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Dicas a colegas jornalistas ao se referirem a pessoas transexuais

Atriz namora ator cisgênero assumido (FOTO: reprodução do Facebook) (Foto: )

Quando se referir a uma mulher transexual – isto é, uma pessoa que nasceu com características sexuais masculinas, mas se identifica com o gênero feminino – refira-se a essa pessoa no feminino. É uma mulher, independentemente de ter feito cirurgia de redesignação sexual ou não.

Quando se referir a um homem transexual – isto é, uma pessoa que nasceu com características sexuais femininas, mas se identifica com o gênero masculino – refira-se a essa pessoa no masculino. É um homem, independentemente de ter feito cirurgia de redesignação sexual ou não.

Já cansei de ver matérias em que pessoas transexuais são tratadas pelo gênero errado, apesar da boa vontade das pessoas entrevistadas em enfatizar como preferem ser tratadas (como se fosse necessário).

É um dos papeis da imprensa: educar. Principalmente considerando que, segundo nossos legisladores, não é papel da escola educar sobre gêneros.

Outro debate interessante para o qual peço ajuda às pessoas transexuais que leem este post é saber encontrar um balanço entre visibilidade, de que as pessoas transexuais precisam na sociedade, e excesso de demarcação, como se elas não quisessem outro motivo para reconhecimento, como seus talentos e potenciais.

Ontem li um artigo sobre um suposto namoro entre Keanu Reeves e a atriz Jamie Clayton, da aclamada série Sense8, do Netflix.

O artigo, já corrigido, chamava a atenção para o fato de Jamie ser transexual, sem sequer citar o nome da artista.

Em um dos comentários, alguém chamava a atenção para o fato de que é comum que as mulheres, por mais talentosas, apareçam a tiracolo dos homens nesse tipo de manchete e, agora, no caso de Jamie Clayton, nem isso: apenas a sua transexualidade apareceu.

Para entender o quanto isso é inaceitável, alguém  bolou a seguinte manchete, que inverte os valores:

Atriz namora ator cisgênero assumido

Atriz namora ator cisgênero assumido: observe o ar confiante de Reeves apesar de ser cisgênero (FOTO: reprodução do Facebook)

Caso você não saiba o que é cisgênero: é a pessoa cujo gênero é o mesmo designado por suas características sexuais quando de seu nascimento.

Em outro comentário, alguém observou que a matéria, da maneira como estava escrita, era homofóbica. Também não é o caso. Homofobia se refere a relacionamentos entre pessoas do mesmo gênero. No caso, poderia ser transfobia, pois se trata do relacionamento entre um homem e uma mulher.

Parece-me errado, de fato, referir-se a um relacionamento entre Keanu Reeves e Jamie Clayton de uma forma como se fosse necessária a aprovação de pessoas cisgêneros famosas e carismáticas para aceitarmos a existência das pessoas trans. E de uma tal maneira que ela parece deixar de ser uma pessoa e passa apenas a ser sua condição de gênero.

Por outro lado, não estou certo de que este seja o momento de simplesmente ignorarmos o fato de que Jamie Clayton é transexual, uma vez que a sociedade insiste em não reconhecer a presença dessas pessoas em seu meio.

Convém encontrar um equilíbrio entre a visibilidade e o excesso de demarcação quanto à identidade sexual das pessoas.

De outro modo, talvez o jornalismo continue a errar os pronomes com que se refere às pessoas transexuais masculinas e femininas.

Mas, acima de tudo, deixo os comentários abertos para sugestões às pessoas a quem esse tema mais interessa, as transexuais.

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