A crítica cultural nunca esteve tão descolada da indústria. Mea culpa: escrevemos, basicamente, sobre produtos dos quais gostamos. É um privilégio conquistado, mas que reflete bolhas de consumo, às vezes traduzido como preconceito cultural.
Por outro lado, a carreira de um jovem cantor sertanejo se constrói sozinha, sem a necessidade de legitimação por parte da crítica. Há uma indústria paralela que se apropriou do gênero outrora ingênuo, caipira, e muito, muito público. Isso faz a roda do rodeio andar. Na lista de álbuns com mais downloads no iTunes, diz matéria do El País, cinco dos 15 são de música sertaneja. Não conheço nenhum. Talvez você também não.
Se os comentários sobre Paul (73 anos, um dos maiores músicos do planeta) denotam simplesmente ignorância, o desconhecimento sobre quem é Cristiano Araújo (29 anos, autor de “Bará, Berê”), para além de questões musicais e estéticas, revela a força brutal da indústria sertaneja do entretenimento (gravadoras, programas de tevê, publicidade específica, casas do ramo). Porque, como disse uma colega de jornal, não é tão fácil assim fazer alguém famoso depois de morto.