“Eu acredito nas boas intenções
Mas este papo já encheu os meus culhões.”
(Camisa de Vênus)
Faz alguns anos, o lema “a esperança venceu o medo” fez-se ouvir. Representou uma gradual mudança de uma visão mais liberal (direita) do Estado e da economia para uma mais igualitária (esquerda). Destacam-se dois fatores que impulsionaram a mudança: escândalos de corrupção; dificuldades governamentais de se promover o crescimento econômico com igualdade de oportunidades.
Mas, boa parte das pessoas que superaram o “medo”, e deram a vitória ao projeto igualitário, defrontam-se com os mesmos problemas que as levaram a mudar de perspectiva. A esperança parece ter derruído (corruptio optimi péssima est).
Qual cenário se apresenta agora? De um lado, tem-se os desesperançados. De outro, os crentes (na política).
O desesperançado radical em nada crê, não perde tempo com utopias. Alguns são profetas do apocalipse e pregam o fim dos tempos políticos. Outros, para não se consumirem no fel, preferem as amenidades, ignorando os assuntos públicos. Buscam a satisfação das necessidades pessoais e familiares e torcem para as agruras da vida não lhes atingir.
Os crentes ainda acreditam num mundo melhor. Nesse grupo, estão os “insistentes”, os que “esperam um milagre”, os que querem “o passado de volta” e os que buscam a “terceira opção”
Os “insistentes” são conservadores, e acreditam que apesar dos erros do Governo, é melhor que as coisas continuem como estão. Afinal, dizem eles, as outras alternativas não são mais animadoras e realistas que as atuais.
Os que “esperam um milagre” acreditam que alguns seres humanos sábios e probos (iluminados por alguma força divina, que os obriga a cumprir disciplinadamente uma missão maior) deveriam tomar o poder e conduzir a política, mesmo que isso significasse o fim da democracia. Guardianias em geral trabalham com esse pressuposto.
Os que querem “o passado de volta” acreditam que o Governo anterior, ao menos, é melhor do que se tem hoje. Sentem saudades dos ventos liberais, da estabilidade econômica, da segurança jurídica, da flexibilidade dos direitos trabalhistas, etc.
Os que buscam a “terceira opção” dividem-se em (neo)republicanos, (neo)utilitaristas, neoliberais de direita e de esquerda, socialistas liberais, comunitaristas, anarquistas, feministas e tantos outros.
Para os descrentes a pergunta: para onde vai a política (?) não faz sentido. Mas, para os crentes sim. E, para estes, não há uma escolha fácil, já que boa parte da discussão política gira em torno do tema “corrupção”, de maneira que boa parte das pessoas deixaram de prestar a atenção na “reformas institucionais” que poderiam elevar a qualidade da política.
Ou seja, a discussão sobre a “corrupção” (que é indispensável) está a ofuscar outros temas de interesse público. Usualmente, vincula-se (com razão) a corrupção ao quanto de impostos cada um poderia deixar de pagar, caso a improbidade inexistisse. Mas, o tema reduz-se a um ponto de vista individualista, de como a corrupção afeta o patrimônio de cada contribuinte. Pouco se faz, porém, quanto às necessárias melhorarias institucionais.
Nesse sentido, a grande questão é: como pensar como cidadão (e não só como contribuinte) num cenário político em crise? A corrupção terá vencido qualquer possibilidade de esperança na política? Sobrou apenas o medo? Ou, é tempo de se envolver e pressionar as instituições para que abandonem o confortável marasmo?