A cover photo do músico Francisco Bley (guitarra e voz) no Facebook é a capa de Turn on the Bright Lights, pequena obra prima do Interpol. Lorenzo Molossi, o baterista, é dono de um dos projetos mais interessantes de Curitiba nos últimos tempos, como explico aqui. Seu heterônimo François Veenstra bebe de The Microphones e Explosions in the Sky para criar um espaço-tempo próprio e original, que se resume ao ótimo disco Six Months of Death, lançado no início do ano. Ao lado de Guilherme Nunes (guitarra) e Enzo Vidotti (baixo), os dois fazem parte da Dunas, banda cujo nome se inspira em Dune, filme de ficção científica lançado por David Lynch em 1984 – na trilha sonora há a gostosa confusão de Toto e a genialidade etérea de Brian Eno.
Apresentadas de antemão, essas credenciais são suficientes para um sujeito de bom gosto ao menos se interessar por ouvir o recém-lançado EP do grupo, gravado no Nico’s Studio, em Curitiba, e lançado ontem à noite no site da banda.
A Dunas, pois, é aquele caso cada vez mais raro de pop não acomodado. Num primeiro momento, o que mais chama a atenção é a guitarra de Guilherme Nunes: em maio a um rock rápido e enxuto, bem britânico, na verdade, ela quase sempre encontra um atalho diferente, surpreendente, que remete tanto ao shoegaze quanto ao pós-rock. Perceba isso em “Gregário”, a primeira faixa.
“Vírus”, faixa que ganhou o clipe abaixo, também lançado ontem, segue a mesma lógica. Mas a melodia torta, algo estranha, só se encontra no refrão, que resolve tudo de forma não muito otimista: “De repente essa gente ficou tão sem sal.” A música ganha um peso surpreendente em suas bridges instrumentais, e o trabalho da guitarra de Nunes novamente chama a atenção.
O começo de “Tempestade” — no fundinho, ouça bem — é puro Interpol. A música mais suingada do EP apela para a força do baixo, e alterna entre momentos eufóricos e calmaria, sempre, desculpe a insistência, com uma guitarra interessante dando as caras.
“De Alguém Que Ficou Para Alguém Que Fugiu” é a faixa mais bem trabalhada. A voz principal ganha a resposta de backings que poderiam muito bem ter saído de espíritos perdidos. A variação de peso e ritmo, embora lute com a melodia arrastada, fazem a música ter aquele algo a mais, que significa potencial e exibe as boas influências de forma mais direta, algo que eleva a Dunas um degrau acima no rol de bandas “pop com bom gosto.”
“A História”, última faixa, já estava presente no primeiro EP da banda. Redondíssima e sem firulas, a música tem potencial para hit quando um álbum cheio surgir. Porque, ao carregar tantas boas influências e lançar um EP digno assim, a Dunas, mais do que provar algo para alguém num primeiro momento, precisa mesmo é ir longe.
