Foi uma das tônicas da campanha presidencial norte-americana: a candidata democrata, Hillary Clinton, acusava o oponente republicano, Donald Trump (eleito presidente dos Estados Unidos), de “estimular os grupos de ódio”. Não é para menos, o magnata já soltava pérolas como “[os mexicanos que atravessam a fronteira] trazem drogas, são estupradores” antes mesmo de ser oficializado na disputa.
Coincidência ou não, um dos grupos de ódio historicamente mais atuantes nos Estados Unidos, a Ku Klux Klan (KKK), declarou seu apoio ao empresário e apresentador de tevê em fevereiro (a despeito de suas raízes políticas, uma questão bem mais complexa). O fato é que Trump não rejeitou e foi, com justiça, criticado.
A KKK foi responsável por várias mortes durante seus mais de 150 anos. Não há consenso sobre o número exato, mas um estudo de 2015 da Iniciativa de Justiça Igualitária do Alabama aponta que cerca de 3.900 negros foram mortos — isso somente entre 1877 e 1950 e sem contar outros grupos atacados pelos “klansmen”, que espalhavam o horror com túnicas brancas e cruzes em chamas.
E hoje?
Mas qual é a representatividade destas facções em solo norte-americano hoje? Está longe do que já foi (nos anos 1920, cerca de 10% da população dos EUA participava de alguma forma da KKK). Mas, infelizmente, dados de uma ONG que se dedica a monitorar os grupos de disseminação de ódio mostram uma tendência de crescimento.
A Southern Poverty Law Center (SPLC) diz que existiam, até o começo de 2016, 892 grupos ativos — incluindo nessa conta supremacistas brancos, antissemitas, anti-imigrantes, separatistas negros e neonazistas, por exemplo. No começo de 2014, eram 784.
O crescimento foi de 14% e a faixa em que a situação é mais tensa é de anti-islâmicos — cresceu 42% o número de grupos de ódio contra muçulmanos.
Para a SPLC, Hillary tinha razão. “As declarações de Trump demonizando latinos e muçulmanos inflamaram a direita radical (…). Fóruns de supremacia branca chegaram a apelidá-lo de ‘glorioso líder’. E Trump aceitou os cumprimentos, retweetando mensagens raivosas”, descreve o relatório da entidade.
Foi o primeiro crescimento em três anos e, justamente, no período entre o anúncio da pré-candidatura de Trump e sua consolidação.
Migração
O “efeito Trump” ajuda, mas não explica sozinho a escalada da intolerância nos EUA. É que a curva é ascendente desde o fim dos anos 1990. Em 1999, existiam pouco mais da metade dos grupos atuantes hoje: eram 457. Para os especialistas da SPLC, a explosão nos últimos 16 anos se explica pelo aumento da migração de latinos e as projeções de que até 2040 os Estados Unidos não serão um país majoritariamente branco.
Os números podem ser ainda piores, pondera a Southern Poverty Law Center, já que outros grupos podem estar escondidos atrás de páginas de internet difíceis de serem monitoradas – nos rincões da deep web… Leia o relatório completo (em inglês).
Top 5 do horror
Veja quais são os principais grupos de ódio nos EUA, de acordo com a ONG:
Ku Klux Klan: 190 grupos ativos
Separatistas negros: 180 grupos
Nacionalistas brancos: 95 grupos
Skinheads racistas: 95 grupos
Neonazistas: 94 grupos
***(Este post foi originalmente publicado em 4 de outubro e atualizado em 9 de novembro)