Passava sempre ali na frente e achava muito acolhedor. Combinava comigo mesmo que qualquer hora dessas iria parar e entrar, mas o tempo vinha atropelando tudo e não permitia. Quando decidi chegar dei de cara com o aviso de férias, com retorno assegurado para os últimos dias de janeiro.
Até que chegou o dia e o quadro-negro ali fora informava novidades no cardápio. O Quaranta estava reaberto e pronto para novamente receber seus clientes. Dentre os quais me incluí, entre o curioso e o interessado.
Quaranta Bistrô é o nome oficial. E com todo o direito de ser mesmo classificado como bistrô. Porque para alguns locais a denominação é só um enfeite, uma forma de agregar uma classificação que nada tem a ver com o ambiente. Já o Quaranta é regido pelo espírito do bistrô. Casa pequena (apenas 26) lugares, cardápio bem enxuto, mas irrepreensível. E um ambiente tão simples quanto aconchegante, atendido por três garçonetes muito bem informadas sobre os produtos que estão oferecendo.
Quaranta é a transformação do desejo em realidade para o jovem chef paulistano Adriano Quaranta, que tem na família uma ligação de décadas com o universo da gastronomia e que, por conta disso, abraçou a carreira com muita paixão. Com formação numa das melhores escolas do mundo, concluiu o curso Grand Diplôme de Cuisine et de Pâtisserie na escola Le Cordon Bleu de Paris e trabalhou em renomados restaurantes da França, com estrelados chefs do gabarito de Jean-Christophe Rizet, do restaurante La Truffière, e Philippe Excoffier, que depois de trabalhar por mais de uma década na embaixada americana na França, hoje possui seu próprio bistrô, que leva seu nome.
Das oito opções de entrada do cardápio, optamos por duas delas. Primeiro a Salada Quaranta (R$ 22), que é um mix de folhas com fatias de pera cozida e flambada e arrematada com um delicado pesto de hortelã. Em seguida o que consta ser um dos hits da casa, Camembert trufado (R$ 30), uma peça inteira de queijo camembert, empanada e servida com mel trufado e torradas. Dá muito bem para ser dividido para duas pessoas.
Daí decidimos por um prato entre os pescados e outro entre as carnes. Passamos por cima das cinco propostas de massas e risotos, embora as opções sejam tentadoras. Principalmente o Fettuccine all’uovo al tartufo nero (R$ 35), que é a massa fresca de fettuccine salteada com ovos e trufas negras, e o Risoto de mascarpone (R$30), um risoto de queijo mascarpone com tomate-cereja, manjericão e amêndoas.
Entre as cinco opções de pescados havia badejo, robalo, camarão e salmão. Mas ficamos com o Polvo (R$ 48). Apenas polvo, que é como está no cardápio, que prima justamente pela simplicidade na sugestão dos pratos, sem os delírios que caracterizam alguns restaurantes da moda, com enormes denominações para os itens do menu. Aqui, no caso, são tentáculos de polvo preparados à provençal, acompanhados de batata souté e tomate confit. O polvo passou com louvor no teste de textura, bem macio (ao contrário de alguns chicletudos que se encontra por aí), tanto quanto saboroso, pois o tempero provençal valoriza muito o prato, sem roubar sabor do ingrediente principal.
Entre as aves e carnes são seis escolhas. Cordeiro, confit de frango (que parece ser bem interessante, pois coxa, sobrecoxa e asa de frango caipira são confitadas na gordura, servidas com purê de feijão branco e quiabo ao molho demi-glace), magret de pato, bife ancho e um Bife de chorizo Black Angus que já vem com uma observação no próprio cardápio: “Carne servida somente no ponto do chef”. Ou seja, não adianta insistir que não vai ter carne bem passada. O padrão de qualidade da casa não permite correr risco de torrar uma peça de carne e comprometer seu resultado final. Ótima decisão.
Pois dessas opções a que nos chegou foi a do Jarret de vitelo (R$ 45), o ossobuco de vitelo cortado em cubos, com legumes e cogumelos. Macio, praticamente se desmanchando, vem servido numa simpática panelinha, acompanhado de arroz pilaf.
De sobremesa, primeiro um Crème brûlée de doce de leite (R$ 15) e um Soufflé au citron (R$ 20), um delicado suflê de limão siciliano, servido com sorvete Haagen-Dazs vanilla. E, aí sim, para encerrar, um irresistível Pain perdu (que é a interpretação francesa da rabanada portuguesa, esta de brioche – R$ 18), com uma rodela de abacaxi caramelizada no mel e um sorvete Haagen-Dazs de vanilla. Perfeito, fecho de ouro.
O Quaranta tem uma carta de vinhos pequena, mas bem distribuída entre as castas e os países. Mas a casa não cobra taxa de rolha, o que permite ao interessado levar o vinho que desejar para degustar no local. Há também algumas cervejas importadas, outras nacionais (não muitas), destilados, sucos e algumas variações de caipirinha.
Pelo ambiente, pelo estilo e pelo que propõe, pode muito bem ser opção de happy hour (embora só abra a partir das 19h30), mas o melhor mesmo é poder jantar se sentindo praticamente em casa, tal a simpatia das garçonetes e principalmente de Adriano Quaranta, a todo instante pelo salão, acompanhando de perto o consumo de seus clientes. Na cozinha, o chef conta com o auxílio de mais três cozinheiros muito bem entrosados com a proposta da casa – e mais que isso não caberia mesmo no pequeno espaço, pois, afinal de contas, trata-se de um bistrô.
E que bistrô!
(Ah, sim, funciona de terça a sábado, somente à noite)
Quaranta Bistrô
Avenida do Batel, 1700 – Batel
Fone: (41) 3027-0065
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