É tudo muito ardiloso, na surdina. Primeiro vem um e-mail dizendo da preparação para um jantar a ser realizado nos próximos dias, com local e cardápio desconhecidos. Uma surpresa que só se elucidará algumas horas antes de sua realização. Aceita o convite?
É uma trama que ramifica pelos quadrantes do continente. Consta ter iniciado em Paris, onde jovens cozinheiros sem restaurante começaram a fazer refeições especiais para convidados. Na falta de local, na própria casa ou na casa de algum conhecido. E a moda foi se espalhando, a ponto de alguns exageros como de os comensais serem transportados em carros com vidros totalmente bloqueados para não saberem o destino.
No nosso caso não é tanto assim. Mas a aura de mistério permanece, o que só instiga o paladar e a curiosidade. No comunicado que recebi vinha a explicação. “Uma experiência única. Um convite aos sentidos. Pessoas reunidas pelo amor à boa mesa. Esta é a proposta da Trama Gourmet, trazida por quatro amigos que decidiram compartilhar combinações felizes de gastronomia, enologia e arte. Convites exclusivos são feitos a pessoas conhecidas, que são recebidas em uma residência particular para um banquete em estilo menu confiance, em seis tempos, onde cada prato é acompanhado de um vinho criteriosamente escolhido, visando à perfeita harmonização”.
A Trama Gourmet pretende valorizar o serviço informal em um ambiente aconchegante, sem abrir mão da qualidade. O conceito de rede social também está presente: os convivas de cada banquete passam a integrar a Trama Gourmet e conquistam assim o direito de indicar novos convidados para os próximos encontros. Somente quem é indicado por um membro da rede (um ponto da trama) pode participar do próximo jantar. Os convites e as reservas são feitos por e-mail e o local só é revelado mediante o pagamento da taxa de adesão àquele jantar.
“A Trama Gourmet pretende pôr em contato pessoas interessadas nos prazeres da comida e do vinho, num ambiente reservado, e propiciar a elas momentos inesquecíveis de gourmandise em experiências gastronômicas únicas” – explicam os organizadores, a chef Ana Spengler (que já foi da Vinothèque e ainda hoje faz alguns eventos para a Adega Brasil), mais André de Souza, Nilo Biazzetto Neto e Simone Biazzetto.
A trama
Preenchemos todas as formalidades, recebemos instruções e lá fomos nós para a aventura gastronômica. Fomos parar em uma bela casa em Santa Felicidade, simpaticamente recepcionados por Simone e apresentados aos demais convidados, de profissões das mais variadas. André gentilmente nos serviu o espumante de boas-vindas, enquanto da cozinha vinha o aroma das surpresas que Ana e Nilo (sim, o premiado fotógrafo também tem um pé na cozinha, não fosse ele irmão do Marcus Biazzetto, um dos proprietários da Salumeria) estavam preparando. Menu Confiance, com todos os predicados.
Valia a recomendação: chegar a partir das 20h, pois às 20h45 os pratos começariam a ser servidos alguém que se atrasasse não teria chance com os pratos servidos anteriormente. E assim, pontualmente, começou o desfile de atrações. A primeira entrada foi um Couscous marroquino com camarões, acompanhado do espumante que já estávamos bebendo, o italiano Villa Sandi Il Fresco Rose.
Em seguida, ainda como entrada, um interessante Rocambole de damasco com queijo e nozes e mini salada, que ganhou a companhia de um vinho branco israelense, o Yarden Mount Hermon (palavra que anotei a uva, mas agora não encontro), de um frescor cativante e que se deu muito bem com o agridoce do prato.
Veio o primeiro prato, uma delicada Trouxinha de salmão ao curry, harmonizada com o alemão Anselmann riesling spätlese trocken, de amarelo brilhante, com pera e maçã no aroma e elegante acidez, na medida para o molho ao curry (sem se sobrepor) que cercava a trouxinha.
Depois, na taça, chegou um português, Muralhas, vinho verde para recepcionar o Mil folhas de bacalhau, combinando o sabor do peixe com pimentões micropicados com a fina massa folhada.
O prato de carne exigiu um Caparzo Rosso di Montaltino, 100% Sangiovese e altamente gastronômico, como a uva sugere. Seco, generoso e bem equilibrado, na medida para escoltar o Medalhão de filé ao ragu de cogumelos, risoto de alho-poró e aspargos salteados. Carne no ponto certo, tostada por fora, vermelhinha por dentro. No risoto, o alho-poró de sabor bem discreto, sem tomar conta do arroz. Tudo na medida.
Para a sobremesa, uma das especialidades da chef Ana Spengler (fiquei sabendo ali), cheesecakes. E ela apresentou justamente três de uma só vez: Trio de cheesecakes, de frutas vermelhas, de gengibre com pera em calda e de lemon curd. Que foram servidos na companhia de um vinho de sobremesa tunisiano, o Passion de Magon Muscat Late Harvest.
Valeu a pena, a trama toda funcionou a nosso favor. O próximo encontro está marcado para o dia 22 de abril, novamente com seis pratos, todos harmonizados com vinhos. E os convidados serão pessoas ligadas aos que compareceram à primeira reunião, que sugerem nomes de gourmets… e assim por diante, até que a lista dos confrades cresça bastante a cada mês. O valor fechado por pessoa é de R$ 200, com direito ao cardápio completo, vinho e águas.
À medida que vão sendo convidados, os membros da Trama Gourmet são numerados e passam a integrar o mailing mensal, podendo voltar ao jantar a qualquer momento. Fica, portanto, no ar, a expectativa de quem estará no segundo grupo e onde será realizado o jantar.
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