uma novidade apadrinhada pelo poder público e o Atlético.

Já foram vistos setores de torcidas mistas, cada qual com a identificação de seu time. Como em clássicos Grenais recentes, quando um espaço diminuto dos estádios serviu de abrigo para gremistas e colorados que toparam se misturar. Ou na antiga geral do Maracanã.

Mas, no formato inventado pelo MP-PR, não há nenhuma experiência. Como vai funcionar? A proposta do poder público é que o torcedor adversário pode ir ao estádio. No entanto, sem qualquer identificação de seu clube. E, naturalmente, sem que possa se manifestar.

Assim, como disse acima, nasce a figura do torcedor “clandestino”, uma espécie de “rival camuflado”. Sim, porque de acordo com o Ministério Público, o torcedor visitante não terá mais um setor reservado. Terá de sentar, no caso específico, em meio aos atleticanos na arquibancada.

É realmente algo novo, até difícil de entender. Veja bem: o torcedor do Cruzeiro paga o ingresso de R$ 60 (no Brasileirão é R$ 100 na Baixada) e, simplesmente, não pode torcer! Não pode ir de camisa, não tem um setor reservado para ficar com os seus. Resumindo, só pode pagar. E ficar quieto.

Tudo isso sob aquele argumento da “volta das famílias”. Claro. Essa é sempre a carta na manga para qualquer intenção, por mais estapafúrdia que seja. Afinal, quem seria contra as famílias? Mas não há dados confiáveis, não há bons argumentos, não há, sequer, uma discussão. Só imposição.

Não será surpresa se voltarem as confusões dentro do estádio. Se explodirem focos de briga na Arena da Baixada. Seria terrível, claro. Mas é algo até previsível. Não se trata de justificar (não há justificativa para a violência), mas o futebol é um esporte que mexe com as emoções de todos.

E, reforçando, é uma modalidade que não existe. Na Champions League, a disputa mais prestigiada do mundo, de ingressos caríssimos, há setores para receber os visitantes. Na Copa do Mundo, não há divisão, mas as torcidas dos países costumam se concentrar na arquibancada.

O que o Ministério Público do Paraná quer é algo que atenta contra a cultura do futebol. Da disputa no campo que alcança as arquibancadas, com cada torcida apoiando o seu time, no grito, unida em um setor específico. Como sempre foi. E como sempre deveria ser.

Tentar misturar, à força, torcedores do time da casa, caracterizados com as suas cores, e torcedores visitantes, que terão de esconder sua paixão, é uma jogada de alto risco. E essa previsão é nada além do óbvio. Resta aguardar e ver no que vai dar na prática. Tomara que nada aconteça.

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