Foi o Alexandre Bressanelli quem me deu o toque, na noite da festa do Prêmio Bom Gourmet. Preste atenção na rotisseria que duas meninas abriram ali no Batel, é tudo muito bom – alertou, com o conhecimento de quem participou da concepção de alguns pratos, do conceito da casa.
Bressa é um profissional a quem respeito muito. Não só como cozinheiro, mas principalmente como mentor de novos empreendimentos, de novos produtos, pois conhece os meandros e os atalhos como ninguém. E quando avaliza algo de novo que surge no mercado gastronômico dá para assinar em baixo, no escuro. Foi o que fiz.
Como sou curioso, ansioso e não consigo guardar muito tempo sem comprovar as novidades que me dizem, apareci por lá, para conhecer o Ragú Rotisseria & Co. A primeira impressão foi muito boa. Uma casa bonita, restaurada em cores vivas na pintura e uma entrada para estacionamento (ótimo sinal, estacionamento hoje é fundamental para uma proposta assim).
O ambiente interno é rústico, interessante, os pratos do dia estão descritos na parede em forma de quadro negro, há produtos expostos na prateleira, de vinhos a geleias, de massas a doces os mais variados.
Mas o que pega mesmo são as criações da casa, que vão desde massas (abertas ou recheadas) e molhos até bolos e tortas, passando por carnes as mais distintas. E aí, quando conversava com a Flávia, uma das proprietárias, que veio a agradável surpresa. Sabia que eram duas irmãs que tocavam o negócio, perguntei como aguentavam o pique de atendimento diário até as 20h e domingos até 14h. Ela me disse que tomava conta das vendas e da administração e que a irmã dominava a cozinha. Ah, sim, e como ela se chama? Fernanda Zacarias, aquela que ganhou o Desafio do Chef de 2011, promovido pelo Bom Gourmet – foi a resposta.
Lembrava bem dela, apresentou um bom prato, um mil folhas com legumes, que os concorrentes, maus perdedores, quiseram impugnar, alegando já terem visto coisa parecida por aí (e o quê na cozinha não é parecido com o quê?). Ganhou o prêmio, também com o meu voto, veio o curso, o peso dela em vinhos da Porto a Porto e tratou de encarar o novo desafio. A advogada de então passava a comandar panelas. Lembrei-me de uma passagem dela pelo Ernesto Ristorante, depois pelo Zea Maïs e daí uns tempos não ouvi mais falar (soube depois que fazia um curso de gastronomia em importante escola da Itália).
Até que veio essa conversa de agora. Ela se preparou para o próprio empreendimento e dividiu com a irmã toda a responsabilidade da concepção, com os conselhos do experiente Bressanelli, imbatível na área. Há pouco mais de duas semanas abriram o Ragú, que oferece massas prontas e molhos para serem finalizados em casa, mas também uma boa gama de pratos prontos, quentes, que entram no cardápio de dias em dias. Nos fins de semana, principalmente. E, como não poderia deixar de faltar, há o frango assado recheado (não pude constatar, não fui no domingo), que já vem fazendo freguesia entre os moradores próximos, animados pela abertura da casa.
A proposta tem muito a ver com o que vem acontecendo nas outras grandes cidades, com pontos e rotisserias a atender a vizinhança, naquela relação de confiança entre os próximos. O cliente tanto pode comprar para o almoço de daqui a pouco quanto para manter no freezer para um momento apropriado. E se a situação apertar no fim do dia, com visitar inesperadas em cima da hora, é só passar por lá e garantir o jantar.
No dia que fui lá, além dos produtos prontos de massas e molhos, havia, no balcão, ofertas de antepastos (e aí a cozinha italiana prepondera) como pimentões assados, abobrinha grelhada, sardella, tomates secos, berinjela e outras atrações. Entre os quentes, uma Costelinha de porco glaceada com rapadura que se desmanchava ao toque do garfo. E um nhoque de batata salsa (mandioquinha) macio, a se perceber o uso quase nulo de farinha de trigo, evidenciando toda a consistência da batata por ela só. Com um molho de tomate rústico irrepreensível.
E isso porque não levamos o Polpettone, a grande estrela da companhia, segundo Flávia. Mas levaremos em breve, pode apostar.
Compramos mais coisas para o que ainda der e vier em refeições futuras. Pagamos pouco mais de R$ 120. O preço é bom, competitivo, bem de acordo com a qualidade dos produtos e com a mão da cozinheira. A proposta é a renovação permanente do cardápio do dia a dia, conforme os ingredientes de estação ou as propostas do mercado.
Mas aí, seja como for, já dá para apostar no escuro. O que vier pela frente, pelas mãos das duas moças, será, certamente, de primeira qualidade. Resultado de inspiração, cuidados com os ingredientes e um preço justo, de acordo com o que for utilizado.
Vale a visita, pelo carinho do atendimento da Flávia e pelos sabores propostos pela Fernanda. Depois da primeira vez, difícil ficar sem voltar e virar freguês.
Ragú Rotisseria & Co.
Rua Francisco Rocha, 533 – Batel
Fone: (41) 3019-0711
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